DESCONTROLE

Apesar de média acima de mil mortos por dia durante a semana, muitas cidades e estados seguem relaxando medidas de isolamento social. Para pesquisador da Fiocruz, ações são equivocadas

Por Gabriel Valery, da RBA
Bruno Cecim/Ag.Pará
"Dados não deixam dúvidas de que a epidemia de covid-19 está em expansão do país e que o pior ainda pode estar por vir", afirma epidemiologista  Bruno Cecim/Ag.Pará


São Paulo – O Brasil chega a esta sexta-feira (26) com 1.274.974 infectados pela covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Nas últimas 24 horas, foram 46.860 novos casos, um dos períodos com mais casos registrados desde o início do surto, em março.

Já o número de mortos chegou a 55.961, com 990 registrados no período equivalente a um dia. A semana vai chegando ao seu final com média acima das mil mortes diárias e alto índice de contágio. Estudos de diferentes entidades da área da saúde, como o Imperial College da Inglaterra e a Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, apontam a pandemia no Brasil como descontrolada.

O país é o atual epicentro do coronavírus no mundo e os número da doença em território nacional seguem em patamares altos. Sozinho, o Brasil tem mais mortos e casos do que todos os demais países latino-americanos somados. Isso mostra a falta de diretrizes e de articulação do governo Bolsonaro para lidar com a pandemia. Desprezando o tempo todo o potencial de contaminação e a letalidade do novo coronavírus, o presidente não demandou nenhum trabalho preventivo, e as poucas ações tomadas após a chegada da infecção ao país, só fizeram aumentar a disseminação.

Números consolidados pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass)

Sem comando


O epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jesem Orellana vê coerência nos alertas emitidos pelos órgãos de vigilância em Saúde. “Os dados não deixam dúvidas de que a pandemia de covid-19 está em expansão no país e que o pior ainda pode estar por vir”, disse à RBA.

O cenário é delicado já que, após a demonstração de uma tendência de estabilidade da pandemia no país, diversas cidades e estados passaram a relaxar medidas de isolamento social. Com o afrouxamento da proteção às pessoas por parte de prefeitos e governadores, o cenário confirma-se caótico.

Para o especialista, o que se vê é que o Brasil não consegue reduzir os números da pandemia e está longe de viver tempos melhores. “Tal conclusão é válida tanto para novos casos que são descobertos diariamente, tanto para o número de óbitos que, aliás, na semana de 18 a 24 de junho de 2020, foi de mais de mil por dia”, disse o epidemiologista.

O epicentro regional da pandemia é São Paulo. O estado tem 258.508 infectados e 13.966 mortos, sem contar a subnotificação, que é praticamente consenso entre especialistas, reconhecida mesmo pelo poder público. Na semana em que o estado registrou recorde de mortos em um dia, o governador, João Doria (PSDB) e seu correligionário, prefeito da capital, Bruno Covas, anunciaram um plano para reabertura de bares, restaurantes e barbearias na próxima semana.

Jesem, que trabalha em Manaus, uma das cidades mais afetadas no início do surto, faz uma comparação entre as regiões. “Outra observação geral é de que os números de doentes e mortos na região norte sugerem que o espalhamento massivo do novo coronavírus é mais recente do que no Sudeste, por exemplo. Ou os tempos e ritmos de espalhamento são diferentes, bem como suas consequências em termos de mortalidade, já que no Norte há menos estrutura médico-hospitalar, laboratorial e de recursos humanos para atuarem dentro e fora dos hospitais, em especial na vigilância epidemiológica e atenção básica”, disse.

Mesmo em cidades que registraram queda nos números, isso pode ser um falso indicador de estabilidade, já que muitos brasileiros ainda não tiveram contato com o vírus e estão suscetíveis à covid-19. “Em Manaus ocorreu queda brusca no total de mortes nas últimas semanas, o que não significa que em toda a região norte esse número de mortes novas também diminuiu, ao contrário, esse processo de interiorização segue para comunidades/cidades menores e terras indígenas”, completou o epidemiologista.

Números da pandemia nos estados mais afetados

Edição: Fábio M. Michel

Rede Brasil Atual

Comentário(s)

-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;

Postagem Anterior Próxima Postagem

ads

ads