Do jornalista e escritor Ruy Castro, em sua coluna na Folha hoje
Tribunal do Futuro
Há uma sensação de que, se Jair Bolsonaro não for amarrado a uma árvore e amordaçado antes de tomar mais medidas desastrosas, o custo em vidas —pessoas que não precisariam nem ter sido infectadas e que morrerão— será incalculável. Mas, um dia, essas vidas terão de ser calculadas. Todos os membros do governo que, por atos ou palavras, se opuseram à política de isolamento social e contribuíram para a disseminação do coronavírus serão obrigadas a pagar por isso.
Entre esses, deverão incluir-se o senador Flávio Bolsonaro e o ministro da Destruição do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Eles postaram um vídeo do dr. Drauzio Varella gravado há dois meses, quando a situação era diferente, como se se referisse a hoje, e depois pediram "desculpas pela distração". Essa "distração" pode ter tirado de casa e exposto à doença milhares de pessoas que respeitam Drauzio Varella e seguem sua orientação.
Na apuração das cumplicidades, não poderão faltar pascácios como Regina Duarte, secretária da Cultura, e seu subordinado que lhe é superior, Sérgio Camargo, diretor da infeliz Fundação Cultural Palmares —nenhum deles agente sanitário ou sequer mata-mosquitos, mas que se apressaram a aderir à política de contaminação.
O general Augusto Heleno, chefe de um gabinete-fantasma, deveria ter refreado seu incompreensível instinto de superioridade e obedecido à quarentena que, como infectado, foi ordenado a cumprir. Ao sair de casa e roçar suas ombreiras nos colegas, pode estar lhes repassando suas patogenias. E, num nada hipotético tribunal do futuro, o próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, não sairá impune se consumar a troca de seu juramento na medicina pela política irresponsável de Bolsonaro.
Aliás, chamar Bolsonaro de irresponsável também não é correto. Ele é o grande responsável pelo que vier a acontecer no Brasil —e a isso terá de responder.

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