Foto: Alan Santos/PR

"Bolsonaro e Doria estão empenhados em implantar uma agenda de retrocessos", afirma a deputada estadual Maria Izabel Azevedo Noronha, a professora Bebel, em artigo onde detalha o alinhamento político entre o presidente e o governador paulista


Por Maria Izabel Azevedo Noronha – Professora Bebel*
O Brasil e o estado de São Paulo têm sofrido profundamente com as consequências do desmonte das políticas públicas provocado por Jair Bolsonaro (PSL) e João Doria (PSDB). A dupla está empenhada em confirmar o que as expectativas mais pessimistas projetavam: a implantação de uma agenda de retrocessos.

Apesar de o governador paulista tentar se afastar do slogan “Bolsodoria”, do qual se valeu fartamente nas eleições, o cenário persiste. E o jogo da imitação vai bem além da flexão de braço que os dois protagonizaram como um verdadeiro show durante visita ao Comitê Paralímpico em São Paulo, em junho. Na administração pública, as ações do presidente ecoam no Palácio dos Bandeirantes.

Foi assim, por exemplo, com a redução do poder dos conselhos de participação social. Criados para tornar a gestão pública mais transparente e para incrementar a legitimidade das decisões do Estado por meio da participação dos cidadãos, esses conselhos passaram a incomodar o presidente Bolsonaro, que tentou exterminá-los por meio de decreto, o que só não aconteceu por decisão do STF. Em São Paulo, Doria também repetiu o movimento, desidratando espaços participativos importantes, como o Condephaat.

Na educação, o “Bolsodoria” é ainda mais assustador. O presidente não esconde de ninguém seu ódio às universidades federais. Vale lembrar que a expansão do ensino superior gratuito durante os governos do PT possibilitou que jovens das periferias e do interior do país chegassem, finalmente, à universidade, mudando seu próprio destino e o de suas famílias. Isso sem falar na relevância dessas instituições na pesquisa científica no Brasil. Mesmo assim, Bolsonaro anunciou o contingenciamento de verbas na educação. Em resposta, milhões de pessoas foram às ruas, em maio, protestar contra os cortes.

Em São Paulo, Doria, como de costume, seguiu a “tendência” e reduziu programas importantes como o transporte escolar por ônibus fretado e o programa de mediação escolar, fundamental para que a escola não seja palco de cenas de violência, como o caso do aluno que agrediu uma professora em Carapicuíba.

Além dos cortes, Doria repete os governos tucanos anteriores e desvia os recursos da educação para o pagamento de inativos. Foram R$ 2,8 bilhões somente este ano. Com escolas em péssimas condições de infraestrutura, professores com salários totalmente defasados e o aprendizado dos alunos em risco, o governador ainda acredita que a educação não precise dos 30% assegurados por lei.

Agora, mestre e discípulo anunciam que militares passarão a fazer parte do ambiente escolar. O governo federal quer implementar 108 escolas militares no país até 2023. Detalhe: com militares da reserva no papel de tutores, sem a formação específica necessária.

No estado, Doria anuncia que policiais militares serão os responsáveis pela segurança nas escolas. Trata-se de uma decisão simplista e populista, já que a solução para o problema da violência demanda um processo educativo, em um ambiente de formação, não de punição e controle.

Enfim, são tantos descalabros que, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada no último dia 8, a educação é hoje a principal preocupação dos brasileiros. Não podemos esperar pela próxima ”dobradinha”. Juntos —educadores, estudantes, as famílias e a sociedade— temos que dar um fim a esse pacto de destruição.

*Maria Izabel Azevedo Noronha, a Professora Bebel, é deputada estadual pelo PT e presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo de São Paulo (Apeoesp)
Revista Fórum

Comentário(s)

-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;

Postagem Anterior Próxima Postagem

ads

ads