Mais de cem mortos e mil detidos, este é o saldo aproximado dos últimos dias de manifestações no Irão contra o aumento dos combustíveis em 50%. O acesso à internet foi cortado no país durante o auge dos conflitos que as autoridades asseguram estar já controlados.

20 de Novembro, 2019

Banco incendiado em Shahriar, Irão, na sequência da revolta
contra o aumento dos combustíveis. Novembro de 2019.
Fotografia EPA/LUSA. Autor: ABEDIN TAHERKENAREH
O número de mortos, 106, é avançado pela Amnistia Internacional. O número de detidos, mil, é reconhecido pelas próprias autoridades. Embora não haja certezas sobre nenhum deles, o que parece consensual é que a vaga de contestação no Irão ganhou dimensões consideráveis, só comparáveis aos protestos de 2009 contra uma suposta fraude na eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad e de 2011/12, na sequência da primavera árabe.

Os protestos, que chegaram a cem cidades, irromperam devido ao aumento dos preços dos combustíveis em 50% anunciado dia 15 de novembro. O presidente Hassan Rouhani prometeu que esse aumento iria reverter para novos subsídios de apoio aos 60 milhões de iranianos mais pobres mas a justificação não convenceu num país que tem as quartas maiores reservas de crude e no qual tradicionalmente a gasolina é das mais baratas do mundo.

Para além das causas imediatas, a mobilização terá tido os motivos que já terão feito parte dos protestos anteriores. Agravados pela crise que se acentuou devido às sanções dos Estados Unidos.

Apesar da escassez de informações, há notícias de bloqueios de estradas, de bancos e edifícios públicos incendiados.

Esta terça-feira, a Amnistia Internacional lançou um comunicado em que, apoiada em relatos “de testemunhas credíveis” e através de “vídeos autenticados”, contabilizou pelo menos 106 vítimas mortais resultantes de um “padrão angustiante de mortes ilegais pelas forças de segurança iranianas, que usaram força excessiva e letal para esmagar protestos maioritariamente pacíficos”. A mesma fonte indica que outros relatos sugerem que o número de mortes possa chegar aos 200.

Os vídeos referidos pela organização não governamental mostram as forças de segurança a utilizar armas de fogo, canhões de água e gás lacrimogéneo. Segundo a AI também há provas de agressões com bastões e imagens de cápsulas vazias de balas deixadas nos locais das manifestações.

O governo iraniano considerou estes dados “alegações sem bases e números fabricados”.

No sábado, o acesso à internet tinha sido bloqueado, ficando apenas disponíveis os meios de comunicação estatais.

Na passada segunda-feira, os Guardas da Revolução fizeram circular um comunicado em que se diziam disponíveis a “reagir de forma decisiva (…) face à continuação da insegurança e de ações que perturbem a paz social”. Uma ameaça cujo prazo terá passado já que neste momento o discurso oficial é que a situação está estabilizada. Mais tarde, Golamréza Soleimani, chefe dos Guardas da Revolução, ao acusar os EUA de terem originado os protesto, tinha já outro tom: “desta vez, os americanos não conseguiram e mais uma derrota se somou ao seu palmarés”.

Esquerda

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