“O estuprador é você”, o potente hino feminista nascido no Chile ecoa no mundo: França, Espanha, México, Estados Unidos, Canadá, como podem verificar nos vídeos abaixo.

Este acima é muito especial. As mulheres do bravíssimo povo indígena mapuche, do Chile, fazem o ato “Um estuprador no teu caminho” .

No século XVI, o povo mapuche lutou contra a invasão do território latino-americano pelos espanhóis e pela autonomia de suas terras.  Durante a o governo do sanguinário general Augusto Pinochet (1973-1990), 171 foram indígenas mapuche foram assassinados pela ditadura militar chilena.

A versão na língua mapudungun, dos mapuche, é de arrepiar. 

QUEM É O VIOLADOR?
por Cláudia Pereira Dutra*, especial para o Viomundo

A emocionante manifestação das mulheres chilenas repercutiu no Brasil e em outros países. Com foco na denúncia do poder patriarcal, é um manifesto à resistência.

Quem é o estuprador?

Aquele que agride, abusa, reprime, mata, viola direitos; são todos que culpam a mulher violentada e não o estuprador; é o Estado que reproduz a violência constitutiva da ordem patriarcal.

O refrão do manifesto é contundente, é a denúncia do estupro para além das dimensões mais perceptíveis da agressão física e ataque à dignidade.

É a violência sexual vista como meio da reprodução dos padrões de gênero estabelecidos.
Conceito que Rita Segato, assim sistematiza:

“La violación no es un crimen sexual; es, más bien, un crimen expresivo, por un medio sexual.”
O movimento traz elementos do que Boaventura Santos concebe como condições para uma política contra-hegemônica de direitos humanos.

A contextualização é articulada de tal forma que a denúncia do estupro aponta para o autoritarismo que se impõe com a ofensiva neoliberal e o reaparecimento do fascismo, aprofundando as violações.

E, como um “globalismo insurgente”, o movimento expõe a engrenagem do “Estado opressor”, que alimenta o ódio às mulheres e elimina direitos, em total submissão ao mercado.

São reflexões fundamentais para a compreensão dos conflitos atuais, em que:

* as mulheres são alvos da investida fundamentalista que acirra conflitos morais e tem como um dos objetivos centrais a criminalização das políticas de gênero;

* o Estado deixa de ser promotor e protetor dos direitos das mulheres e passa ser o violador;

* a naturalização da violência estimula o estupro, historicamente usado como punição às mulheres e afirmação da masculinidade violenta.

No Brasil, a resistência ao poder violador que avança passa pelo enfrentamento do “bolsonarismo”.

A identidade do “macho violador” é reforçada pelo próprio presidente que cultua tortura, armas, reverbera preconceitos, misoginia, homofobia e outros discurso de ódio, e usa o estupro (ou ameaça dele) para produzir masculinidade tóxica e obsessiva.

*Claudia Pereira Dutra é professora, militante dos Direitos Humanos e ex-secretária da Secretaria de Educação Especial/MEC e da Secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão/MEC, nos governos Lula e Dilma






Viomundo

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