Carlos Fausto. © Todos os direitos reservados
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Destruição da Amazônia e ofensiva de Bolsonaro contra as terras indígenas é pauta nos EUA
por André Sampaio, em Nova York
O Amazon Hope reuniu grandes nomes da pesquisa e do ativismo ambiental pela Amazônia e teve como objetivo principal apresentar projetos de preservação do Xingu a potenciais investidores novaiorquinos.
Durante os dias 09, 10 e 11 de outubro, arqueólogos, antropólogos, artistas e pesquisadores se reuniram em encontro organizado pela William Talbott Hillman Foundation e pelo antropólogo Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida, com mais de 20 anos de estudos no vale do rio Xingu.
Heckenberger conta que a ideia surgiu de uma conversa que teve com Willian Hillman, herdeiro da família, quando o Museu Nacional do Rio de Janeiro pegou fogo, em setembro de 2018.
“Vamos apresentar um projeto para atrair a atenção de investidores dos Estados Unidos e do povo novaiorquino. Mostrar a eles a grave situação do Brasil. Temos que juntar nossas forças, fazer uma parceria para capturar recursos necessários para tentar viabilizar algum projeto na Amazônia”.
Dentre os participantes estava o cineasta Takumã, da comunidade indígena Kuikuro, do Alto Xingu.
Para ele, foi uma reunião importante para fortalecer o apoio internacional à causa indígena no Brasil.
“O audiovisual representa nosso conhecimento, nossa cultura. É muito importante levar nossa mensagem pelo mundo por meio do audiovisual. É uma forma importante de conscientizar as pessoas e trazê-las para nossa luta”, disse Takumã.
Depois de passar por Nova York, ele viajaria para Londres e Madri.
O americano Glenn Sheppard, antropólogo do Museu Goeldi, de Belém do Pará, conta que um grupo de mais de 60 pessoas e 20 instituições, incluindo antropólogos, arqueólogos, psicólogos e artistas, assinaram uma carta que acaba de ser publicada na revista literária New York Review of Books.
A carta denuncia o governo Bolsonaro e seu discurso no plenário da Organização das Nações Unidas (ONU): “A proteção dos direitos indígenas faz parte da Constituição do Brasil. Uma violência contra os povos indígenas é uma violência contra o Brasil, contra a Constituição, a lei e a cultura do país. Espero que a carta ajude a despertar o interesse internacional sobre essa situação”, afirma Sheppard.
O texto também que diz apesar de Bolsonaro denunciar a interferência estrangeira como suposta ameaça à soberania do Brasil, o que se pede é nada mais que “o cumprimento de leis existentes e a proteção dos direitos indígenas previstos na Constituição e nos múltiplos acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário”.
O presidente da República está sob pressão de sua base política para, por exemplo, autorizar o garimpo em terras indígenas, o que hoje é proibido por lei.
Foi uma das promessas de sua campanha eleitoral em 2018.
Bolsonaro comparou os indígenas brasileiros a “latifundiários pobres”.
Steve Schwartzman, do Environmental Defense Fund, que trabalhou na Amazônia por mais de 20 anos, afirma que a preservação da floresta e de territórios indígenas na Amazônia pode fazer uma diferença substancial para o futuro da atmosfera do planeta.
“A nossa casa está em chamas e sabemos que umas das soluções para esse problema é a defesa dos territórios indígenas e seus direitos. Juntar esse grupo de pessoas que tem experiência com a cultura indígena e alta tecnologia de monitoramento e defesa do território é um passo importante para contribuir com a resistência para proteger esses territórios”, afirma.
Outra estratégia defendida no evento foi o uso da arte para conscientização sobre a cultura e os problemas indígenas.
Para Gabriel Kozlowski, professor do Departamento de Arquitetura do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e co-curador do Pavilhão do Brasil na 16 Mostra Internacional de Arquitetura na Bienal de Veneza, é “fundamental levar, também por meio da arte, o conhecimento da cultura indígena do Brasil para o mundo, não só por uma valorização da cultura indígena em si, mas para tentar criar um entendimento de que o Brasil não pode ser olhado através de uma lente que tem um cunho colonizador”.
Gringo Cardia, designer e arquiteto brasileiro, diz que nesse momento é necessária uma comunicação forte entre a Ciência e a Arte.
“A gente tem que ter uma comunicação muito forte da Ciência para as pessoas e eu acho que a Arte é um instrumento para isso”.
A arqueóloga Helena Lima, também do Museu Goeldi, afirmou que a arqueologia pode funcionar como uma ferramenta de defesa muito importante da Amazônia.
“Infelizmente na nossa sociedade o discurso científico é tido como mais legítimo do que as narrativas tradicionais indígenas. Uma vez colocados em uma mesma esfera, ou categoria, a gente consegue trabalhar junto e assim criar formas de demandas de lutas políticas e sociais para esses povos. A arqueologia como uma forma de ativismo político social, de luta por essas comunidades. A arqueologia só vai fazer sentido se as narrativas que ela produz e reproduz tiverem algum impacto nessas comunidades”.
O evento também contou com a participação de representantes da Universidade de São Paulo, do Museu Nacional, da Universidade de Vermont, The Pennywise Foundation, Carnegie Museum of Natural History e da Associação das Terras Indígenas do Xingu, dentre outros.
Para Heckenberger, o encontro foi importante para criar uma rede entre diferentes pessoas que trabalham na área.
Dois projetos apresentados, um para monitorar e conter o fogo na região — parceria entre indígenas, pesquisadores e instituições que fazem o monitoramento — e outro de divulgação da arte e da cultura do Xingu em feiras de arte e exposições, foram bem recebidos por investidores.
Além do evento foi organizada a Affirmation Art, uma exposição com fotos de Sebastião Salgado e do etnólogo do Museu Nacional Carlos Fausto, além de artefatos indígenas.
As palestras realizadas durante o evento estão disponíveis no site da Pennywise Foundation.
Serviço
A exposição foi inaugurada no dia 11 de outubro e fica aberta até o dia 14 de novembro.
Endereço: Affirmation Arts, 523 W 37th St.
Viomundo


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