Milicianos prometem matar indígenas em Cochabamba, na região onde morava Evo Morales.
Jeanine Añez, autoproclamada presidente, havia usurpado o cargo de presidente do Senado, mesmo com o Parlamento paralisado por falta de quorum (o partido de Evo Morales, o Movimento ao Socialismo, tem maioria de dois terços nas duas casas).
Usando a mídia parceira do grupo Unitel — a Globo da Bolívia, sediado em Santa Cruz de la Sierra, a base política do golpe — e as redes sociais, Jeanine pressionou o comandante do Exército a colocar tropas nas ruas.
O general, o mesmo que “sugeriu” a Evo Morales renunciar, finalmente aceitou colocar tropas para atuar conjuntamente com a polícia e milicianos de Luis Fernando Camacho, um dos principais líderes da oposição.
Camacho comanda o Comitê Cívico de Santa Cruz, que se reúne sob o Cristo Redentor da maior cidade da Bolívia. Ele prometeu a “restauração” da Bolívia em nome do Senhor, mas com discurso de defensor da democracia.
Milicianos ligados a ele, bem organizados e armados, tocaram fogo nas casas e ameaçaram sequestrar parentes de autoridades da Bolívia para forçá-las a renunciar, de acordo com denúncia de Evo Morales, o primeiro presidente indígena da Bolívia.
Dentre as vítimas, os governadores de Oruro e Potosí e a prefeita de Tinto, Patricia Arce Guzman, que teve os cabelos cortados, foi pintada de vermelho e agredida por extremistas, antes de ser “resgatada” pela polícia, depois de sofrer humilhação pública.
A ação, transmitida pelas redes sociais, teve como objetivo amedrontar partidários de Evo Morales, obedecendo ao padrão da operação Choque e Espanto, que precedeu a invasão do Iraque pelos Estados Unidos.
“Macho” Camacho, como é conhecido, é de uma família que controla o Grupo de Inversiones Nacional Vida, que tem interesses no setor do gás natural e seria grande beneficiária de eventual privatização da estatal YPFB.
A Bolívia é grande fornecedora de gás natural para a indústria paulista. O acordo estava em fase de renegociação quando Evo Morales foi derrubado.
O “pagamento” ao apoio brasileiro ao golpe pode se dar na redução do preço do gás e nos processos de privatização da YPFB, negócios que Camacho potencialmente poderia influenciar para beneficiar empresários brasileiros, ligados ou não ao governo Bolsonaro.
Agora Jeanine se autoproclamou presidente, em sessão parlamentar sem quorum.
Brasil e Estados Unidos, promotores do golpe teocrático-militar com tinturas fascistas, reconheceram Jeanine imediatamente.
Ambos já haviam reconhecido Juan Guaidó, num padrão que demonstra o caráter internacional do golpe, dado provavelmente com apoio da Central de Inteligência Americana e do Mossad, através de intermediários.
Jeanine assumiu sorridente, fez discurso tendo ao lado a bandeira simbólica da maioria quéchuia e aymará da Bolívia (mantida na faixa presidencial), bandeira que ela própria havia desprezado anteriormente em discurso.
Seguidores de Luis Fernando Camacho, o ditador de fato da Bolívia, haviam queimado a wiphala nas ruas. Policiais foram gravados arrancando o símbolo de seus uniformes.
A “restauração” fascista da Bolívia quer acabar com o Estado Plurinacional criado por Evo Morales, que direcionou orçamento do gás natural a benefícios sociais para a maioria aymará e quéchua da Bolívia (cerca de 55% da população).
A imprensa local e brasileira desconhece os vídeos que provam o massacre a que estão sendo submetidos partidários do antigo governo, nas ruas e em casa.
Os vídeos registram a invasão de casas, o espancamento de partidários de Evo, pessoas mortas e feridas à bala — algumas vezes com o testemunho registrado de milicianos pró-Camacho, que humilham as vítimas.
As imagens são um exemplo do que pode acontecer no Brasil em um golpe bolsonarista, que teria apoio de milicianos, PMs, setores do Exército e dos Estados Unidos.
A Central Obrera Boliviana deu 24 horas para que a ordem constitucional seja restabelecida e ameaçou com uma greve geral de caráter nacional.
Lideranças indígenas, especialmente do município de El Alto, também prometeram se rebelar.
Porém, Evo Morales armou as Forças Armadas com aviões e blindados que agora passam a ser usados contra a população.
Enquanto Jeanine levava uma Bíblia ao Palácio Quemado, onde usurpou o cargo de presidente, era denunciada pelo presidente Evo Morales, exilado no México:
Se ha consumado el golpe más artero y nefasto de la historia. Una senadora de derecha golpista se autoproclama presidenta del senado y luego presidenta interina de Bolivia sin quórum legislativo, rodeada de un grupo de cómplices y apañada por FFAA y Policía que reprimen al pueblo.
Viomundo


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