José Celso Cardoso e Carlos Pinkusfeld Bastos discutem a “Economia pós-pandemia” em debate mediado pelo jornalista Luis Nassif
Por Ana Gabriela SalesJornal GGN – Os economistas José Celso Cardoso Jr. e Carlos Pinkusfeld Bastos, dois dos 34 autores do livro “Economia pós-pandemia”, desmontaram os mitos da austeridade fiscal em debate mediado pelo jornalista Luis Nassif, exibido na TV GGN, nesta terça-feira, 1 de dezembro.
Na discussão, que integra o projeto Brasil Milênio, Cardoso, que é técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e presidente da Associação dos Servidores do Ipea e Sindicato Nacional dos Servidores do Ipea (Afipea), esclareceu três pontos usados pelo governo de Jair Bolsonaro para justificar a reforma administrativa, encaminhada ao Congresso como Emenda à Constituição (PEC) 32/20.
Segundo ele, a primeira falácia cai sobre a ideia de que o estado brasileiro é grande ou inchado demais, do ponto de vista de pessoal ocupado. “Evidentemente essa é uma afirmação falsa”, disse. “O Brasil possui hoje 12% da sua força de trabalho no setor público, e isso é 10 pontos percentuais a menos do que o proposto pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)”, explicou.
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“Não há uma primazia, um prêmio salarial, uma diferença positiva muito gritante entre os salários dos setores público e privados. Essas diferenças são a exceção e não a regra dentro do setor público. Os problemas estão nos setores que sequer estão contemplados na reforma. Ou seja, estão localizados no topo do poder judiciário – juízes e desembargadores que ganham acima do teto constitucional -, no poder legislativo, em que senadores e deputados ganham acima do teto”, disparou.
O terceiro mito abordado por Cardoso é o de que o “Estado brasileiro é ineficiente”. Ao contrário do que afirma o Ministério da Economia sob Paulo Guedes, estudos apontam que o Brasil nos últimos anos “aumentou o seu desempenho em termos de entrega de bens e serviços a população, e até mesmo de qualidade de prestação de alguns serviços”, indicou.
“O Estado faz hoje mais e melhor do que fazia 30 anos atrás, com o mesmo estoque e o mesmo custo geral de servidores que tínhamos. Então não é grande o estado brasileiro, não é caro do ponto de vista das remunerações médias ou dominantes dentro do setor público e muito menos ineficiente”, explicou.
“Claro que o Brasil tem problemas que precisam ser enfrentados, mas evidentemente essa agenda de reformas liberal, privatista, fiscalista e autoritária não vai conseguir resolver nenhum dos problemas que existem de fato no setor público e, pelo contrário, deve criar novos problemas para o próximo governante”, completou o economista.
Desmontando o mito “o Brasil está quebrado”
Coautor do capítulo “Política fiscal, crescimento e desigualdade”, o professor e pesquisador do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), Carlos Pinkusfeld Bastos, derrubou a ideia de que a economia do País “quebrou” com a recessão de 2015.Segundo ele, esse foi um dos pilares para a criação de medidas “extremamente ruins” para o País, como o Teto de Gastos e as reformas trabalhistas. “De repente vem a pandemia e a gente descobre que o País não está quebrado”, apontou.
De acordo com suas análises, o aumento da dívida pública contribui com o próprio crescimento econômico. “Podemos continuar gastando, continuar aumentando a dívida pública, isso vai segurar a economia para que ela não caia no pântano da depressão econômica. Isso vai fazer com que não aumente o desemprego barbaramente e cause uma queda do PIB maior ainda do que já existe”.
Ainda segundo Bastos, há outro problema gerado, no início da recessão, pela esquerda: o mito de que os “ricos vão pagar pela crise”. “Havia uma percepção de que seria possível sair dessa crise sem déficit público e sem crescimento da dívida pública, isso não é possível, é uma depressão muito profunda, tem que gastar, tem que aumentar dívida”, comentou.
O professor destacou três variáveis, que “um governo progressista e minimamente preocupado com a questão de distribuição de renda” pode operar. São elas: o gasto público, a tributação e a taxa de juros.
“Essas três variáveis precisam ser operadas de uma forma sábia , com algum objetivo que seja tanto de manutenção do emprego, dos níveis de produtos e que o impacto distributivo seja o menor possível”, disse.
Esse e outros pontos da retomada da economia são debatidos ao longo da entrevista, assista a íntegra:
Sobre o livro Economia Pós-Pandemia: desmontando os mitos da austeridade fiscal e construindo um novo paradigma econômico”:
A obra, com coordenação de Esther Dweck, Pedro Rossi e Ana Luíza Matos de Oliveira, reúne 34 autores e faz um raio X do discurso falacioso da austeridade fiscal, da atual agenda econômica brasileira. A obra pode ser baixada (aqui).
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