“A diferença da política interna para a externa é que, no caso da primeira, a população tem que aguentar, a não ser que Bolsonaro caia”, diz pesquisadora

Por Eduardo Maretti, da RBA

ARTHUR MAX/MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES
A cara da política externa: Eduardo Bolsonaro e Ernesto Araújo causam danos irreparáveis

São Paulo – A crise política brasileira desmascara Jair Bolsonaro. As atitudes insanas do presidente da República causa, internamente, estragos proporcionais aos criados por suas atitudes, seu governo e seu clã em relação à política externa. A avaliação é da pesquisadora Miriam Gomes Saraiva, do departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

“Aqui, ele vai na manifestação (a seu favor, dia 15 de março), e diz que é uma ‘gripezinha’. No plano externo, a indelicadeza com a China, por exemplo, tem mesma cara do que é seu tropeço interno”, diz

Para a professora, tanto na frente interna como externa, os gestos de Bolsonaro mostram “sua incapacidade de ver o mundo e que está completamente fora da realidade, falando para uma plateia, e o resto não conta”.

Para ela, assim como no comportamento direcionado à população brasileira, a política externa do atual governo mais se assemelha a um jogo.

“Em vez de tratar da realidade das populações, com pessoas doentes, com riscos, eles fazem um jogo. A história de Eduardo Bolsonaro com a China (ao atribuir a culpa da pandemia de coronavírus ao país asiático) caiu muito mal. E o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) replica. Mas depois do Itamaraty soltar uma nota oficial sobre isso, a China foi quase obrigada a cobrar retratações”, avalia a professora da Uerj.

A chegada do coronavírus ao país desmascara, definitivamente, para uma população que já abrange seus próprios apoiadores, que as políticas do atual governo são danosas à economia e à vida. Tanto que os secretários estaduais de Educação decidiram ignorar o pronunciamento de Bolsonaro desta terça-feira (24) e mantêm as escolas fechadas.

Sorte deles

Na mesma terça-feira, em carta enviada aos líderes do G-20, recebida por Bolsonaro, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, reforçando recomendações de especialistas e sanitaristas de todo o planeta, afirmou haver  risco de uma “pandemia de proporções apocalípticas”, segundo o colunista  Jamil Chade.

Enquanto isso, o presidente brasileiro ataca governadores e as políticas estaduais de prevenção e combate à pandemia, como fechamento de escolas, do comércio e a promoção da quarentena; classifica a doença como “gripezinha”; e ainda diz que a covid-19 provoca “raros casos fatais, de pessoas sãs, com menos de 40 anos”, inclusive menosprezando e discriminando os idosos praticamente como pessoas descartáveis.

“A diferença da política interna para a política externa é que, no caso da primeira, a população tem que aguentar, a não ser que Bolsonaro caia, posto que ele briga com diferentes forças políticas”, diz Miriam. “Já na briga para fora do país muitas vezes o ator externo não tem por que levar tão a sério, e vira a página. O Brasil tem peso grande no mundo, não é tão simples que um parceiro como a China simplesmente delete.”

Mas, tanto no âmbito interno quanto externo, Bolsonaro não encontra limite para a irracionalidade, o que pode ter consequências graves, até mesmo para ele. “Não me espantaria se ele não concluísse o mandato”, aponta a pesquisadora. “Na frente externa, também há limite de tolerância, e o parceiro externo pode até fazer isso, deletar. E, para uma parceria ser reconstruída depois, é mais difícil.”

A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2019, a balança comercial com o país asiático registrou superávit de US$ 29,5 bilhões. Os chineses compraram US$ 65,3 bilhões em produtos brasileiros, enquanto o Brasil exportou US$ 35,8 bilhões.


RBA

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