DEMOCRACIA E POLÍTICA
“As autoridades de controle de entorpecentes do Irã acusaram na sexta-feira (16 março) as tropas estrangeiras de ocupação no Afeganistão de terem favorecido o cultivo de drogas no país, o maior produtor de ópio do mundo, desde a ocupação em 2001 liderada pelos Estados Unidos, informou a agência oficial de notícias "IRNA".
Em reunião com Jan Kubis, representante especial das Nações Unidas para o Afeganistão, o subchefe do Departamento de Controle de Drogas do Irã, Taha Taheri, disse: "Os países ocupantes, com o pretexto de ajudar o Afeganistão, apoiaram o cultivo de drogas, com o resultado de um aumento da insegurança".
"Não há informações de qualquer operação de tropas estrangeiras contra a máfia da droga no Afeganistão, pelo menos nos dois últimos anos, e apenas no ano passado o cultivo de drogas cresceu 7%", disse Taheri, cujo país é uma das principais vias de passagem da heroína afegã com direção a Europa.
O Irã é o segundo país, depois do Afeganistão, mais prejudicado pela dependência ao ópio e à heroína, com 1,2 milhão de pessoas afetadas, e o que confisca a maior quantidade das matérias-primas para a fabricação dessas drogas no mundo, 41% do total, segundo dados do governo iraniano e da ONU.
Teerã solicitou diversas vezes ajuda internacional para combater o tráfico de drogas procedentes do Afeganistão e, em julho, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, pediu a colaboração das tropas da OTAN para lutar contra as drogas no país.
Ahmadinejad afirmou então que o Irã estava disposto a cooperar no controle do cultivo de ópio no Afeganistão, em reunião em Teerã com o diretor do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), Yury Fedotov.
"Se 10% do custo da guerra no Afeganistão fosse dedicado a controlar o ópio no país, a maior parte dos cultivos de papoula (da qual o ópio é extraído) e o tráfico de drogas poderiam ser controlados", disse Ahmadinejad.
Segundo números da UNODC, 92% dos opiáceos produzidos no mundo que não possuem uso farmacêutico procedem do Afeganistão, que atualmente dedica mais espaço ao cultivo da papoula branca que a América do Sul ao cultivo da coca.
Além disso, o Afeganistão, segundo esse organismo, é agora o maior produtor de haxixe do mundo.
O país recebe, segundo a UNODC, cerca de US$ 4 bilhões anuais de drogas ilegais, dos quais uma quarta parte pertence aos cultivadores, e o restante são repartidos pelas autoridades locais, organizações rebeldes, grupos armados e traficantes que transportam o material ao exterior.”
COMPLEMENTAÇÃO deste blog ‘democracia&política:
A referida acusação do Irã tem sustentação. Desde o início da vida deste blog, já manifestamos nossa estranheza por fatos incoerentes sobre o Afeganistão. Em 22 de março de 2008, poucos dias após inaugurado o blog, assim externamos (http://democraciapolitica.blogspot.com/2008/03/fatos-muito-estranhos-na-guerra-dos-eua.html). Há dois meses, em 3 de janeiro deste ano, na postagem intitulada “HEROIS NORTE-AMERICANOS E HEROÍNA AFEGÔ (http://democraciapolitica.blogspot.com/2012/01/herois-norte-americanos-e-heroina-afega.html), novamente expressamos perplexidade por fatos surpreendentes. O enigma continua indecifrável se dele excluirmos a hipótese de diabólica política externa dos EUA.
Plantações protegidas (?) pelos EUA/OTAN. Aparece um lavrador "terrorista" afegão
Nos EUA, no Brasil e em boa parte do mundo, são muito difundidas na mídia imagens e histórias de soldados norte-americanos que, "pela Humanidade", sacrificam suas vidas para levar a "liberdade" e a "democracia" ao Afeganistão. Os jornais e TVs mostram solenidades em que orgulhosas famílias recebem de volta os seus filhos “herois” em caixões cobertos com a “sagrada” bandeira dos EUA.
Porém, muitas coisas "não batem".
A GUERRA DOS EUA CONTRA O AFEGANISTÃO
Já era conjecturado pela imprensa, nos EUA e no exterior, muito antes do ataque terrorista de 11/09/2001 às torres gêmeas de Nova Iorque, que o Afeganistão seria invadido por tropas norte-americanas em futuro próximo.
O PETRÓLEO
Um dos motivos desse ataque prenunciado foi o fato de a região da Ásia Central abrangida pelos países Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Turcomenistão ter sido identificada como possuindo reservas de petróleo e gás maiores que as do Golfo Pérsico.
