ANA GERSCHENFELD


Prémio distingue o belga François Englert e o britânico Peter Higgs, dois dos físicos teóricos que, há cerca de 50 anos, postularam a existência de uma partícula elementar que confere massa a todas as outras.
François Englert (à esquerda) com Peter Higgs no dia do anúncio da descoberta do bosão, a 4 de Julho de 2012 no CERN DENIS BALIBOUSE/REUTERS


François Englert, da Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica), e Peter Higgs, da Universidade de Edimburgo (Reino Unido), partilham este ano o Prémio Nobel da Física “pela descoberta teórica de um mecanismo que contribui para a compreensão da origem da massa das partículas subatómicas, e cuja existência foi recentemente confirmada, através da descoberta da partícula fundamental prevista, pelas experiências ATLAS e CMS do [acelerador de partículas] LHC do CERN”, anunciou em Estocolmo a Real Academia das Ciências Sueca.

Em 1964, Englert e o seu colega Robert Brout (entretanto falecido), por um lado, e Higgs, pelo outro, teorizaram de forma independente que devia existir uma partícula subatómica – que se tornaria famosa sob o nome de bosão de Higgs –, capaz de dar massa a todas as outras partículas previstas pelo chamado Modelo-Padrão da física das partículas, que descreve a composição, a nível subatómico, do mundo que nos rodeia. E, passadas quase cinco décadas, o bosão de Higgs foi finalmente avistado no LHC – o grande o acelerador de partículas do Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), perto de Genebra, na Suíça – e a sua existência efectiva anunciada em Julho de 2012. A detecção do bosão de Higgs permitiu completar o elenco das partículas previstas pelo Modelo-Padrão.

“Segundo o Modelo-Padrão”, explica em comunicado emitido esta terça-feira pela Real Academia das Ciências Sueca, “tudo, das flores aos planetas, é composto por apenas um punhado de tijolos de construção: as partículas de matéria. Estas partículas são governadas por partículas de força que garantem que tudo no mundo funciona como deve.”

Neste modelo, o bosão de Higgs ocupa uma posição central, uma vez que, sem esta partícula, nós próprios não existiríamos. Trata-se de uma partícula que está presente em todo o espaço e é nas interacções com ela que as outras partículas subatómicas adquirem a sua massa.

Mas o bosão de Higgs é extremamente difícil de “apanhar”: só se manifesta de forma extremamente fugidia em experiências que põem em jogo os feixes de partículas mais potentes e os detectores de partículas mais sensíveis que existem no planeta. E de facto, se foram precisos apenas alguns cérebros para imaginar o bosão, a sua detecção exigiu anos de esforços por parte dos cerca de seis mil cientistas que participam nas duas complexíssimas experiências do CERN, ATLAS e CMS, concebidas para detectar o bosão de Higgs na “selva” de partículas criadas nas colisões de protões de altíssima energia do LHC.

Num comunicado que chegou às redacções instantes depois do anúncio do Nobel, o CERN deu os parabéns aos dois laureados. “Estou emocionadíssimo com a atribuição do Prémio Nobel deste ano à física das partículas”, declarou Rolf Heuer, director-geral do CERN, citado no documento. “A descoberta do bosão de Higgs no CERN, no ano passado, que valida o mecanismo de Brout-Englert-Higgs, marca o culminar de décadas de esforço intelectual por parte de muitas pessoas no mundo.”

Mas o bosão de Higgs não é de todo o fim da história. O Modelo-Padrão apenas descreve a matéria visível que nos rodeia, mas estima-se que cerca de 95% do Universo é constituido por matéria escura, totalmente invisível, e energia escura.


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