O presidente continua pisando na casca de banana que os governadores respeitosamente jogaram em seu caminho. Nesta manhã, em seu twitter, pediu uma “ perícia independente” sobre a morte do miliciano

Por Helena Chagas


Presidente Jair Bolsonaro - Foto Orlando Brito

Jair Bolsonaro conseguiu o feito inédito de unir contra si vinte governadores das mais diversas tendências e matizes políticos. A carta dos governadores tem como pano-de-fundo a sucessão de desentendimentos entre o chefe do Executivo e os titulares das administrações estaduais — a última, o desafio para que reduzam o ICMS dos combustíveis. Mas os signatários fizeram questão de mirar o ponto mais fraco do presidente da República: a relação com integrantes das milícias do Rio como o ex-capitão Adriano da Nóbrega, morto pela polícia baiana na semana passada.


Governador Rui Costa, da Bahia – Foto Orlando Brito

Ao dar centralidade em sua carta à solidariedade ao governador petista da Bahia, Rui Costa, acusado por Bolsonaro pela suposta execução de Nóbrega, os governadores elevam o tema ao patamar de questão institucional. E expõem Bolsonaro como nunca.

Graças ao caso Adriano, o presidente da República deixou de lado seu comportamento habitual de apoiar a violência policial para formar ao lado de defensores dos direitos humanos — no caso, os direitos de Adriano, miliciano e amigo da família. Não que ele não tivesse direito e eles, como qualquer pessoa; o que se destaca aqui é a inflexão no discurso presidencial. Alguém já havia imaginado ver Bolsonaro esbravejando contra a execução de um “ bandido” ?

Mas isso é pouco. O presidente da República continua pisando na casca de banana que os governadores respeitosamente jogaram em seu caminho. Nesta manhã, no twitter, pediu uma “ perícia independente” sobre a possível execução, usando recurso e linguagem próprias da oposição e de quem questiona perícias oficiais, feitas por instituições públicas  como a Polícia, o Ministério Público, etc. Alguém já viu um presidente defendendo perícia independente da que dos órgãos do Estado?


Ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, acusado de chefiar milícias no Rio – Foto Divulgação/Polícia Civil

Não contente, na sequência de tuítes de hoje pela manhã,  Bolsonaro trai sua enorme preocupação com o que pode ser encontrado nos telefones de Adriano: “quem fará a perícia nos telefones do Adriano? Poderiam forjar trocas de mensagens e áudios recebidos? Inocentes seriam acusados do crime?”.

Enquanto isso, no mundo lá fora, rola a greve dos petroleiros, a tentativa de fechar o texto da reforma da Previdência, os números débeis da economia, etc. Bem estranhas as preocupações desse presidente da República, e inevitável agora a curiosidade, depois que ele levantou a lebre: quem andou falando com Adriano?


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