Por seu interesse no petróleo e gás da região, os EUA já haviam ajudado o regime Talibã e Osama Bin-Laden a combaterem a União Soviética no Afeganistão, país vizinho àquela rica região petrolífera e caminho natural para o melhor escoamento da planejada produção petrolífera.
O Afeganistão é importantíssimo como solução geográfica mais barata para o transporte daquelas riquezas. Será muito menos custoso passar oleodutos e gasodutos por seu território, até o porto na área marítima do Paquistão junto ao Oriente Médio, do que a solução manifestada pelos russos, de estendê-los até o Mar Negro.
Segundo a imprensa, vários grupos dos EUA (Chevron, Conoco, Texaco, Mobil Oil e Unocal) já estavam na década de noventa com investimentos adiantados no Afeganistão para aquela exploração.
O regime afegão Talibã, todavia, veio a se negar a autorizar a passagem pelo Afeganistão do oleoduto e do gasoduto, os quais já estavam iniciados pela empresa norte-americana Unocal. Essa negação causou a interrupção da obra em 1998. Naquele ano, em 20/08/1998, de surpresa, à noite, os EUA atacaram com mísseis de cruzeiro e aviões uma região daquele país “suspeita de abrigar possíveis terroristas”. (OBS: esse ataque já foi mencionado por este blog no artigo intitulado “Ataques dos EUA contra Granada, Somália, Sudão e outros”, postado em 15 de março 2008: http://democraciapolitica.blogspot.com/2008/03/3-parte-da-srie-o-brasil-e-as-guerras.html).
Desde então, volta e meia surgiam artigos em jornais e revistas, em várias partes do mundo, abordando novo e iminente ataque militar dos EUA ao Afeganistão. Talvez, o ataque terrorista de 11/09/2001 em Nova Iorque tenha sido o valioso e oportuno pretexto (acidental?) para aquela já planejada ação militar norte-americana no Afeganistão.
COISAS MUITO ESTRANHAS - O NARCOTRÁFICO
Nem tudo, no entanto, era assim facilmente previsível ou imaginável. Além do atentado de 11/09/2001, sempre achei que havia no ar coisas muito mais estranhas, incoerentes.
Por exemplo: o regime Talibã banira do Afeganistão o cultivo do ópio, do qual é extraída a heroína. A produção caiu a zero em julho de 2001, dois meses antes do atentado às torres gêmeas de Nova Iorque. O comércio mundial daquele produto, que somente nos EUA já movia mais de dois bilhões de dólares por ano, ficou arrasado, com preços disparando, inviabilizando a sua comercialização e causando o desespero dos seus comerciantes, dos políticos por eles financiados e dos consumidores, principalmente os norte-americanos.
Alguns meses depois da invasão norte-americana, na caça ao terrorista Bin Laden, os EUA devastaram com poder impressionante o Afeganistão, com milhões de toneladas de bombas e mísseis moderníssimos. Até o seu subsolo, suas cavernas, suas montanhas foram explodidos por novas e poderosas bombas que tudo esfarinhavam como grande terremoto.
Aquele país atacado, cujos progresso e infraestrutura o assemelhavam ao interior do Piauí, e o seu centro comercial era semelhante a uma feira livre da periferia de Caruaru, foi completamente destroçado, com dezenas de milhares de civis afegãos mortos. Até hoje, está totalmente ocupado pelas numerosas, modernas e poderosíssimas Forças Armadas dos EUA e de seus aliados.
Contudo, o surpreendente e incompreensível para mim é o Afeganistão, mesmo policiado palmo a palmo por forças que se intitulam com o nobre direito de combater o terror e o narcotráfico no mundo, ter rapidamente recuperado, e gigantescamente aumentado, a lavoura, a produção e a exportação do ópio, hoje já respondendo por quase 100% da produção mundial. Os preços e o suprimento da heroína já baixaram e estão normalizados nos EUA e nos demais grandes mercados consumidores.
Em 2008, o comércio de narcotráfico (heroína e outros) movimentou 1,75 trilhões de euros no mundo.
Fico perplexa, nada entendendo.
Apenas para exemplificar mais ainda esse incongruente quadro, relembro trechos de um artigo da BBC Brasil, de 03/09/2006, que tratou desse surpreendente e exponencial crescimento da produção de papoula, ópio e heroína após a invasão norte-americana:
“CULTIVO DE ÓPIO NO AFEGANISTÃO AUMENTA 59% NO ANO” (2006)
Da BBC:
“O cultivo de papoulas no Afeganistão - matéria-prima para a produção de ópio - deverá aumentar 59% neste ano [2006], representando 92% da produção mundial da droga", de acordo com as Nações Unidas.
