
O programa econômico de Jair Bolsonaro torna claro a que vem sua candidatura: fazer do Brasil uma terra arrasada, com um povo miserável e completamente desassistido, fornecedor de matéria-prima e mão-de-obra barata. Desde que foi devidamente “centralizado” pelos norte-americanos no final de 2017, o ex-capitão do exército trouxe a tiracolo o Chicago Boy Paulo Guedes: um banqueiro discípulo direto de pais do neoliberalismo, como Milton Friedman.
Há décadas o imperialismo tem uma cartilha bastante bem definida, destinada a combater os Estados de bem-estar social formados no pós-guerra: privatização irrestrita, redução do estado, fim da saúde e educação públicas, fim da previdência, fim dos direitos trabalhistas, entrega do patrimônio nacional ao estrangeiro. Tais princípios foram firmados institucionalmente no chamado Consenso de Washington, adotado pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional desde 1989, traduzidos nos seguintes eufemismos: disciplina fiscal; redução dos gastos públicos; reforma tributária; juros de mercado; câmbio de mercado; abertura comercial; investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições; privatização das estatais; desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas); direito à propriedade intelectual.
Tal receituário já foi em grande medida implementado nos governos brasileiros da década de 1990: Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso. Com os governos do Partido dos Trabalhadores, foram mantidos em larga medida apenas os aspectos financeiros no neoliberalismo. Na via inversa, a crise econômica global de 2008 levou a uma pressão do imperialismo por implementar ainda com mais radicalismo sua política – sobretudo nos países periféricos, como os da América Latina. Embora o segundo governo Dilma Rousseff já apresentasse uma certa dose de concessão a essa pressão, ela não se mostrou suficiente.
Por meio do PMDB, os golpistas apresentaram a cartilha neoliberal em outubro de 2015, num programa chamado Ponte para o futuro. Nas palavras do próprio Temer, a recusa de Dilma em assumir a proposta levou ao seu impeachment fraudulento.
O governo de Temer buscou seguir à risca o Ponte para o futuro – e portanto o Consenso de Washington: implementou um novo regime fiscal, destruiu a legislação trabalhista, desmantelou vários setores da Administração Pública Federal, quer acabar com a previdência pública, com a educação e a saúde públicas e gratuitas, quer vender a preço de banana a Petrobras e a Eletrobrás a investidores estrangeiros.
Nesse sentido, a equipe econômica agrupada pelo imperialismo em torno à candidatura de Jair Bolsonaro promete aprofundar ainda mais os ataques à população. O militar teria a seu lado alguns dos brucutus parlamentares que ajudaram a empurrar as reformas de Temer no Congresso, como Onyx Lorenzoni (DEM) e o próprio Carlos Marun (MDB) – atual ministro da Secretaria de Governo de Temer – que declarou ver “similaridades entre a agenda e Bolsonaro e o governo Temer”. Para o desenvolvimento dessa agenda, o imperialismo teria destacado o ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga.
Os desenvolvimento imediato do programa de governo não poderia ser mais sombrio. Segundo divulgado nos últimos dias, Guedes e Fraga pretendem cortar completamente os investimentos em saúde e educação, desvinculando as receitas para esse fim dos orçamentos municipais, estaduais e federais. Pretendem ainda aumentar a carga tributária do consumidor, desonerando o grande empresariado. Pretendem extinguir a previdência pública quase que completamente, adotando um “sistema de capitalização” provavelmente privado.
Esse feroz ataque à população não pode ser detido na esfera institucional, completamente dominada pelos golpistas. Sabedores de que a reação popular tende a intensificar-se, eles apressam-se em apontar para o endurecimento do regime em curto prazo, rumo a uma ditadura militar – quer seja pelo governo de Bolsonaro, quer seja por um novo golpe. Somente com mão de ferro será possível ao imperialismo levar a cabo sua agenda. Por isso, é dever de todas as lideranças da classe trabalhadora organizar imediatamente a população para reagir nas ruas ao golpe com seus instrumentos tradicionais de luta: a agitação popular, a realização de atos, os “trancaços”, os piquetes, as greves etc. Todo local de trabalho, toda comunidade, deve constituir um comitê de luta e mobilizar-se, independentemente da campanha ou do resultado eleitoral. É preciso ter claro que essas eleições são completamente fraudadas, e que só um candidato aprovado pelos golpistas pode vencê-las. É preciso ter claro que a necessidade de mobilização popular é imediata.
Diário Causa Operária
Postar um comentário
-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;