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Por que Boulos não deve ser candidato
por Aldo Fornazieri


É legítimo que qualquer líder político e social que alcance uma projeção relevante e autêntica aspire ser candidato a altos postos da República, inclusive a presidência. Mas todo líder que quer alcançar a glória pelos seus feitos deve ter um autodomínio espartano sobre suas ambições e sobre a sua vaidade. Ambas podem conduzir a momentos luzentes de fama. Mas o líder que não as domina geralmente será carregado por elas para o sepulcro da história num lento, triste e solitário féretro.

Guilherme Boulos é o líder social mais relevante que se firmou no pós polêmico ano 2013. Culto, inteligente, qualificado teoricamente, vem mostrando que se conduz de forma equilibrada pelas virtudes da coragem e da prudência, essenciais à liderança política. Lidera o mais combativo movimento social que existe hoje no Brasil, principalmente num momento em que outros líderes políticos e sociais mostram-se acuados, contribuindo para a desmobilização social no enfrentamento do golpe e às reformas retrogradas implementadas pelo governo ilegítimo. Enfatizar a virtude da coragem de Boulos e do MTST é importante, pois sem ela não há como edificar algo de significativo para a emancipação de um povo, para a conquista da liberdade dos pobres e para a afirmação de seus direitos.

Independentemente das opções que os partidos progressistas e de esquerda venham a adotar em relação a constituição de um frente democrática ou ao lançamento de candidaturas presidenciais pulverizadas, penso que é inconveniente, tanto para as esquerdas quanto para Boulos, que ele se lance candidato presidencial neste momento. As razões são as que seguem.

A história em geral e a história brasileira em particular se guiam pelo princípio da escassez quando se trata da produção de grandes lideranças populares e progressistas. Ao longo do século XX, e no seu trânsito para o século XXI, apenas duas lideranças deste tipo se projetaram em nossa desaventurada: Getúlio Vargas e Lula. Claro que outros líderes importantes também se apresentaram, a exemplo de Brizola, Miguel Arraes, Jango, entre outros. Mas nenhum deles teve a projeção alargada que tiveram os dois primeiros no exercício de uma liderança simbólica e carismática junto ao povo.

Para que líderes desse tipo surjam e pontifiquem, são necessárias a combinação de uma série de singularidades, proporcionando a oportunidade ou a ocasião para que eles mostrem o seu valor e as suas virtudes. A Deusa Fortuna, como nos ensinou o nosso maior mestre, oferece apenas a ocasião. O líder virtuoso precisa percebê-la, aproveitar o momento maquiaveliano para realizar os seus objetivos, coadunados com os objetivos do povo. Cada um a seu modo, e levando em conta as circunstâncias e desafios específicos, Getúlio e Lula perceberam esses momentos e foram virtuosos em seu agir.

Lula está ali há quase 40 anos, pontificando como líder de um campo democrático e progressista. A partir de 1989 emergiu como líder maior desse campo. Note-se que sob a sua potestade surgiu uma espécie de efeito Átila: nenhum outro grande líder nacional e popular veio à luz ou firmou-se. Mesmo que Lula vença as eleições de 2018 e que venha a se tornar presidente, em termos de tempo histórico a próxima década será marcada pela superveniência da era pós-Lula no que concerne à liderança do campo popular, progressista e de esquerda.


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