Por Victor Farinelli*, especial para o Maria Frô



Marina se segura em dois slogans que sensibilizam principalmente os eleitores do Sudeste, o da “nova política” e o “não vamos desistir do Brasil”, lançado no velório de Eduardo Campos.

Cabe de tudo nessas duas frases, e por isso Marina é uma incógnita, como disse a filha de Chico Mendes. Mas existe uma maneira de ver as contradições da candidata: apontar a ela temas onde não pode ficar em cima do muro. Já aconteceu com sua primeira crise, quando seu programa de governo afirmou ser a favor do matrimônio homossexual, o que foi desmentido horas depois em uma lamentável nota de esclarecimento, e logo veio uma sequência de idas e voltas que ainda não terminou, sendo, portanto, impossível saber o que a candidata realmente pensa ou pretende fazer a respeito.

A mesma confusão aconteceu quando a candidata disse que o sua oposição aos transgênicos é uma lenda. Marina tem talento para essas ambiguidades. Nessa frase, ela não chega a se comprometer com a Monsanto (que tem no seu vice, Beto Albuquerque, um dos seus principais representantes do Congresso), mas acena à empresa e todo o agronegócio com um “não tenham medo de mim”. Talvez alguns ambientalistas mais exigentes não aceitem esse discurso – e alguém poderia dizer que uma pessoa ser ambientalista e tolerar os transgênicos também seria uma lenda, já não é mais –, mas Marina sabe bem, desde que deixou o PV, que os votos verdes não ganham eleições.

Algo semelhante acontece com outro tema sensível para grande parte do povo brasileiro: o Pré-Sal, uma reserva de petróleo que pode ser o passaporte para o país se tornar definitivamente uma das grandes potências mundiais: por lei, aprovada no governo Dilma Rousseff 75% dos royalties e 50% do fundo social pré-sal são destinados à Educação.

Marina nunca foi totalmente a favor do pré-sal, algo sustentado pelo discurso ambientalista – Marina sempre usou acidentes petroleiros, no Brasil e no exterior, para atacar a Petrobrás e falar em abrir a empresa para participação ou investigação externa. Na campanha de 2010, usou um vazamento ocorrido no Golfo do México para defender essa tese, como se isso fosse problema do Brasil e da Petrobrás:




Este ano, a coisa está mais explícita. Marina tem como um dos seus principais assessores o economista tucano André Lara Resende, que também foi assessor do Collor e um dos que recomendou o confisco das poupanças, segundo o próprio ex-presidente, além de presidir o BNDES durante o governo FHC, sendo um dos grandes artífices da política de privatizações – tão importante que esteve metido até o pescoço no escândalo dos grampos, os primeiros indícios das maracutaias da privataria tucana a virarem notícia nacional.

Lara Resende teve que renunciar ao BNDES sem terminar a missão para a qual foi escalado. Faltou privatizar a Petrobrás e o Banco do Brasil. Sua presença na equipe de Marina faz ter sentido a ideia de interrupção da exploração do Pré-Sal, defendida pelo programa de governo da candidata – não é preciso muita astúcia para entender a quem isso beneficia e que efeitos teria sobre a Petrobrás, mas aos que não entendem, sugiro ler a coluna deste domingo (31/08), do Jânio de Freitas, na Folha, onde ele diz que “reduzir o Pré-Sal e atingir a Petrobras no coração são a mesma coisa”.

Mas convenhamos, seria injusto culpar somente o tucano Lara Resende pela ideia de frear o Pré-Sal. Se voltamos ao vídeo acima perceberemos que, em 2010, Marina já demonstrava o quanto desconfiava da capacidade da Petrobrás em explorar esses recursos. Um conceito que pertence ao velho Brasil, aquele relegado à eterna dependência. Marina quer desistir do Pré-Sal, uma medida que significaria desistir do Brasil.

Uma das fórmulas com que o PT poderia recuperar terreno seria apostar em ser a única candidatura (porque Aécio tampouco vai conseguir pegar carona nisso) que acredita no Pré-Sal e na capacidade do Brasil de ser dono do seu próprio destino – de quebra, pode usar como argumento, e sem soar forçado, tudo o que o país avançou na última década para poder ser capaz disso agora.

Acabaria com os dois discursos. Não é possível ser “nova política” defendendo um país incapaz de grandes avanços, algo que também não coincide com quem pretende “não desistir do Brasil”. E ainda serviria para uma pergunta: “Marina, você sabe que Chico Mendes jamais desistiria de explorar o Pré-Sal ou qualquer recurso natural, se isso significasse melhores condições de vida para os brasileiros, ou você não o conhecia?”.

* Victor Farinelli é jornalista, correspondente do Opera Mundi no Chile, corinthiano e blogueiro de assuntos latino-americanos da Carta Capital, um dos responsáveis pelo blog Rede LatinAmérica.

Maria Frô

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