Obama pode ser prejudicado se insistir muito no tema Bin Laden (Jason Reed/Reuters) |
Seth Meyers, o homem que todas as semanas goza com a política americana no Saturday Night Live, disse no recente jantar dos correspondentes da Casa Branca que o único candidato capaz de derrotar Obama em 2012 é... Obama 2008. Era uma piada (o Presidente riu-se), mas na última semana Obama 2008 pareceu estar presente em dois discursos: na injecção de ego que o Presidente deu às tropas e ao país há uma semana, numa base militar em Kentucky ("Não há nada que não possamos fazer juntos quando nos lembramos do que somos"); e no Texas, onde relançou o tema explosivo da imigração, e o seu lema "Yes we can" reemergiu, por momentos. Chuck Todd, correspondente da NBC na Casa Branca, escreveu no Twitter que desde que Obama começou a preparar a sua reeleição, o discurso sobre a imigração foi o que soou mais como "campanha".
Depois de meses de contrariedades e pessimismo - o défice, a dívida, uma nova guerra (na Líbia), o desemprego, a subida do preço dos combustíveis - não há dúvidas de que o sucesso da operação que eliminou Bin Laden trouxe um novo impulso de confiança à Casa Branca. A operação teve um efeito imediato nas sondagens: 60 por cento dos americanos aprovam a actuação de Obama, segundo uma sondagem da Associated Press; desde há dois anos, ou seja, desde o início da sua presidência, que a opinião pública não era tão favorável a Obama. Alguns colunistas tiveram uma reacção igualmente pavloviana, proclamando que a reeleição de Obama, a partir de agora, era altamente provável.
A conservadora Fox News, em particular, acusou a Casa Branca de oportunismo eleitoral quando Obama visitou o Ground Zero dias depois da morte de Bin Laden e quando discursou sobre o tema da imigração no Texas, na terça-feira. Nesse mesmo dia, numa recepção privada em Austin destinada a recolher fundos para a sua campanha, Obama incluiu a morte de Bin Laden numa lista de best of da sua presidência.
Mas os analistas defendem que a operação fala por si mesma e que a Casa Branca deve ter cuidado em inseri-la na narrativa eleitoral. "Osama bin Laden tem sido uma figura tão central na psique americana desde o 11 de Setembro que a memória da sua morte e o benefício que o Presidente receberá em função disso não se vão dissipar", diz ao PÚBLICO Ken Gude, do think tank Center for American Progress. "Vai tornar-se parte da narrativa desta presidência e a Administração não deve forçá-la demasiado."
Bruce Buchanan, professor de Ciência Política na Universidade do Texas, em Austin, concorda. "Eu não teria usado [a operação Bin Laden], mesmo que tenha sido só por uns instantes, como ele fez aqui em campanha. É certo que não foi um evento público. O que sugere que a sua estratégia em público pode ser diferente."
É possível que a Casa Branca também tenha tirado as suas conclusões do acontecimento, sobretudo depois do porta-voz para a imprensa ter de justificá-la aos jornalistas. Jay Carney notou que a primeira pessoa a mencionar Osama bin Laden na recepção em Austin foi um homem na assistência que gritou: "Obrigado por ter apanhado Bin Laden!"
"O timing é tudo"
Enquanto isso, os analistas estão rapidamente a voltar à realidade. Já ninguém parece disposto a proclamar que a reeleição de Obama está garantida. Obama pode ter neutralizado as críticas que o acusavam de ser um líder fraco, mas é possível que isso leve os republicanos a concentrarem-se ainda mais no ponto fraco da sua presidência: a economia. "É óbvio que esta campanha vai ser travada sobre a economia. Ele [Obama] só conseguirá ganhar o voto dos americanos se melhorar a economia e o estado do emprego", diz Ken Gude. "Seria um exagero partir do princípio de que esta vitória [sobre Bin Laden] vai ter um impacto significativo nas políticas relacionadas com questões nacionais."
"Ainda falta muito tempo até ao dia das eleições", avisa Bruce Buchanan. "Pode acontecer muita coisa em qualquer frente, incluindo segurança nacional, bem como economia."Uma data em particular tem alimentado maus prenúncios: 1992. Foi a última vez que um Presidente em funções perdeu a reeleição. E, no entanto, 18 meses antes, a popularidade de George H. Bush parecia imbatível. O triunfo na primeira Guerra do Golfo trouxera-lhe sondagens ainda mais favoráveis do que a Obama. Mas o eleitorado acabou por concluir que o Presidente não prestara atenção às suas ansiedades económicas e elegeu um ex-governador do Arkansas quase desconhecido chamado Bill Clinton.
"O meu exemplo preferido, para além desse, é Jimmy Carter", diz Buchanan. "O sucesso dele em termos de diplomacia foi, de certa forma, maior do que este. Ele orquestrou o acordo de paz entre Israel e o Egipto quando toda a gente dizia que era impossível. Isso deu-lhe uma popularidade enorme, mas temporária. Mas quando chegou o dia das eleições, face a uma inflação de dois dígitos, perdeu para Ronald Reagan por uma margem de 10 pontos percentuais. Se o acordo entre Israel e o Egipto tivesse ocorrido duas semanas antes da eleição, isso nunca teria acontecido. Portanto, o timing é tudo."
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