por Rodrigo Vianna

A eleição entra na última semana com um cenário ainda indefinido. Mas agora já não há “ondas” no horizonte. Em agosto, tivemos a “onda verde” de Marina. Depois, a “onda azul” de Aécio – que foi basicamente uma onda antipetista com forte sotaque paulista.

E a “onda vermelha” de Dilma? Não houve. Nem haverá. Mesmo assim, ela é quem entra na reta final com leve favoritismo. Explico…

Ao contrário do que indicam as aparências, foi a campanha de Dilma quem ditou o ritmo do segundo turno. Na primeira semana, Aécio despontou com força, e tentou criar um clima de “fato consumado”: seus aliados chegaram a divulgar pesquisas falsas com o tucano bem à frente. Era fábula. E o PSDB parece ter acreditado na fábula, descuidando-se do mundo real.

Aécio contava com o bombardeio midiático contra Dilma no caso Petrobras. E ele veio. Por isso, o candidato passou dez dias “olímpico”, enquanto a Globo batia em Dilma. Mas, ao mesmo tempo, o PT desconstruía Aécio; e os próprios tucanos paulistas expunham seu elitismo e preconceito – com ataques ao Nordeste e ao povo mais pobre.

Eram dois movimentos simultâneos, em sentidos opostos. Na campanha oficial – midiática – Aécio parecia ter vantagem: tinha a Globo e mais seus dez minutos em horário nobre. Dilma tinha apenas seu horário na TV.

O que favoreceu Dilma? O mundo real, e a militância.

A campanha de “desconstrução” não pegaria em Aécio se ele fosse um candidato consistente. Ficou claro que não é. E tem enormes telhados de vidro na vida pessoal.

Mas o PSDB cometeu também o erro da soberba: FHC dizendo que PT tem só o voto “desinformado” fez coro com os tucanos paulistas berrando contra “nordestinos ignorantes”. Isso tudo criou no Nordeste (e entre os muito pobres de São Paulo, Rio e BH) uma muralha que segurou a onda aecista. Vi porteiros, frentistas e ambulantes dizendo nas últimas semanas: “está na cara que Aécio é candidato pra rico”.

Um amigo, que é do PSD de Kassab (portanto, está a meio caminho entre PT e PSDB), resumiu assim os fatos: “a campanha estava pra ele. Mas equilibrou tudo com as pancadas e o salto alto. Ele entrou de salto alto na Band, e dançou”.

Aécio acreditou que Dilma era uma idiota, uma “anta”, como dizem os sutis tucanos de São Paulo. Acreditou, e caiu do salto alto. Foi uma queda leve. Mas doeu.

No dia 14, Dilma começou a reagir, recuperando terreno. Aí, foi Aécio quem decidiu partir pro ataque. Perdeu as estribeiras no debate do SBT, mostrando dificuldades para lidar com as mulheres de igual para igual.

A partir dali, Aécio seguiu batendo, e Dilma reassumiu o papel de “técnica”, mostrado no último debate – na Record.

Resumo: Dilma bateu, Aécio achou que já tinha ganho. Quando o tucano foi reagir errou a mão. E Dilma mostrou-se mais serena. Só isso explica porque a rejeição de Aécio, em duas semanas, ultrapassou (levemente) a rejeição de Dilma (que apanha há 4 anos, sem parar).

Esse movimento pode ser decisivo para conquistar os indecisos. Por isso, digo que Dilma entra na reta final com leve favoritismo.

Fora isso, há o mapa eleitoral.

Aécio deve abrir boa frente em São Paulo (6 a 7 milhões), Sul (2 a 3 milhões), Centro-Oeste (1 a 2 milhões). Tudo isso, dá ao tucano cerca de 11 milhões de frente.

Mas só no Nordeste Dilma equilibra esse jogo, obtendo vantagem de 11 milhões – talvez um pouco mais.

No Norte do país, o PT projetava uma vantagem de mais de 1 milhão de votos para Dilma – que não deve se confirmar. Com segundo turno para governador no Pará e no Amazonas, Aécio colou seu nome a candidatos que estão fortes. A tendência é uma diferença de 500 mil votos apenas para Dilma, na soma dos dois estados.

Tudo isso indicaria uma pequena vantagem para Dilma. Mas ainda faltam Minas, Espirito Santo e Rio.

A tendencia é algo muito próximo de um empate em Minas. Na soma com Espirito Santos, talvez Aécio leve algum saldo positivo.

O Rio é que pode decidir. E lá há um leve favoritismo para Dilma. O tucano deve ganhar na capital (Zona Sul, Zona Norte e Barra – especialmente) e no sul do Estado. Mas perde feio na Zona Oeste, na Baixada e no Norte do Estado.

O PSOL tem papel fundamental no Rio. E é significativo que Marcelo Freixo tenha ido à TV apoiar Dilma. Jean Willis está muito ativo nas redes sociais e tem participado de atos com a juventude no Rio e em São Paulo. Mostra que o PSOL amadurece. Bom sinal.

Se a (leve) vantagem para Dilma no Rio se confirmar, e se o PT recuperar um pouco do terreno perdido na periferia de São Paulo (reduzindo a vantagem aecista no Estado – de 7 milhões, para menos de 6 milhões), Dilma tende a vencer.

Brasil afora, há um movimento de baixo pra cima de apoio a Dilma. Não parte do PT propriamente. É um sentimento difuso de que Aécio representa uma onda conservadora, quase fascista, que deve ser barrada. Desde 89, eu não via tanta iniciativa militante nas ruas.

Mas Aécio está no jogo, e tem aliados poderosos na Justiça e na Mídia – além de uma militância de classe média com sangue nos olhos.

A última semana ainda guarda golpes midiáticos. A Globo e aparato judiciário tucano vão agir. Não tenham dúvidas.

Mas minha impressão é de que nenhuma “onda” mais vai-se criar. Será eleição decidida no conta-gotas, voto a voto. Abstenção (se for alta no Nordeste e no Rio) pode atrapalhar Dilma.

Contra os tucanos, há a água que acaba em São Paulo. E a favor de Dilma, ainda há o Lula.

Façam suas apostas.

Minha avaliação, hoje, é de vitória de Dilma – com uma diferença entre 500 mil e 1,5 milhão de votos.

Escrevinhador

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