“Rigorosamente, a interceptação
revelou uma série de diálogos do ex-presidente nos quais há indicação,
em cognição sumária, de sua intenção de obstruir as investigações, como
no exemplo citado, o que por si só poderia justificar, por ocasião da
busca e apreensão, a prisão temporária dele, tendo sido optado, porém,
pela medida menos gravosa da condução coercitiva”.
A peça apresentada por Moro ao STF já é, por si, uma demonstração de que estabeleceu-se o impensável: uma disputa entre o juiz e o acusado, o que por si só tira a serenidade do processo. Não são acusador (o MP) e a defesa em disputa, mas o confronto entre o acusado e o julgador.
Julgador que quer a sua presa, que não abre mão do troféu “Prendi o Lula”, o que joga por terra qualquer imparcialidade.
O que, em manifestação feita à noite pelos advogados de Lula, foi reafirmando, em nota que transcrevo:
Advogados reiteram parcialidade de Moro
Na data de hoje (22/07/2016), o juiz
Sergio Moro recusou-se a reconhecer que perdeu a imparcialidade para
julgar o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apresentou sua defesa
para futuro julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 4ª. Região.
A defesa apresentada por Moro, todavia,
apenas deixou ainda mais evidente a sua parcialidade em relação a Lula,
pois a peça: (a) acusa; (b) nega, de forma inconsistente, as
arbitrariedades praticadas; (c) faz indevidos juízos de valor; e, ainda,
(d) distorce e ignora fatos relevantes.
Juiz acusador.
Em documento remetido ao STF no dia
29/03/2016, o juiz Moro fez 12 acusações contra Lula imputando-lhe
práticas criminosas e antecipou, indevidamente, juízo de valor sobre a
propriedade do sítio de Atibaia (SP), sobre o qual arvorou jurisdição. A
figura do juiz acusador é incompatível com a do juiz imparcial.
Na manifestação de hoje, Moro tenta
amenizar sua indevida atuação acusatória contra o ex-Presidente sob o
fundamento de que teria feito uso frequente das expressões ‘cognição
sumária’, ‘em princípio’ ou ‘aparentemente’. Essa situação, todavia, não
retrata a realidade, tanto é que Moro transcreveu em sua defesa apenas 3
das 12 acusações lançadas no documento dirigido ao STF, escondendo a
maioria de conteúdo flagrantemente acusatório. O escopo da manifestação
de Moro é inequivocamente de um acusador, quaisquer que sejam as
expressões que ele tenha utilizado para edulcorar aquele documento.
Arbitrariedades.
Ao contrário do que foi sustentado, o
juiz Moro praticou diversas arbitrariedades contra o ex-Presidente Lula,
principalmente após ser deflagrada a 24ª. Fase da Operação Lava Jato.
Lula foi indevidamente privado da sua liberdade em situação não prevista
em lei, pois foi conduzido coercitivamente sem que tenha deixado de
cumprir qualquer intimação previamente. Já o levantamento do sigilo das
conversas interceptadas nos ramais telefônicos utilizados pelo
ex-Presidente, seus familiares, colaboradores e advogados é
expressamente vedado em lei e pode configurar crime. Quanto a este
ponto, as próprias decisões proferidas pelo STF indicam que não houve um
mero erro do julgador, até porque a lei não comporta qualquer
interpretação que não seja a preservação do sigilo. Houve inequívoca
intenção do juiz de produzir efeitos estranhos ao processo, para criar
empecilhos jurídicos e políticos a Lula.
Essas arbitrariedades foram
encaminhadas ao Procurador Geral da República em 16/06/2016 para análise
sobre o eventual cometimento de abuso de autoridade pelo Juiz Moro,
estando pendentes de análise.
Juízos indevidos de valor.
O excesso de medidas cautelares
injustificadas já autorizadas pelo juiz Sergio Moro contra Lula é outro
fator que não deixa dúvida de que ele aderiu precocemente a uma tese
acusatória e, com isso, tornou-se parcial no caso. No documento emitido
hoje, Moro volta a fazer indevidos juízos de valor na tentativa –
inalcançável – de justificar tais medidas.
Distorções.
Na defesa hoje apresentada, Moro ignora
o fato de ter participado e prestigiado o lançamento do livro do
jornalista Vladimir Neto sobre a Operação Lava Jato – que coloca Lula,
indevidamente, em papel central. Os direitos da obra já foram vendidos
para a produção de uma série pela empresa norte-americana Netflix. O
juiz ainda tergiversa em relação à sua participação em eventos
envolvendo políticos que fazem oposição a Lula, chegando até mesmo a
negar a ligação de João Dória Júnior, pré-candidato à prefeitura de São
Paulo e autor de diversos atos difamatórios contra Lula, nos eventos
organizados pela empresa Lide da qual é notório proprietário. Falta
sinceridade na manifestação de Sergio Moro quando alega que não pode
influir na linha editorial contraria a Lula dos veículos de comunicação,
como se desconhecesse esse fato ao aceitar convites para atos que
envolvem atores políticos e de propaganda opressiva.
Ao deixar de reconhecer que perdeu a
imparcialidade para julgar Lula, diante de tão relevantes fatos, o juiz
Moro comete inequívoco atentado contra a Constituição Federal e, ainda,
contra os Tratados Internacionais que o Brasil se obrigou a cumprir, que
asseguram a figura de um juiz imparcial e de um julgamento justo.
Os advogados de Lula tomarão todas as providências necessárias para que seu cliente não seja submetido a novas arbitrariedades.
Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira


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