Fernando Miller

Até as emas gaúchas, e não só as do Palácio da Alvorada, sabem que Bolsonaro recomendava e tentava impor a cloroquina como tratamento precoce. Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich não informaram nada que alguém não saiba na CPI do Genocídio.
Mandetta e Teich podem dizer que saíram porque não avalizavam tratamento com cloroquina. Podem assegurar que Bolsonaro até pressionava para que mudassem a bula.
Podem dizer que Carluxo fazia lobby pela cloroquina. Que os laboratórios estavam dentro do Palácio do Planalto vendendo o medicamento. Que Bolsonaro e subalternos encontravam-se em reuniões efusivas com os fabricantes de cloroquina.
Não há nisso nem novos detalhes incriminadores. A novidade seria a descoberta do que há por detrás da obsessão de Bolsonaro com a cloroquina.
A primeira hipótese já não tem valor algum. É a de que Bolsonaro tentava produzir um milagre. Se desse certo, seria o cara que salvou o mundo.
Mas a partir de um determinado momento ficou claro que a cloroquina não funcionava contra a Covid-19. E que, além de não funcionar como tratamento precoce ou mesmo para combater depois os efeitos do coronavírus, também poderia matar.
Mas Bolsonaro continuou insistindo e mandou o Exército produzir milhões de comprimidos. Para quê? Apenas para ofuscar a vacina de João Doria?
A insistência de grupos de médicos com o uso da cloroquina pode indicar desprezo pela ciência e ignorância. Pode sugerir também que profissionais negacionistas enfrentam com a cloroquina seus “inimigos” de esquerda em cidades pequenas. Esse duelo paroquial existe em todo o Brasil.
Mas e os donos de hospitais e clínicas privadas que passaram a impor aos seus médicos a prescrição da cloroquina aos internados?
O que os donos de clínicas ganham com isso, além de correr o risco de
matar os próprios pacientes e tensionar e dividir as equipes? A
cumplicidade come Bolsonaro? Pra quê?
Há coisas ainda não bem contadas sobre a cloroquina. É antiga a tese de que o esquema todo foi montado para que os laboratórios ganhem muito dinheiro.
Essa pode ser uma parte da verdade. Bolsonaro faz movimentos aparentemente erráticos com as obsessões por cloroquina e por armas.
Incentivou o armamentismo, fez uma interlocução intensa com a Taurus e logo depois abriu o mercado ao armamento importado, com imposto zero.
Por que, se a indústria nacional poderia dar conta da demanda e ser beneficiada pela previsível corrida de compradores de armas?
No que Bolsonaro e a Taurus se desentenderam a ponto de o sujeito escancarar o mercado, ao invés de proteger um parceiro financiador de campanhas de políticos do bolsonarismo?
Por que, no caso da cloroquina, logo depois de passar a liderar o marketing do remédio milagroso, Bolsonaro decidiu enfiar o laboratório Exército na encrenca? Por que, se o Brasil tem seis laboratórios em condições de atender a demanda?
Por que Bolsonaro não deixou tudo por conta da indústria amiga? Há uma hipótese. O Exército foi usado apenas como laranja, para que Bolsonaro ficasse mais à vontade como propagandista da cloroquina.
A mensagem seria essa: podem tomar à vontade, porque, além dos laboratórios privados, o Exército também fabrica a droga. Ou o Exército entra no negócio porque Bolsonaro se desentendeu com os laboratórios?
Tem cloroquina encalhada em depósitos da saúde pública de todos os Estados. O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, mostrou que desde fevereiro o povo não quer saber da cloroquina oferecida em postos de saúde como tratamento precoce.
A CPI pode concluir o que todos sabemos, que a propaganda de Bolsonaro transformou a cloroquina no ouro de alguns laboratórios. Mas só para os laboratórios?
Até as emas querem saber. Que história é essa da cloroquina? As emas não são bobas de achar que se trata apenas da obsessão preferida de Bolsonaro.
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