O artista plástico Rodrigo Gonçalves Camacho com a homenagem a Jair Bolsonaro, em encontro nesta sexta-feira (28) – Reprodução Instagram
Um mapa desengonçado do Brasil construído a partir de cartuchos de balas em que o seu rosto resplandece em todo o centro.
Oferenda de um autointitulado artesão e designer do Rio, no que pese o terrível mal gosto, há de se admitir que a prenda condiz com a triste e brutal realidade que ora esse país se depara.
Eleito muito mais pelo sentimento de ódio, violência e culto à ignorância, um Brasil representado por um “Bolsonaro de bala” é o reflexo melancólico e anacrônico de uma sociedade que se esfacela e agoniza no chorume da própria mediocridade.
Talvez até por isso mesmo, não deixa de ser curioso que o suposto artista acredite piamente que a sua “obra” traga realmente algo de bom e de belo a partir da conjugação de dois símbolos incontestes da violência, da obtusidade, da intolerância, do preconceito, do racismo e da corrupção moral, ética e material.
Retratar um Brasil que já não se constrói com homens e livros, como queria Monteiro Lobato, mas com armas e estúpidos deveria ser um dever da arte como protesto, jamais como celebração.
É uma grotesca inversão de valores que muito diz sobre o futuro próximo que se avizinha.
Uma nação que começa a se refestelar com o primitivo instinto de matar sob a batuta de um desequilibrado que venera um torturador é o princípio falimentar de tudo que é digno, honesto e solidário.
É penoso admitir, mas milênios de avanços civilizatórios se desmoronam à nossa frente sob o que parece ser a concretização da visceral profecia de Nelson Rodrigues.
Quando legiões passam a ter orgulho de algo dessa natureza, começamos a perceber que os idiotas vão mesmo dominar o mundo.
À base de bala e de estupidez.
Por Carlos Fernandes


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