do DEMOCRACIA E POLÍTICA

assinatura da “Declaração de Teerã”


[Obs deste blog ‘democracia&política’:

A “Declaração de Teerã”, assinada por Brasil, Turquia e Irã, foi conseguida em 2010 exatamente nos termos previamente solicitados por Obama a Lula em carta. Mas, após alcançada, foi "molequemente" logo rejeitada e "interpretada" pelos EUA e seus aliados como “manobra” dos iranianos.

Na realidade, os EUA, Israel e europeus da OTAN não queriam qualquer acordo. Queriam, simplesmente, um pretexto (mesmo que falso) para sanções duras contra o Irã e, em seguida, atacá-lo. "Justificaram" que "não acreditavam na possibilidade de sucesso" na negociação encabeçada por Turquia e Brasil. A verdade é que, com o iminente sucesso nas negociações entre o Brasil, Turquia e Irã, Obama rapidamente (orientado por Netanyahu e o poderoso lobby judeu) negociou, na véspera, com a Rússia e China, para evitar seus vetos e assim conseguir a aprovação de sanções pelo CS da ONU, divulgadas poucos dias após a “Declaração de Teerã”.

Vejamos a seguinte entrevista com uma típica linha-dura analista norte-americana, ex-assessora de Obama, publicada no jornal “O Estado de São Paulo”, tradicional veículo pró-EUA (acima dos interesses brasileiros)]:

Anne-Marie Slaughter

Do "Estadão" [trechos entre colchetes adicionados por este blog]:

Analista e ex-conselheira de Obama pede retorno da mediação turco-brasileira e “nova parceria” após visita de Dilma a Washington

“Em 2010, quando o acordo turco-brasileiro foi rejeitado pelos EUA e demais grandes potências, Anne-Marie Slaughter ocupava posto-chave na diplomacia americana: no Departamento de Estado, era a diretora de planejamento político, espécie de centro de reflexão e debate dentro da Chancelaria americana. Hoje, a professora de Princeton - e uma das vozes mais influentes tanto em “think-tanks” quanto nos corredores do poder de Washington - quer o Brasil de volta à mesa de negociação com o Irã.

"O problema do acordo de 2010 não eram os mediadores, Brasil e Turquia, mas o "timing" do anúncio" [!?!], justifica. Para ela, a experiência histórica do Brasil, que optou por não militarizar seu programa atômico, facilita uma "saída honrosa" a Teerã. A seguir, trechos da conversa por telefone com o Estado.

--A Sra. defende a participação [de novo] do Brasil e da Turquia no diálogo com o Irã como uma forma de superar o atual impasse. Hoje, com novas sanções e ameaças, a situação é bem mais tensa do que na época do acordo turco-brasileiro. Por que o Brasil deve se expor novamente?

De fato, as coisas estão muito diferentes do que em 2010, e a relação entre o Brasil e o Irã mudou desde o governo Lula. Entendo que o Brasil veja mais motivos contra do que a favor da participação. Ao mesmo tempo, crescem as razões para o envolvimento da Turquia, por sua própria condição geográfica. Mas o Brasil teve uma experiência própria ao tentar desenvolver um programa nuclear (com fins militares) e, depois, decidindo que esse não era o melhor caminho. Isso dá ao País credibilidade especial [OBS deste blog ‘democracia&política’: credibilidade essa que os EUA, Israel, França e Inglaterra não têm, por desenvolverem suas armas atômicas e, hipocritamente, quererem condenar e atacar duramente eventual imitador]. “É importante permitir ao Irã uma saída honrosa, na qual Teerã diria nós é que decidimos fazer um programa pacífico". Com o Brasil, fica mais fácil.

--O governo brasileiro interpretou a recusa dos EUA ao pacto de 2010 como um sinal de que norte-americanos aceitam que países emergentes tenham mais voz em temas como finanças globais, comércio ou meio ambiente, mas não quando o assunto é "alta política" - questões de guerra e paz. A Sra. concorda com essa visão?

