Maria Rita Kehl comenta “O capitalismo como religião”, de Walter Benjamin



A Boitempo acaba de lançar O capitalismo como religião, livro inédito de ensaios do filósofo alemão Walter Benjamin (1892 – 1940). Com organização de Michael Löwy, um dos maiores estudiosos brasileiros de Benjamin (autor deWalter Benjamin: Aviso de incêndio), a obra integra a Coleção Marxismo e Literatura, coordenada por Leandro Konder e pelo próprio Löwy. A edição conta ainda com textos de Jeanne-Marie Gagnebin e Maria Rita Kehl.

A versão eletrônica (ebook) já está à venda nas livrarias Saraiva, Travessa eGoogle Play, dentre outras.

Confira abaixo o texto de orelha escrito por Maria Rita Kehl:

A seleção de textos feita por Michael Löwy para a presente coletânea obedece a um critério pouco evidente em uma primeira abordagem. Aqui se encontram tanto excertos de obras de escritores alemães do passado quanto ensaios que retomam o interesse de Walter Benjamin pelo romantismo e pelo drama barroco. Uma reflexão conduzida na forma de diálogo com um interlocutor fictício, ao estilo dos românticos de Jena, problematiza a religiosidade em “nosso tempo”. A questão de fundo são os grandes valores espirituais do judaísmo, ameaçados pelo ambiente antissemita na Alemanha antes da Primeira Guerra Mundial.

O discurso “Romantismo”, escrito em 1913 e nunca proferido, exalta o que Benjamin esperava que fossem as qualidades da juventude à qual se dirigia: “vontade romântica para a beleza, vontade romântica para a verdade, vontaderomântica para a ação”. O artigo sobre o Instituto Alemão de Livre Pesquisa, escrito em 1937 para a revista conservadora Maß und Wert (que não o publicou), esclarece a diferença entre a teoria crítica e o pragmatismo em voga nos Estados Unidos, onde Theodor Adorno e Max Horkheimer encontravam-se exilados.

A unidade dos textos se explica especialmente a partir do ensaio-título escolhido por Löwy, “O capitalismo como religião”. Embora a palavra não se encontre nele, o texto ilumina o sentido da melancolia benjaminiana: a sensação de que a ação política, assim como as outras dimensões da vida, estaria dominada pelo culto permanente, sans revê et sans merci, da vida sob o capitalismo. Desde aorigem do drama barroco alemão até as teses “Sobre o conceito de história”, passando pelo ensaio sobre Baudelaire, Benjamin entendeu a melancolia como efeito da anulação da potência política do indivíduo e sua classe social. A “coloração religiosa” que o capitalismo imprimiu ao utilitarismo parece anular a perspectiva de transformação histórica. Daí a seleção de registros de experiências pré-capitalistas, assim como de textos que revelam o espanto de vários escritores diante da devastação em curso nos séculos XVIII e XIX: é no passado que Benjamin vai buscar indícios de diferença capazes de contradizer sua própria visão sombria do futuro, expressa na frase “que tudo ‘continue assim’, isto é a catástrofe”.


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