(...) “O narcotráfico no Afeganistão, estimado em US$ 2,7 bilhões, responde por cerca de um terço da economia do país.” (atualização deste blog: em 2008, 57% do PIB afegão proveio da heroína, segundo "UOL Mídia Global", 02/04/2008).
Vejamos outro artigo, da “Folha Online”, em 05/03/2007:
“ONU RELATA AUMENTO DO TRÁFICO DE ÓPIO NO AFEGANISTÃO” (2007)
“O cultivo de papoula –matéria-prima do ópio-- poderá se expandir no Afeganistão em 2007 após uma safra recorde em 2006, afirmou a agência da ONU que investiga drogas. O relatório da ONU destaca o fracasso de iniciativa internacional que luta contra o tráfico de narcóticos crescente no país.
A “Agência para Drogas e Crimes” da ONU (UNODC) prevê aumento da papoula em províncias afegãs, inclusive Helmand, no sul, onde há a mais extensa área de cultivo no país.”
(...) "A pesquisa deste inverno sugere que o cultivo de ópio no Afeganistão em 2007 poderá superar a colheita recorde de 165 mil hectares em 2006", afirmou o diretor executivo da UNODC”.
CULTIVO
(...) Segundo a ONU, o cultivo de papoula ocorre em 100% dos vilarejos visitados na Província de Helmand e em 93% das vilas da Província vizinha de Candahar (ex-bastião do Talibã).”
Por que relembrei essas postagens? Porque li (2 jan 2012), no site “DefesaNet”, que me parece ser porta-voz dos interesses judaico-americanos e do complexo industrial-militar dos EUA/Israel, o seguinte artigo, onde a OTAN faz afirmações inverossímeis totalmente incoerentes com as avaliações da ONU. Parece-me gozação, escárnio da OTAN:
OTAN: “LUTA CONTRA NARCOTRÁFICO NO AFEGANISTÃO FOI BEM-SUCEDIDA” [sic!!!]
“A luta contra o narcotráfico no Afeganistão é um sucesso graças às "incríveis" apreensões realizadas em 2011, considerou em uma coletiva de imprensa na segunda-feira (2/1/12) Carsten Jacobson, porta-voz da ISAF, a coalizão militar estrangeira dirigida pela OTAN.
"O tráfico de entorpecentes tem sido um fator chave para o financiamento dos insurgentes, mas essa fonte de renda diminui. As forças de segurança afegãs, com seus associados da ISAF, capturaram “quantidades incríveis” de drogas ilícitas e de material vinculado, em 2011 em relação a 2010", comemorou Jacobson.
As apreensões de ópio aumentaram 13% e as de haxixe 59%, enquanto as de maconha e de morfina se multiplicaram por 12 e 10, respectivamente, segundo estatísticas da ISAF, que não comunicou as quantidades confiscadas.
"As operações antidrogas afetam com sucesso as capacidades dos insurgentes para transformar o ópio em heroína. Em 2012, continuaremos sufocando as rendas geradas pela venda de drogas ilícitas", afirmou o porta-voz da ISAF.
No entanto, o otimismo da OTAN deve ser relativizado, já que o Escritório das Nações Unidas contra a droga e o crime (UNODC) indicou, em outubro 2010, que a produção de ópio no Afeganistão aumentou de maneira importante (+61%) em 2011 em relação a 2010, quando havia diminuído devido à presença de um parasita.
Para 2011, a UNODC considera a produção potencial em 5.800 toneladas, contra 3.600 toneladas em 2010, com leve aumento das superfícies cultivadas (+7%) em relação a 2009 e 2010, para se estabelecer em 131 mil hectares em 2011.
Depois de leve queda da parte afegã na produção global de 2010, o Afeganistão deverá representar, mais uma vez, 90% da produção mundial de ópio, com o sul do país, principal região afetada pela insegurança, representando 78% deste total, segundo a UNODC.”
Tudo muito estranho...”
FONTE: a 1ª parte foi publicada ontem (15 março 2012) no portal UOL com informações da agência espanhola de notícias EFE (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=178318&id_secao=9). A complementação (em azul) foi elaborada por este blog ‘democracia&política’ e postada em 3 de janeiro deste ano, sob o título “HEROIS NORTE-AMERICANOS E HEROÍNA AFEGÔ (http://democraciapolitica.blogspot.com/2012/01/herois-norte-americanos-e-heroina-afega.html)




Postar um comentário
-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;