Carta Maior
Com a economia do país estagnada e um desemprego rondando a casa dos 8%, o ministro da Economia do Reino Unido, George Osborne, anunciou quarta-feira (26), na Câmara dos Comuns, mais um drástico corte dos gastos. O corte no orçamento será em média entre 8 e 10% para todos os ministérios e representará uma eliminação de 144 mil empregos públicos. Diante da crise, a resposta de Osborne tem sido eliminar cortar o salário dos funcionários públicos e benefícios sociais, como o seguro-desemprego. Por Marcelo Justo.
Marcelo Justo
Londres - No momento em que a economia não cresce e o déficit fiscal aumenta, o ministro da Economia do Reino Unido, George Osborne, reage com a previsibilidade de um reflexo pavloviano e anuncia um drástico corte dos gastos. Na Câmara dos Comuns, nesta última quarta-feira (26), indicou que o corte no orçamento será em média entre 8 e 10% para todos os ministérios e representará uma eliminação de 144 mil empregos públicos.
A austeridade de Osborne é como o paradoxo de Zenão na corrida entre Aquiles e a tartaruga: por mais que corte-se o gasto com a velocidade do herói grego, o déficit fiscal seguirá aumentando porque o crescimento tartaruga devora todos os sacrifícios. Em 2010, Osborne prometeu que com o primeiro corte – de 140 bilhões de dólares em cinco anos – se obteria um equilíbrio fiscal para o fim do período governamental em 2015. No ano passado, teve que reconhecer que esta meta não seria cumprida em função da “crise na zona do euro” e esticou a meta do equilíbrio fiscal para 2017-2018.
Os novos cortes de aproximadamente 18 bilhões de dólares anunciados na Câmara são uma tentativa de cumprir desta vez com este objetivo escorrediço, mas o prestigiado e independente Instituto de Estudos Fiscais antecipou que, em 2017-2018, será preciso continuar com os cortes em grande escala. O Instituto calcula que o governo terá que cortar cerca de 40 bilhões de dólares adicionais, equivalentes a tudo que se gasta em transporte ou uma quarta parte do orçamento em educação.
O problema de fundo é que a tartaruga só cresceu desde 2010: o Fundo Monetário Internacional acaba de diminuir sua projeção para este ano para 0,7%. Do mesmo modo, dados tão genéricos como o Produto Interno Bruto (PIB), quase abstratos para a população, escondem mais do que revelam a debilidade da economia.
Uma investigação da “Resolution Foundation” mostrou que para mais da metade da população o crescimento será zero, enquanto que os direitos das 100 empresas mais importantes aumentaram em 10% seus rendimentos no ano passado, em média uns 7 milhões de dólares adicionais.
Longe dessas alturas, o salário médio caiu de um aumento anual de 5%, em 2007, para um pálido 0,9 no último trimestre, enquanto que a inflação se encontra em 2,8%: a disparidade com os preços está comendo os salários.
A resposta de Osborne tem sido eliminar o aumento automático do salário dos funcionários públicos e cortar os benefícios sociais, como o do desemprego, que está hoje chegando à casa dos 8%. Uma das medidas é um tanto insólita: os desempregados terão que esperar uma semana antes de poder receber o seguro desemprego. “Estes primeiros dias têm que ser dedicados a buscar trabalho, não a se registrar como desempregado”, disse Osborne. Segundo o ministro, com a austeridade “o Reino Unido está saindo de cuidados intensivos e movendo-se na direção de uma recuperação”.
O líder trabalhista condenou os anúncios. “Nos dizem que a economia está sendo saneada, mas a realidade é que as coisas estão piores para as famílias. O que precisamos é de um plano para crescer, melhorar o nível de vida e baixar o déficit”, assinalou. O agregado final sobre o déficit é a chave de sua resposta. Na semana passada, o mesmo Miliband prometeu que manteria as restrições de gastos implementadas pelos conservadores, caso ganhar as eleições de 2015.
O aparente paradoxo trabalhista é mais fácil de explicar e entender que o da tartaruga e da lebre. Acredite-se ou não, após quatro anos de austeridade e estagnação, os britânicos ainda dão mais crédito aos conservadores no manejo da economia e consideram que a prioridade é baixar o gasto público. Ao mesmo tempo – paradoxos da opinião pública – uma pesquisa em maio mostrou que cerca de 58% pensa que o atual plano fracassou e que votaria na oposição. O trabalhismo, que há muito tempo prefere não se arriscar com nada, decidiu rolar esse tema com a barriga até as eleições e prometer a quadratura do círculo: seguir com a austeridade e crescer economicamente.