Não concordo. Acho que os EUA responderam daquela forma por causa do "timing" do acordo [!], não porque o Brasil e a Turquia eram os negociadores. Trabalhamos duro [não para solucionar a questão por via diplomática, mas] para conseguir apoio a uma nova rodada de sanções na ONU e o acordo parecia uma jogada do Irã para evitar essas punições. Não foi algo do tipo "alta política versus baixa política", mas uma mensagem dizendo "não caia na jogada iraniana".

--A Sra. foi uma das primeiras a defender a ação militar na Líbia. Hoje, vemos crescente discórdia: para norte-americanos e europeus, a queda de Kadafi foi um exemplo de intervenção legal e eficiente; para os BRICS, foi uma operação [ilegal] de mudança de regime que atropelou o mandato da ONU - "um perigoso precedente", segundo Rússia e Brasil. Não se trata de mero debate teórico, pois ele agora está determinando a reação diante da crise síria. Como a Sra. vê isso?

Vejo essa última versão no discurso da China e da Rússia, mas não sei se ela se aplica a todos os BRICS. A Índia, por exemplo, votou a favor de uma resolução no Conselho de Segurança contra a Síria. Desde o início, a OTAN deixou claro o que seria necessário fazer - bombardeios a centros de comando e tropas do regime que atacavam não só opositores, mas cidades inteiras, como Misrata. Não foi uma operação de mudança de regime, mas um ataque a um governo que estava determinado a massacrar sua população.

--O Brasil está tentando adicionar à ideia de "responsabilidade de proteger", que permeou o debate sobre a Líbia, o conceito de "responsabilidade ao proteger". O que a Sra. acha disso?

Apoio elaborar a ideia de "responsabilidade de proteger" de modo que países se sintam mais à vontade com ela [para intervir militarmente quando quiserem em outros países, especialmente em produtores de petróleo]. Mas desde que isso não a ameace [não mude essa liberdade de atacar]. Pode-se até dizer que a coisa foi longe demais na Líbia, mas é fato que muito menos civis morreram porque a comunidade internacional agiu. Concordo com Dilma no sentido de que o objetivo da intervenção deve ser sempre parar a matança.

--E o que pode ser feito diplomaticamente diante do massacre na Síria?

Seria importante passar no Conselho de Segurança a resolução mais dura que conseguirmos. A alternativa agora é entre armar o Exército Livre Sírio (grupo de desertores das forças de Assad) [para, assim, aumentar a guerra civil], ou criar zonas de exclusão na fronteira com a Turquia, onde sírios poderiam buscar refúgio. Se a Turquia, a Jordânia ou a Liga Árabe pedissem isso, acredito que teriam total legitimidade, pois há alto risco de termos uma onda de refugiados causada pela guerra civil.

--Obama receberá Dilma no dia 6 de abril. Qual seria o melhor resultado para o encontro?

O melhor seria alcançar uma “parceria energética para as Américas” [palavras perigosas que escondem risco para o Brasil e o pré-sal], que precisam se tornar economia muito mais integrada, EUA e Brasil [sob comando dos EUA, certamente...; traduzindo essa linguagem diplomática, ela quis dizer que somente os EUA] podem e devem conduzir esse processo.
--E o pior resultado?

Seria ver o Brasil tentando definir sua identidade com base na [defesa dos interesses brasileiros, mesmo que em] contraposição aos [interesses dos] EUA, em vez de trabalhar “ao lado” [ela subentendeu 'de baixo'] de Washington. Foi o caso em alguns momentos de Lula [que defendeu prioritariamente os interesses brasileiros], embora ele tenha feito muitas coisas boas. Seria uma pena ver isso com Dilma. Mas duvido que ocorrerá.”

FONTE: publicado no jornal tradicionalmente pró-EUA (acima dos interesses brasileiros) “O Estado de São Paulo”. Transcrito no portal da FAB (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=19/02/2012&page=mostra_notimpol) [imagens do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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