Chega a dar calafrios a leitura da reportagem de Paulo Cappelli, em O Globo, em que Roberto Jefferson diz que Jair Bolsonaro está “muito inclinado” a ir para o PTB, segundo uma mensagem para outro correligionário.
Bolsonaro no PTB seria a última e mais grave profanação da legenda criada por Getúlio Vargas como ferramenta de uma política nacional e social que era a antítese do que faz Bolsonaro.
Quando, em 1980, Golbery do Couto e Silva, Ivete Vargas e o TSE tiraram de Leonel Brizola e dos trabalhistas a sigla histórica, muitos acharam que era cenográfico o gesto de amargura do gaúcho de rasgar as três letras escritas no papel.
Poucos, como Carlos Drummond de Andrade, seriam capazes de ver o drama real daquele esbulho histórico e o poeta que sabia o valor das palavras escreveu, no JB de três dias depois:
Vi um homem rasgar o papel em que estavam escritas as três letras que ele tanto amava. Como já vi amantes rasgarem retratos de suas amadas, na impossibilidade de rasgarem as próprias amadas.
Vi homicídios que não se praticaram, mas que foram autênticos homicídios: o gesto no ar, sem consequência, testemunhava a intenção.
Vi o poder dos dedos. Mesmo sem puxar o gatilho, mesmo sem gatilho a puxar, eles consumaram a morte em pensamento.
Sobrou ali o magro esqueleto alfabético de uma criatura histórica, uma espécie de cadáver prostituído que testemunhei, tantas vezes, Brizola tentar resgatar para sepultá-lo dignamente.
Agora, porém, vem a notícia da profanação suprema, entregar a legenda já putrefata a um bandido que é a negação do patriotismo e da preocupação social que a fase final de Vargas representou.
Também a sigla do PTB merece a frase do próprio líder, em sua Carta Testamento: “Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação.”
Sim, a História fará o que Brizola não teve forças para fazer: resgatará o PTB destas quadrilhas que fazem três letras serem esfregadas na lama.
Tijolaço

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