do Projeto Nacional

No dia 1° de agosto de 2008 – antes, portanto do caos internacional conhecido do como crise do subprime – o dólar no Brasil estava cotado a R$ 1,56. A inflação acumulada em 12 meses, naquele ano, era de 6,17%, pelo IPCA.
No início de março de 2009, quando começava a “virada” sobre a crise em nosso país, o dólar estava a R$ 2,44, acumulando um aumento de 57,42% sobre o mês de agosto, portanto.
Já a inflação acumulada em 12 meses, em março de 2009, ficou em 5,61%. Índice sobre índice, uma variação negativa acima de 9%.

Basta este exemplo para mostrar que não existe uma relação mecânica entre valorização do dólar e aumento da inflação. É evidente que há influência, conhecida nos meios econômicos como “pass through”, mas não é a única nem a maior: Vão ser decisivos o comportamento da demanda (e dos preços) dos produtos de exportação, a demanda interna, e a expectativa dos agentes econômicos.
É aí que entra ação política da mídia, espalhando o “terrorismo inflacionário”, com redobrado vigor, como vem fazendo desde o início do ano.
Se a mídia não tem poder para influir nos fundamentos econômicos, influi, e fortemente, no que as pessoas esperam da evolução da economia.
Em 2009, já em plena recuperação econômica, estampavam manchetes como “O Brasil está em recessão”, como você pode conferir aqui. Partiam de fatos econômicos anteriores, verdadeiros, para projetar o desastre no presente.
A manchete de O Globo de hoje é a mais perfeita expressão desta ação.
O gráfico, assustador, é simplesmente o que a gente chama em estatística de “efeito-sanfona”: estique o eixo vertical e comprima o horizontal que uma curva se acentua, faça o contrário e ela se suaviza.
A matéria, entretranto, não toca numa questão essencial: porque o Banco Central não interferiu no mercado de câmbio para segurar a alta do dólar?
Por duas razões.
A primeira delas é que nem mesmo o mercado acredita que – salvo com um desastre agudo externo – essa tendência altista tenha força para ir longe. Tanto que a projeção do mercado para o final do ano é, provavelmente, menor até do que a que se confirmará: no boletim Focus, a previsão das instituições financeiras era, sexta-feira, de R$ 1,67 por dólar. Deve subir, no final desta semana, mas ficará abaixo do valor do dólar “pronto”, o valor á vista.
A segunda, é que o Governo e o BC contam com uma estabilização do valor do dólar em torno de R$ 1,75, para compensar o que era antes uma subcotação da moeda americana em relação ao real. Isso é uma forma de compensar a vantagem exagerada que determinados mercados exportadores – essencialmente o chinês – tinham com uma subvalorização de suas moedas em relação ao dólar. No caso do yuan chinês, as contas apontam uma subvalorização acima de 30%, o que , somado à desvalorização dólar x real que se forçou aqui, dava aos produtos chineses uma vantagem cambial de quase 50% em relação aos nacionais.
Ao contrário do que apregoa O Globo, todos os eventos econômicos, embora sérios, estão em linha com o previsto pela política econômica do Governo.
Óbvio que nada, num mundo globalizado e instável, pode ser garantido como definitivo. Podem acontecer – e vão acontecer – dificuldades não imaginadas. Mas o fato é que o BC nem levou a mão ao “trabuco” que são suas imensas reservas em dólar.
E o fará, se a tendência especulativa durar o suficiente para influir nos preços internos.
O que nossa mídia fez, faz e fará é apontar o Brasil à beira do abismo. E, parafraseando a antiga brincadeira, quanto maiores formos, menos caberemos no abismo.

Por: Fernando Brito

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