Em um texto irônico, Eric Nepomuceno, do Jornalistas pela Democracia, agradece ao ministro da Economia "por ter me trazido a luz" em sua declaração absurda em Davos, de que os pobres destroem o meio ambiente quando têm fome. "Além de tudo que eu já achava de você, agora sei que sua prepotente indecência e sua imbecilidade não conhecem limites", escreve o colunista

(Foto: WORLD ECONOMIC FORUM/WALTER DUERST)

Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia - O governo de Jair Messias está coalhado de pessoas cuja capacidade de surpreender o mundo é insuperável.

Agora foi a vez, de novo, de Paulo Guedes, o ex-funcionário da ditadura de Augusto Pinochet, a mais sanguinária do Chile e uma das mais sanguinárias da história contemporânea desta Nossa América.

Falando em Davos, na Suíça, no encontro anual que reúne mandatários, ministros e os donos do dinheiro do planeta, Guedes saiu-se com uma explicação sensacional.

Sabedor que seu atual patrão é visto no mundo inteiro como um inimigo inoxidável do meio-ambiente, Guedes tratou de esclarecer a verdade dos fatos. Ou seja: a pobreza, e não Jair Messias e sua cambada, é a maior inimiga do meio-ambiente.

Os pobres destroem o meio-ambiente porque precisam comer. Como é que ninguém, absolutamente ninguém, se deu conta dessa obviedade?

Devo admitir que nem o patético ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles, seria capaz de ser tão esclarecedor.

O mundo inteiro achando que o meio ambiente brasileiro é destruído por mineradoras, por garimpeiros ilegais, por invasores de terras públicas e de reservas indígenas, por madeireiros ávidos, por latifundiários gananciosos e inescrupulosos, todos e cada um deles devidamente estimulados por Jair Messias e a leniência de seu governo, e todos nós, o mundo inteiro e eu, redondamente enganados: o que destrói o meio ambiente é a pobreza, é esse bando de famélicos que devoram árvores.

Claro que de imediato cientistas, ambientalistas, militantes da causa da natureza e as nefastas ONG’s despejaram críticas duríssimas contra Paulo Guedes. Claro que a imagem do Brasil no mundo, que já andava péssima, avançou um pouco mais rumo ao isolamento.

Mas também é claro que quem critica faz parte da grande conspiração contra a soberania nacional, do marxismo cultural que está cada vez mais impregnado em tudo que é lado.

Aliás, por falar em impregnar, Paulo Guedes também defendeu, com a veemência habitual, o uso de agrotóxicos.

Reconheceu que não temos (nem teremos) um meio-ambiente limpo, mas justificou: ‘As soluções não são simples. São complexas’.

Lembro de novo, aqui, o comentário que ouvi há anos de um amigo sagaz: ‘Tem limite para tudo nessa vida, até para saque em caixa eletrônico’.

Pois é: para tudo, menos para o governo de Jair Messias.

Para tudo, menos para a capacidade de disparar imbecilidades aos montes, assombrando plateias mundo afora.

Que Paulo Guedes sente ojeriza por pobres e trabalhadores já tinha ficado mais do que claro. Mas que sua imaginação fosse capaz de chegar a semelhante disparate não deixa de ser uma surpresa.

E eu, cá na minha ignorância, achando que latifundiários, construtores de barragens, desmatadores acobertados tinham a culpa... santa inocência, a minha, que nunca percebi que os mortos de fome derrubam a floresta para fazer salada de folhas e churrasco de troncos...

E eu, pensando que Paulo Guedes jamais passou de ser um economista desprezado por seus pares, e por isso mesmo um ressentido amargado, um ex-funcionário de Pinochet que bem que quis implantar aqui o mesmo regime de previdência que resultou na explosão popular faz pouco tempo e que mantém o governo direitista de Sebastián Piñera acossado contra a parede... Pois eu, cá comigo, achando que Guedes não era nada mais que um sacripanta perigosíssimo, pela sua capacidade de destruir o país... quanta injustiça, a minha.

Obrigado, Paulo Guedes, muito obrigado por ter me trazido a luz. Além de tudo que eu já achava de você, agora sei que sua prepotente indecência e sua imbecilidade não conhecem limites.



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