Das responsabilidades pela morte de Cancellier

por Luís Felipe Miguel

Não há dúvida de que uma grande parte da responsabilidade pela morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo cabe ao Judiciário, na figura da juíza Janaina Cassol Machado. Ela decretou uma prisão absolutamente desnecessária, cujo único objetivo discernível era abater moralmente e humilhar. Uma prisão decretada antes de que o preso tivesse sequer sido convocado a prestar esclarecimentos! A prisão foi revogada, mas a juíza manteve o reitor incomunicável, a despeito de um claro diagnóstico de depressão. Estava impedido de entrar no campus e, fora advogados e médicos, só podia falar com seu irmão, o jornalista Júlio Cancellier. Quando concedeu que ele retomasse algumas atividades acadêmicas, foi introduzindo uma nova humilhação: sua presença na universidade seria estritamente cronometrada, duas horas e meia, como se fosse um elemento tóxico ou radioativo.


Em suma: um exemplo perfeito da prepotência, da insensibilidade e do autoritarismo que, infelizmente, grassam no Judiciário brasileiro. Pergunto: uma vez que esse evidente abuso de poder levou a consequências tão trágicas, haverá algum tipo de punição à juíza?

Mas há uma cota de responsabilidade importante que cabe à mídia. Ela é a cúmplice ativa dos processos de pré-julgamento e assassinato moral promovidos pelo Judiciário. Ainda hoje, ao noticiar a morte do reitor, a Folha de S. Paulo escreve que ele integrava um grupo "suspeito de desviar R$ 80 milhões em recursos que deveriam ser investidos em programas de Educação à Distância".

Há duas inverdades na frase. Era o projeto totalizava R$ 80 milhões; o valor que se suspeita que tenha sido desviado é alto, mas não chega a 0,5% desse montante. E, mais importante, a acusação que pesava contra o Cau não era de participar do desvio, que teria ocorrido antes de sua gestão, mas de estar "obstruindo as investigações" (acusação que ele negava).

A mídia reproduz, de forma leviana, informações imprecisas ou mesmo falsas, embarca alegremente na culpabilização antecipada dos denunciados e, quando concede espaço para o contraditório, é apenas de forma burocrática e limitada. O Judiciário pode preparar os archotes, mas quem risca o fósforo para o linchamento moral é a mídia.

Ao noticiar desta maneira a morte do reitor, a Folha trabalha para esvaziar o sentido de denúncia contra a arbitrariedade que Cau buscou imprimir ao sacrifício de sua própria vida.

GGN

Comentário(s)

-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;

Postagem Anterior Próxima Postagem

ads

ads