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O artigo de Miriam Leitão, em O Globo de hoje – “Há apenas um extremista na disputa de 2022 – tem menos importância pelo que ela escreve do que pelo que revela, a tendência à “lulificação eleitoral” de certa parte da direita, diante da monstruosidade que, já bem antes anunciada, corporificou-se em Jair Bolsonaro.

O texto é pobre e autorreferenciado em várias passagens, mas acaba por dar sentido a algo que se vem observando, crescentemente, nos círculos político-econômicos que a colunista de O Globo representa: o reconhecimento de que Lula não apenas é a alternativa eleitoral viável para o enfrentamento a Jair Bolsonaro, como também o personagem capaz de recuperar a institucionalidade necessária à sobrevivência de um Estado Democrático de Direito no Brasil.


É, sem dizê-lo, uma capitulação à realidade de que não existe possibilidade de articulação de uma candidatura alternativa viável a ambos e que Lula não representa o demônio que Bolsonaro quer pintar: o de candidato de “extrema-esquerda”, contra o qual possa brandir o estandarte do medo de um “comunismo” que ninguém sabe e ninguém viu.

As “terceiras vias” – sim, há várias – se confundem e se batem no plano microscópico: Tasso Jereissati pretendendo “aceitar se Ciro desistir”; Luciano Huck disputando com Luciano Huck; Nélson Mandetta disputando território com Luciano Huck, enquanto João Dória terça armas com o gaúcho Eduardo Leite , até agora todos presos a um um circo de pulgas.

O que fez Miriam é o que têm feito, cada vez mais, o porta-vozes da direita no jornalismo: conformar-se com que Lula é o remédio à mão para curarmo-nos de Bolsonaro.

Partidos de outras tendências políticas devem trabalhar para oferecer alternativas ao eleitor brasileiro, porque a democracia é feita da diversidade de ideias e de propostas. O erro que não se pode cometer é dizer que essa é a forma de fugir de dois extremos. Isso fere os fatos. Não existe uma extrema-esquerda no país, mas existe Bolsonaro, que é de extrema-direita. No governo, ele multiplicou as mortes da pandemia e sempre deixa claro que se puder cancela a democracia.

Em tradução: seus candidatos têm o direito de, ingloriamente, postularem votos. Mas não podem dizer que serão “Paris” diante do confronto real e que, não estando com Lula, estarão com Bolsonaro.

 

tijolaco.net 

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