Mônica Ribeiro e Ribeiro

Jornal GGN - Participar de um protesto ou trabalhar nele – seja como repórter ou vendendo água – tornou-se um desafio nos dias de hoje. Na noite de terça-feira (30), durante o ato contra o governador Geraldo Alckmin, que teve início no Largo da Batata, em Pinheiros, não foi diferente. Mesmo assim, Nacho Lemus e eu acompanhamos os protestos. Comparado aos anteriores, que juntaram mais de 10 mil pessoas de uma só vez, esse conseguiu reunir um grupo modesto, de cerca de 200 pessoas.
A polícia militar foi às ruas para conter os black blocs, ou BBs, que são os anarquistas perseguidos da vez. Durante o trajeto que se esticou pela avenida Rebouças, um o outro manifestante gritava, na tentativa de impedir os pixos e depredações de lojas e bancos – o que foi em vão. Até eu, que fiquei entre um BB e uma agência bancária, por pouco não viro alvo de uma pedrada. Há quem diga que protestos devam ser pacíficos, mas se assim o fossem não seriam protestos, e sim, passeatas. Mas deixemos esse debate para outra ocasião.
No meio do tumulto, gente que nem sabia a razão do protesto se misturava a grupos dispersos. Uma delas era uma mulher que chorava por causa dos efeitos da bomba de gás lacrimogêneo, que tinha sido jogada pela PM na direção do ônibus em que estava. "Odeio esses manifestantes! Acabei de voltar de uma entrevista de emprego… eu só queria voltar para casa!", disse, enraivecida.
Mesmo com a dispersão causada pela ação policial, fomos em direção à Paulista para encontrar os manifestantes que correram para não serem atingidos ou enquadrados pela PM. Já na via, nos deparamos com uma modalidade de batida policial que já virou comum nesses tempos de protesto. Três “elementos suspeitos” foram parados para averiguação, na esquina com a rua Augusta, por estarem com um spray de… vinagre (o maléfico artefato para curar o ardor e a sensação de sufocamento em que foi atingido por gás lacrimogêneo).
Curiosos para saber qual seria o desfecho do enquadro, ficamos ao lado dos rapazes. Fiquei ali, tecendo conversas sobre o procedimento da revista policial, enquanto Nacho fotografava a cena.
Um dos rapazes, a quem chamaremos de C. (foto), foi confundido com um BB por estar vestido todo de preto e com uma máscara na mão. Estudante de cinema, disse que apenas tentava registrar a manifestação para uso pessoal. "Nem consegui encontrar o pessoal porque cheguei atrasado na Rebouças", lamentou.

Durante o fichamento dos rapazes para "qualificação", um dos PMs que fazia a escolta no local aproximou-se do grupo para saber a opinião do universitário. "Mas você acha que esses caras mascarados são BB ou punks?", indagou. C. disse acreditar que os ataques de vandalismo deveriam ser causados por "garotos que pensam que são anarquistas", o que fez com que o policial ficasse na dúvida.
Durante a conversa, que evoluiu para a tática da polícia em reprimir as ações dos "vândalos", o policial recorreu à psicologia das massas e a Carl Gustav Jung - sim, ele mesmo, o psicanalista - para explicar o porquê da represália da corporação a todas as pessoas que circulam nas vias que, porventura, são palco de protestos - mesmo aquelas sem nenhuma ligação ao ativismo político.
"Isso é psicologia das massas, é só ler e estudar Jung. No meio de uma multidão, as pessoas perdem sua identidade e assumem uma mesma postura. Nesse momento, até quem não tem nada a ver com a história acaba fazendo parte da turba", disse. Ao trio que aguardava a liberação dos policiais, o PM disse que a prioridade da polícia era deter os black blocs e seus possíveis ataques ao patrimônio público.
Endossei o coro de um dos meninos detidos, que criticava a truculência da polícia em repreender as manifestações, e relatei ao simpático PM casos de senhoras saindo do trabalho, claramente sem nenhum envolvimento nos protestos, e sendo atingidas por bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. "Infelizmente", disse ele, "esse tipo de coisa acontece. Isso é culpa dos manifestantes que fazem vandalismo. É direito de qualquer pessoa se manifestar em via pública. Mas a partir do momento em que a ação dela causa tumulto, é de sua responsabilidade qualquer consequência", enfatizou.
No momento em que os demais policiais - de um grupo de aproximadamente dez - liberavam os três garotos apreendidos com vinagre, o PM boa-praça se despede de nós e nos deseja "boa noite" e "um abraço".
GGN

