A entrevista de Lula à Rádio e Televisão Portuguesa (veja abaixo, a partir de 46:32) teve coisa mais importante do que esta história de “assume-não assume” sua candidatura presidencial.
Foi a evidenciação da opinião de Lula de que há uma crise de governança mundial, talvez o mais sério problema do planeta e que se expressa, de forma dramática, nesta pandemia da Covid-19.
O mundo está com a governança desarticulada. O que eu estranho é que a crise que nós estamos vivendo, a pandemia do Covid -19 não é uma brincadeira, não é uma guerra de um país contra outro país. É uma guerra da natureza, que se rebelou contra a humanidade que não cuidou dela como deveria cuidar. (…) Não é possível que o mundo não esteja reunido para decidir como enfrentar a Covid-19.
O que Lula retratou, a falta de iniciativa dos líderes mundiais em tratar da pandemia como uma questão de cada administração local, sem decisões políticas de nível mundial. A eleição de Joe Biden, que poderia ter sido uma “virada” nisso, não o foi e, pelas suas conveniências políticas internas, nada fez para assumir esta bandeira, agindo, tal como Barack Obama, eleito para por fim à guerra, não o fez nos seus primeiros meses de mandato, e além.
De fato, estamos, em plano mundial, como estivemos no Brasil, sem um protocolo e procedimentos universalmente aceitos como, ao menos em tese, estamos (ou estivemos) em outras questões, como a ambiental, a fome, as armas nucleares e tantas outras questões. E são todas questões de vida ou morte.
É um escândalo mundial, passível de ações globais, que se queime a Amazônia e não é, aqui ou em qualquer lugar, que morram milhares por dia?
Se o Brasil, com 30% das mortes registradas no mundo, não tem a autoridade moral de dizer ao plante que é preciso haver justiça na distribuição das vacinas, quem o terá?
Pode-se aceitar que, como nas emissões de carbono, os países ricos tenham o direito de expelir dez vezes mais gases tóxicos que nós, mas que nós, numa pandemia, recebamos dez vezes menos vacinas contra a Covid do que eles?
O Brasil não apenas sofre por ser um pária mundial, sofre por não poder ter governantes capazes de fazer o que o tamanho e a importância de nosso país o autoriza a ser: um player decisivo na política global.
Não mais, nunca mais, um vira-latas.
O nanismo mundial do Brasil, embora poucos o percebam, é a negação do nosso direito de existir como país.


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