Fernando Brito

A coluna de hoje de Janio de Freitas, na Folha:

A corrupção é o meio posto em prática por Michel Temer para derrubar a segunda denúncia criminal em que a Procuradoria Geral da República o acusa de corrupção.

Desde o fim de semana estão acionadas as providências que caracterizam a prática, com seu primeiro ato –a coordenação preliminar– efetivado em reunião no Palácio do Jaburu com os também denunciados Eliseu Padilha e Moreira Franco e, ainda, parlamentares com funções no esquema.

A corrupção contra a denúncia se oculta sob as aparências do usual favorecimento a parlamentares, com cargos ou verbas.

A distinção entre esse uso imoral incorporado à Câmara e ao Senado e, agora, a prática adotada por Temer, não está nas maneiras de agir. Está na finalidade.

A frequente distribuição de verbas e cargos busca comprometer os beneficiados com o apoio aos governos, em assuntos pendentes de aprovação parlamentar. Substitui, sem suprir, o confronto de ideias, o valor de programas partidários, a lealdade aos compromissos com o eleitorado.

A distribuição de verbas e cargos para angariar votos pela recusa da Câmara ao processo criminal contra Temer não constitui relação entre dois Poderes, o Executivo/governo e o Legislativo. É apenas relação entre Legislativo e o indivíduo Michel Temer.

A denúncia por atitudes políticas, mas por atos, palavras, participação e ligações do cidadão Temer, mesmo que usando a condição (ilegítima) de presidente.

Como recurso de Temer, a distribuição de verbas e cargos é feita com o fim de beneficiar uma pessoa, para livrá-la de responder pelos crimes de que é acusada. À falta de elementos convincentes de defesa, comprar votos contra o processo é o seu recurso.

Trata-se, portanto, simplesmente do mais óbvio e vulgar suborno pessoal. Crime também.

Esse suborno acentua a corrupção da atividade parlamentar. Além disso, na mesma medida em que almeja impedir o processo contra Temer, consiste em suborno para obstrução de justiça. E, embora a mobilização corruptora de parlamentares tenha fim apenas pessoal, os cargos distribuídos são remunerados pelo Tesouro Nacional e as verbas liberadas para deputados e suas emendas são subornos com dinheiro público. Corrupção múltipla.

Para derrotar na Câmara a primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República, Temer liberou para deputados, no mês que antecedeu a votação, R$ 2,1 bilhões de dinheiro público.

Com as liberações anteriores, o total foi calculado por uns em R$ 4,2 bilhões, por outros em mais R$ 1 bi. Isso, quando Temer mal acabara de assinar tetos e cortes em saúde, em educação, em saneamento, em obras de necessidade premente. Desde segunda-feira, Temer está recebendo deputados por ele chamados para conversar. Ou melhor, negociar.

Michel Temer salva-se pela corrupção. Salva-se com o que diz a denúncia que quer negada.



TIJOLAÇO

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