Vaza Jato: nova conversa aponta que Moro influenciou o MPF a excluir procuradora do caso Lula

Novos trechos de conversas entre os procuradores da operação Lava Jato e o ex-juiz federal Sérgio Moro foram divulgados no final da tarde desta quinta-feira (20) pelo jornalista Reinaldo Azevedo. As conversas mostram que o Ministério Público Federal (MPF) retirou a procuradora da força-tarefa da Lava Jato Laura Tessler da segunda audiência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a pedidos do então juiz federal Sérgio Moro.

As mensagens divulgadas por Azevedo durante o programa ‘O É Da Coisa’, da Rádio BandNews FM, contradizem a afirmação feita por Moro à Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) na última quarta-feira (19), quando esteve na CCJ para uma audiência sobre as conversas entre o ele e o promotor chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, que foram vazadas pelo jornal ‘The Intercept Brasil’ e que indicam que Moro coordenou as ações do Ministério Público Federal (MPF).

Durante a audiência na CCJ, o senador Nelson Trad (PTB-MS) questionou Moro se ele “participou da orientação de trocas de agentes protagonistas” na operação, fazendo referência a uma mensagem de Moro à Dallagnol, onde o ex-juiz reclamava da procuradora e pedia que ela recebesse um treinamento sobre como agir em uma inquirição em audiência.

Em resposta ao senador, Moro disse que “o que consta no caso divulgado pelo site é uma referência de que determinado procurador da República não tinha o desempenho muito bom em audiência e para dar uns conselhos para melhorar. Em nenhum momento no texto, há alguma solicitação de substituição daquela pessoa. Tanto que essa pessoa continua e continuou realizando audiências e atos processuais, até hoje, dentro da operação Lava Jato […] Se aconteceu, de fato, não tem nada de ilícito”.

Entretanto, as novas informações divulgadas nesta quinta mostram que, logo após a mensagem de Moro, Dallagnol entrou em contato com o também procurador do MPF Carlos Fernando, encaminhando a mensagem de Moro sobre a procuradora. Na conversa, Dallagnol sugere que seja feita uma revisão na escala e uma “reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar ela [Tessler]”, o resultou na mudança da equipe escalada para a audiência contra Lula. Ao invés de Tessler, Júlio Norona e Roberson Pozzobon representaram o MPF.

Confira abaixo as mensagens entre Dallagnol e Carlos Fernando:

12:42:34 Deltan: Recebeu a msg do moro sobre a audiência tb?

13:09:44 Carlos Fernando: Não. O que ele disse?

13:11:42 Deltan: Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegram não tá aberto aí no computador e que outras pessoas não estão vendo por aí, que falo

13:12:28 Deltan (Vc vai entender por que estou pedindo isso)

13:13:31 Carlos Fernando: Ele está só para mim.

13:14:06 Carlos Fernando: Depois, apagamos o conteúdo.

[encaminhada] 12:32:39 Moro: Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.

13:17:26 Deltan: Vamos ver como está a escala e talvez sugerir que vão 2, e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar ela

13:18:11 Carlos Fernando: Por isso tinha sugerido que Júlio ou Robinho fossem também. No do Lula não podemos deixar acontecer.

Os trechos foram divulgados no programa ‘O É Da Costa’ como parte de uma parceria de apuração entre o jornal ‘The Intercept’ e outros veículos de mídia, anunciada na a manhã desta quinta-feira pelo editor do Intercept Brasil, Gleen Greenwald. “Já estamos trabalhando com outros jornais/revistas no arquivo. Significa: 1) mais revelações serão reportados mais rapidamente; 2) ninguém pode alegar que a reportagem tem um viés ideológico; 3) quem quiser prender os que divulgar este material terá que prender muitos jornalistas.”, disse Greenwald em sua conta pessoal no Twitter.



Sul 21