Raramente fazemos pesquisas de popularidade antes dos cem primeiros dias de um presidente.
Esta foi a desculpa apresentada pelo Datafolha ao El País para o sumiço de suas pesquisas.
Ora, ora, ora. Quem acredita nessa desculpa acredita em tudo.
As circunstâncias atuais definitivamente não são comuns. Uma coisa é você esperar para fazer levantamentos de popularidade quando um presidente assume o poder e ainda vive a clássica fase de lua de mel, graças a seus milhões de votos.
Outra coisa, inteiramente diversa, é você não medir nada quando um vice chega ao Planalto num processo tão controverso, para dizer o mínimo, quanto o que levou Temer a um posto para o qual ele não teve um voto.
Acrescente-se aí que Temer, mesmo estando apenas interinamente na presidência, destruiu o projeto eleito por mais de 54 milhões de brasileiros ainda recentemente, final de 2014.
A sociedade não votou no programa que Temer tenta colocar em marcha. Nada mais importante, para um instituto de pesquisas, do que aferir o que as pessoas pensam disso.
Os votos dos brasileiros foram surrupiados mais de uma vez. Primeiro, quando Dilma foi afastada num conspiração de corruptos. Depois, quando Temer jogou no lixo o programa pelo qual ele próprio se tornara vice.
Não bastasse isso, os senadores ainda terão que chancelar — ou não — o afastamento de Dilma.
A contagem está apertada. Três senadores que mudem de ideia depois de terem dito sim ao golpe e Dilma volta. Até Zezé Perrela disse que a contagem no Senado tinha sido muito mais apertada do que os golpistas esperavam, ao contrário do que acontecera na Câmara.
Evidentemente os senadores vacilantes examinarão com extrema atenção as pesquisas de opinião.
Já é complicado ser golpista, como se pode ver pelos múltiplos esculachos dirigidos contra parlamentares que apoiaram o impeachment. E é simplesmente insuportável ser um golpista quando o golpe é impopular. Sua carreira política está no cemitério, nestes casos.
Tudo isto posto, nada justifica o silêncio do Datafolha e do Ibope. Quer dizer: nada exceto a possibilidade fortíssima de que eles, como se tornou tão comum no mundo político destes dias, tenham decidido escolher seletivamente o momento de ver o que os brasileiros estão pensando.


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