do REVISTA BULA
Mao Tsé-tung
Mao Tsé-tung: como intelectual, o líder chinês era uma farsa. O intelectual Hu Qiaomu foi o ghost-writer do maior best seller comunista de todos os tempos


Os mitos do socialismo estão ruindo um a um. Agora, cai mais um. O jornal espanhol “El Mundo” noticiou na terça-feira, 7, que o best seller comunista “O Livro Vermelho”, de Mao Tsé-tung, é assinado pelo falecido líder político chinês, mas foi elaborado, integralmente, por um ghost-writer. “O ‘grande timoneiro’ teve um escritor encarregado de redigir ou criar suas inspirações. As fontes dessas dúvidas, procedentes do Partido Comunista Chinês, indicam que seu secretário-geral durante os anos 90, Jiang Zemin, recebeu três informes (dois em 1993 e um em 1995) sobre a autoria do livro mais lido da história do comunismo”, conta “El Mundo”. O livro, para se ter uma ideia, é mais vendido do qualquer outra obra de Lênin, Stálin e Fidel Castro.

O jornal “China Daily”, porta-voz em inglês do governo chinês, tentou desmentir as informações, mas sem credibilidade. Mas ao menos admitiu que a história do “escritor fantasma” existe. Sabe-se que Hu Qiaomu (1912-1992), um intelectual comunista, é o verdadeiro autor de “O Livro Vermelho”. Mesmo assim, o governo chinês, no contra-ataque, alega que Mao é quem ajudou Hu a escrever seus poemas e seus discursos. Na verdade, ocorreu o oposto. Hu Qiaomu, nome esquecido até por historiadores, “foi um personagem capital na China de Mao”, diz “El Mundo”. “Hu foi secretário-particular do líder do Partido Comunista Chinês durante 25 anos e seu homem de confiança em assuntos de ciência e cultura.” Depois da morte de Mao, Hu “se converteu em grande opositor das reformas econômicas de Deng Xiaoping” e se tornou “o último defensor da Revolução Cultural e da ortodoxia maoísta”.

“El Mundo” conta que a China oficial tenta passar a imagem de que vai tratar sua história com mais rigor acadêmico. Porque lá, como em qualquer outro regime comunista, fala-se muito em “verdade”, mas essa é diariamente sacrificada. O livro “História do Partido Comunista Chinês” (1949-1978) pretende ser mais objetivo e menos apologético. O PCC decidiu que precisa discutir a fundo “períodos delicados”, como “o grande salto adiante” e a Revolução Cultural (verdadeiro massacre da cultura e de seres humanos). O livro foi editado pelo partido — o que, desde já, retira sua independência. A prova de que a China não permite nenhuma abertura consistente (exceto a econômica, ainda assim, relativa), lembra “El Mundo”, é que o artista e dissidente Ai Weiwei está detido há três meses pelo Estado, mas o governo não informa o lugar da prisão.

O jornal inglês “The Independent” perguntou a chineses o que eles acham do assunto. A maioria está perplexa. “Os veteranos da era Mao se mostraram estupefatos”, registrou o “Independent”. Por mais que tenha cometido atrocidades — o regime comunista matou cerca de 70 milhões de pessoas —, Mao é considerado uma espécie de santo ímpio pelo menos para parte dos chineses. A história está fartamente documentada na excelente biografia “Mao — A História Desconhecida” (Companhia das Letras, 960 páginas), de Jung Chang (autora do ótimo “Cisnes Selvagens”) e Jon Halliday.

Bem, se até os “pensamentos” (aforismos) de Mao não eram dele, o que era verdadeiro no ditador sanguinário? Talvez o corpo e o nome. Nunca um nome (Mao) foi tão apropriado para um serial killer.

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