Quando lidamos com um adversário que presumimos mais forte do que nós, uma reação bem esperável é fazer muito barulho. Ocorre quando o ser humano está ameaçado por animais selvagens, mas também em situações de ameaça de violência ou roubo nas cidades. As reações exageradas, barulhentas e espetaculosas costumam, portanto, ser um forte indício de inferioridade na correlação de forças. Servem, aliás, para esconder essa verdade e almejam uma vitória baseada no blefe e na covardia do oponente mais forte que pode não pagar para ver.

A febre pelas análises de conjuntura, de que a esquerda se tornou excessivamente dependente, dificultam qualquer análise mais larga que escape ao barulho produzido pelo adversário acuado e temeroso. A conjuntura nos leva a acreditar nas bravatas e nos faz esquecer de que quem é mais forte no cenário da política hoje são as forças nacionais democráticas que modelaram o Brasil contemporâneo.

Dizem as pesquisas de popularidade que a presidenta teria 9% de “ótimo” e “bom”, mas como explicar que 25% dos eleitores brasileiros continuem a se identificar com o PT? É claro que os 9% da presidenta estão incluídos nesses 25%, mas quantos são os que, embora avaliando mal o governo, não dariam (de jeito nenhum) o seu voto às forças conservadoras? Presumivelmente mais do que os 25% atribuídos ao PT. Essa análise de luz e sombras mostra que a base política da presidenta, apesar da decepção com o governo, parece sólida. Penso que os conservadores devem saber disto. Noutra pesquisa Lula teria 25% dos votos, Aécio 35% e Marina 18%... Por que é que Marina, que nada mais representa, foi incluída na pesquisa? Para evitar o óbvio: Lula vence Aécio em todos os cenários e seria inacreditável outro resultado...

Duas estratégias frágeis estão novamente abertas para impedir a presidenta. A primeira vinda do TCU não conseguirá, na hipótese da não aprovação das contas da presidenta, produzir a maioria necessária à cassação do mandato. O expediente foi utilizado por todos os governos da República antes de Dilma. O pacto pela legalidade recém alinhado demonstra a força dessa bancada que reúne mais do que o necessário para derrotar o PSDB e seus aliados numa empreitada como a derrubada de um governo que teve 54 milhões de votos.

A outra é a tentativa de cassar o diploma da presidenta no TSE. Como se o Tribunal Superior Eleitoral fosse reagir como uma torcida de futebol em que três votam pelo governo, três contra e Fucks seria o infiel da balança. Por favor. E há quem acredite em tamanha asneira mesmo no campo da esquerda. Para que o processo prospere o crime teria que ser muito bem provado o que, obviamente, está muito longe de ser o caso, até porque todos sabem que se trata de uma mentira.

Finalmente estamos numa quadra em que a direita, nesse esforço hercúleo de tentar intimidar o campo nacional democrático no grito, está indo longe demais. O grande elan que construiu o Brasil dos últimos anos ruma para a equidade, a tolerância, a liberalização dos costumes e a democratização da sociedade. Essa inércia pode até ser contida, mas ela é que é, indiscutivelmente a megatendência que molda a nação. O Brasil não tem repertório para, de uma hora para outra, vir a ser convertido numa república teocrática, racista, homofóbica e senhorial. Ao contrário, o que pode vir a ocorrer é que essa megatendência posta em contenção pelas forças conservadoras exploda eleitoralmente ainda em 2016 produzindo em grande escala o que já estamos vendo no microcosmo da política onde personagens como Malafaia rumam para o isolamento completo. Penso que hoje poucos o quereriam num palanque e isso já é bem diferente de há apenas escassos sete ou oito meses atrás...O sucesso do vídeo de Joanna Maranhão é outro indício de que os ventos estão mudando. A Globo defende Maju e esposo dos ataques xenófobos de uma extrema direita sem remédio e a Folha publica editorial louvando o Estado laico e a liberdade de costumes. Sim os ventos estão mudando.

Não se trata de PT, se trata da agenda modernizadora que o brasileiro comum não quer perder, da sua pertinência como nação, como disse a presidenta, a uma cultura e a valores ocidentais. A direita joga uma difícil carta, para retomar uma terminologia gramsciana de “orientalização” do Brasil para golpear o poder.

Sem força para derrotar o campo nacional democrático nas urnas, sem força para derrotá-lo na lei e sem forças para derrotá-lo na marra a direita aposta todas as suas fichas de que o derrotará com a derradeira arma do vencido: o ruído ensurdecedor da ameaça golpista. Para que isso desse certo teria que contar com uma covardia inédita da nação e com uma secretude que não existe mais: estão fracos e rumam para uma derrota histórica.

O circo acabou. O discurso golpista é a voz grossa de personagem esquálido e acabrunhado. Em sete meses de oposição feroz e sem trégua mostraram armas de baixo calibre, munição podre e muita verborragia. Isso é muito pouco para curvar uma democracia vibrante como a nossa. A convenção do PSDB mostra que não têm projeto de sociedade e estão perdidos. Uma autêntica oposição ao Brasil como em ato falho reconheceu alguém.

O discurso da presidenta sinaliza que os ventos mudaram de direção e que a iniciativa política pertence, novamente, ao campo democrático.

A reação de Aécio e Alckmin à entrevista de Dilma demonstra claramente que, longe de ser uma estratégia bem montada e detalhada, o golpe é uma aventura de políticos menores: ficaram ansiosos e mostraram espoleta curta...

Antevejo que o campo democrático e nacional esmagará essas forças orientais em 2016 e 2018. Firmeza e paciência, trabalho e foco. A megatendência que molda o Brasil é que tem supremacia e ela nos leva a mais equidade, mais tolerância, mais democracia e mais liberdade de costumes.

E o truque da ameaça golpista já era.

GGN

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