Jornal GGN - Participar de um protesto ou trabalhar nele – seja como repórter ou vendendo água – tornou-se um desafio nos dias de hoje. Na noite de terça-feira (30), durante o ato contra o governador Geraldo Alckmin, que teve início no Largo da Batata, em Pinheiros, não foi diferente. Mesmo assim, Nacho Lemus e eu acompanhamos os protestos. Comparado aos anteriores, que juntaram mais de 10 mil pessoas de uma só vez, esse conseguiu reunir um grupo modesto, de cerca de 200 pessoas.
A polícia militar foi às ruas para conter os black blocs, ou BBs, que são os anarquistas perseguidos da vez. Durante o trajeto que se esticou pela avenida Rebouças, um o outro manifestante gritava, na tentativa de impedir os pixos e depredações de lojas e bancos – o que foi em vão. Até eu, que fiquei entre um BB e uma agência bancária, por pouco não viro alvo de uma pedrada. Há quem diga que protestos devam ser pacíficos, mas se assim o fossem não seriam protestos, e sim, passeatas. Mas deixemos esse debate para outra ocasião.
No meio do tumulto, gente que nem sabia a razão do protesto se misturava a grupos dispersos. Uma delas era uma mulher que chorava por causa dos efeitos da bomba de gás lacrimogêneo, que tinha sido jogada pela PM na direção do ônibus em que estava. "Odeio esses manifestantes! Acabei de voltar de uma entrevista de emprego… eu só queria voltar para casa!", disse, enraivecida.
Mesmo com a dispersão causada pela ação policial, fomos em direção à Paulista para encontrar os manifestantes que correram para não serem atingidos ou enquadrados pela PM. Já na via, nos deparamos com uma modalidade de batida policial que já virou comum nesses tempos de protesto. Três “elementos suspeitos” foram parados para averiguação, na esquina com a rua Augusta, por estarem com um spray de… vinagre (o maléfico artefato para curar o ardor e a sensação de sufocamento em que foi atingido por gás lacrimogêneo).
Curiosos para saber qual seria o desfecho do enquadro, ficamos ao lado dos rapazes. Fiquei ali, tecendo conversas sobre o procedimento da revista policial, enquanto Nacho fotografava a cena.
Um dos rapazes, a quem chamaremos de C. (foto), foi confundido com um BB por estar vestido todo de preto e com uma máscara na mão. Estudante de cinema, disse que apenas tentava registrar a manifestação para uso pessoal. "Nem consegui encontrar o pessoal porque cheguei atrasado na Rebouças", lamentou.

Durante o fichamento dos rapazes para "qualificação", um dos PMs que fazia a escolta no local aproximou-se do grupo para saber a opinião do universitário. "Mas você acha que esses caras mascarados são BB ou punks?", indagou. C. disse acreditar que os ataques de vandalismo deveriam ser causados por "garotos que pensam que são anarquistas", o que fez com que o policial ficasse na dúvida.
Durante a conversa, que evoluiu para a tática da polícia em reprimir as ações dos "vândalos", o policial recorreu à psicologia das massas e a Carl Gustav Jung - sim, ele mesmo, o psicanalista - para explicar o porquê da represália da corporação a todas as pessoas que circulam nas vias que, porventura, são palco de protestos - mesmo aquelas sem nenhuma ligação ao ativismo político.
"Isso é psicologia das massas, é só ler e estudar Jung. No meio de uma multidão, as pessoas perdem sua identidade e assumem uma mesma postura. Nesse momento, até quem não tem nada a ver com a história acaba fazendo parte da turba", disse. Ao trio que aguardava a liberação dos policiais, o PM disse que a prioridade da polícia era deter os black blocs e seus possíveis ataques ao patrimônio público.
Endossei o coro de um dos meninos detidos, que criticava a truculência da polícia em repreender as manifestações, e relatei ao simpático PM casos de senhoras saindo do trabalho, claramente sem nenhum envolvimento nos protestos, e sendo atingidas por bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. "Infelizmente", disse ele, "esse tipo de coisa acontece. Isso é culpa dos manifestantes que fazem vandalismo. É direito de qualquer pessoa se manifestar em via pública. Mas a partir do momento em que a ação dela causa tumulto, é de sua responsabilidade qualquer consequência", enfatizou.
No momento em que os demais policiais - de um grupo de aproximadamente dez - liberavam os três garotos apreendidos com vinagre, o PM boa-praça se despede de nós e nos deseja "boa noite" e "um abraço".
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