
Trump e as crises de insanidades nos Estados Unidos
por Andre Motta Araujo
Aos que se chocam com a figura grotesca de Donald Trump presidindo os Estados Unidos registro que a democracia norte-americana teve, na sua história de 243 anos, crises temporárias de insanidade corrigidas na sequência histórica. Trump não é, portanto, a primeira e nem será a última crise desse tipo.
GUERRA CIVIL DE 1865 – Os Estados do Sul, chamados Estados Confederados pretendiam continuar a escravidão negra, algo que estava contrário ao tempo histórico. A Inglaterra tinha abolido a escravidão em 1807 e, sendo a maior potência global de então, nada indicava que qualquer outro País pudesse manter o regime escravocrata. Os confederados do Sul não achavam isso e acreditavam ser possível continuar com esse regime odioso. Abstraindo as considerações morais, é evidente que os Estados do Sul não teriam como ganhar a guerra e manter a escravidão, parando a História.
2. NÃO APROVAÇÃO PELO CONGRESSO DO TRATADO DE VERSALHES – O Tratado que pôs fim à Grande Guerra de 1914 foi de inspiração americana, obra intelectual do Presidente Woodrow Wilson, que dispendeu grandes e exaustivos esforços na sua elaboração, sua ideia de Liga das Nações, primeiro organismo multilateral geopolítico foi uma revolução histórica. Tratado e Liga NÃO foram aprovados pelo Congresso dos EUA, um vexame inédito, o Presidente americano ganhou o mundo e perdeu em casa, uma insanidade inexplicável para os europeus, uma crise de insanidade.
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3. LEI SECA – A 18ª Emenda à Constituição americana estabeleceu a proibição de fabricação e consumo de bebidas alcoólicas, vigorou entre 1920 e 1933, foi de uma estupidez unida pela sua inviabilidade óbvia. O pano de fundo foram as seitas evangélicas que dominavam o centro dos EUA, a Lei Seca produziu como resultado permanente a criação de grandes grupos de crime organizado no País, notadamente a Máfia siciliana, um desastre histórico.
4. MACARTISMO – Alucinação anticomunista propagada por um Senador de baixo clero, oportunista, populista e canalha, Joseph Mc Carthy, que por uma cruzada moralista sacrificou a vida de milhares de alvos de investigação, especialmente artistas, escritores, diplomatas, líderes sindicais. A onda macartista, que mobilizava o apoio popular, terminou quando o Senador quis investigar o Exército e aí foi barrado e desmascarado. Durou de 1950 a 1957 e constituiu uma nuvem de chumbo sobre a política americana. Mc Carthy morreu em 1957, de doença relacionada com o alcoolismo, desmoralizado e em desgraça, grande parte de suas alegações eram falsas, um de seus alvos foi Charles Chaplin, que teve que fugir dos EUA para não ser preso.
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TRUMP, UM PONTO FORA DA CURVA – A Presidência dos EUA desde o pós-guerra foi ocupada por políticos de primeira ordem como o General Dwight Eisenhower, John Kennedy, Richard Nixon, George Bush, Bill Clinton, Barak Obama. Trump foi inesperado. Empresário de carreira sempre duvidosa, especializado em operações imobiliárias com empreendimentos que causaram grandes prejuízos a compradores e credores, no mundo inteiro há espanto e incredulidade que tal personagem pôde atingir a presidência americana, sob a legenda de um partido de elite ao qual ele nunca pertenceu antes e com a possibilidade de ser reeleito, mesmo rejeitado pelos Estados das duas costas, especialmente os dois maiores Estados, Nova York e Califórnia, mas com apoio nos Estados centrais.
A eleição de Trump é apontada por historiadores como prova da decadência dos EUA mas, como apontamos acima, os EUA tem recorrência de crises de irracionalidade, quando parece que o País perdeu o juízo. Salva seu poder político o sólido arcabouço institucional que se mantém indestrutível desde a Guerra Civil. Os estragos geopolíticos de Trump serão, contudo, de difícil reparo, quebrou todas as alianças estratégicas e comerciais construídas pelo País desde 1945, agrediu os melhores amigos dos EUA e alisa os piores inimigos autoritários.
O resumo acima é superficial, a história dos EUA é complexa, extensa e rica e para sua compreensão é necessário mergulhar nos livros.
Para conhecer o pano de fundo social que afeta a política do século XX é fundamental um mergulho na DRAMATURGIA SOCIAL AMERICANA, que vai de 1920 a 1940, especialmente com os autores clássicos Clifford Odetts, Arthur Miller, Tennessee Williams, Wiliiam Faulkner, Ernest Hemingway, Eugene O´Neill, Theodore Dreiser, F. Scott Fitzgerald, que pintaram um fascinante panorama da sociedade americana, especialmente na Grande Depressão e nos anos de Guerra. Já escrevi alguns artigos aqui sobre esses autores e sobre sua época, talvez a mais interessante dos últimos 100 anos na história americana.
GGN
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