Tradução: Katarina Peixoto

Marcelo Justo
A austeridade de Osborne é como o paradoxo de Zenão na corrida entre Aquiles e a tartaruga: por mais que corte-se o gasto com a velocidade do herói grego, o déficit fiscal seguirá aumentando porque o crescimento tartaruga devora todos os sacrifícios. Em 2010, Osborne prometeu que com o primeiro corte – de 140 bilhões de dólares em cinco anos – se obteria um equilíbrio fiscal para o fim do período governamental em 2015. No ano passado, teve que reconhecer que esta meta não seria cumprida em função da “crise na zona do euro” e esticou a meta do equilíbrio fiscal para 2017-2018.
Os novos cortes de aproximadamente 18 bilhões de dólares anunciados na Câmara são uma tentativa de cumprir desta vez com este objetivo escorrediço, mas o prestigiado e independente Instituto de Estudos Fiscais antecipou que, em 2017-2018, será preciso continuar com os cortes em grande escala. O Instituto calcula que o governo terá que cortar cerca de 40 bilhões de dólares adicionais, equivalentes a tudo que se gasta em transporte ou uma quarta parte do orçamento em educação.
O problema de fundo é que a tartaruga só cresceu desde 2010: o Fundo Monetário Internacional acaba de diminuir sua projeção para este ano para 0,7%. Do mesmo modo, dados tão genéricos como o Produto Interno Bruto (PIB), quase abstratos para a população, escondem mais do que revelam a debilidade da economia.
Uma investigação da “Resolution Foundation” mostrou que para mais da metade da população o crescimento será zero, enquanto que os direitos das 100 empresas mais importantes aumentaram em 10% seus rendimentos no ano passado, em média uns 7 milhões de dólares adicionais.
Longe dessas alturas, o salário médio caiu de um aumento anual de 5%, em 2007, para um pálido 0,9 no último trimestre, enquanto que a inflação se encontra em 2,8%: a disparidade com os preços está comendo os salários.
A resposta de Osborne tem sido eliminar o aumento automático do salário dos funcionários públicos e cortar os benefícios sociais, como o do desemprego, que está hoje chegando à casa dos 8%. Uma das medidas é um tanto insólita: os desempregados terão que esperar uma semana antes de poder receber o seguro desemprego. “Estes primeiros dias têm que ser dedicados a buscar trabalho, não a se registrar como desempregado”, disse Osborne. Segundo o ministro, com a austeridade “o Reino Unido está saindo de cuidados intensivos e movendo-se na direção de uma recuperação”.
O líder trabalhista condenou os anúncios. “Nos dizem que a economia está sendo saneada, mas a realidade é que as coisas estão piores para as famílias. O que precisamos é de um plano para crescer, melhorar o nível de vida e baixar o déficit”, assinalou. O agregado final sobre o déficit é a chave de sua resposta. Na semana passada, o mesmo Miliband prometeu que manteria as restrições de gastos implementadas pelos conservadores, caso ganhar as eleições de 2015.
O aparente paradoxo trabalhista é mais fácil de explicar e entender que o da tartaruga e da lebre. Acredite-se ou não, após quatro anos de austeridade e estagnação, os britânicos ainda dão mais crédito aos conservadores no manejo da economia e consideram que a prioridade é baixar o gasto público. Ao mesmo tempo – paradoxos da opinião pública – uma pesquisa em maio mostrou que cerca de 58% pensa que o atual plano fracassou e que votaria na oposição. O trabalhismo, que há muito tempo prefere não se arriscar com nada, decidiu rolar esse tema com a barriga até as eleições e prometer a quadratura do círculo: seguir com a austeridade e crescer economicamente.
Tradução: Katarina Peixoto
A dívida pública do Reino Unido é de 507% do PIB deles. Ou seja, é impagável. A atual situação é resultado DIRETO da política neoliberal aplicada por Margareth Thatcher. E quando a bomba estoura, o governo logo decide que o povo é que tem que pagar a conta.
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