O PRESIDENTE Jair Bolsonaro fez ontem um pronunciamento em rede nacional de rádio e tevê ressaltando a melhora da economia, prometendo vacina e condenando o lockdown. Além disso, destacou algumas obras viárias, a transposição do São Francisco e os lucros da Caixa Econômica Federal. Não teve coragem de sequer tocar no nome da cloroquina. Faltou-lhe coragem, mas sobraram cinismo e hipocrisia!
O crescimento de 1,2% do PIB neste primeiro trimestre de 2021 é realmente uma surpresa. Mas, desde o final do ano passado já era previsto um crescimento vegetativo (natural) da economia da ordem de 3,5% neste ano. É preciso dizer duas coisas: Primeiro, essa reação não é resultado de um plano ou de ações econômicas do governo, que ainda não fez nada nesse terreno.
Segundo, trata-se de um crescimento natural e desigual: a agropecuária cresceu 5,2%, o comércio 3,5% e a indústria 3%; já no setor de serviços, que interessa às classes mais baixas, houve queda de 0,8%, e o desemprego bate recorde na casa dos 14,7%, segundo o IBGE. Portanto, a reação ou crescimento do PIB, já esperado, foi desigual e vulnerável, e mesmo assim, sem nenhum mérito do governo.
A respeito das vacinas, a hipocrisia do presidente foi chocante. Depois de recusar 11 ofertas de diferentes vacinas; depois de hostilizar a China que forneceu 80% das vacinas utilizadas no país; depois de desacreditar a eficácia das vacinas e de dizer que ele próprio não tomaria nenhum imunizante; com seis meses de atraso e 470 mil mortes Bolsonaro vem prometer vacina pra todo mundo.
Sobre os lucros da CEF, Bolsonaro mente. A CEF sempre foi lucrativa, e seus lucros aumentaram agora porque esse banco público deixou de cumprir sua função social com o corte de programas sociais como o “Minha Casa, Minha”, “Bolsa Família”, FIES e outros. É fácil tornar um banco público lucrativo: é só trocar sua função social pela exclusiva busca do lucro financeiro.
No tocante ao lockdown, Bolsonaro foi coerente. Ele é contra essa medida recomendada por autoridades sanitárias do mundo inteiro porque acredita na “imunidade de rebanho”, buscando a contaminação do maior número possível de brasileiros pelo novo coronavírus, estratégia essa que não deu certo em nenhum lugar do mundo e já matou quase 500 mil brasileiros.
Quanto às obras que estariam sendo realizadas Brasil afora, Bolsonaro foi bizarro. Disse que inaugurou pontes, trechos de estradas e que está continuando a transposição do Rio São Francisco. Essas obras, muitas iniciadas em governos anteriores, andariam fosse quem fosse o presidente, e até mesmo sem presidente, pois elas prosseguem dentro da rotina gerencial-administrativa do país, levadas a efeito por ministérios e secretarias; não é preciso um presidente da República para tocá-las.
A verdade é que Bolsonaro está se sentindo pressionado pelas ruas, pela CPI e pelas pesquisas de intenção de voto para 2022 e seu desconfiômetro acendeu a luz amarela. Ele resolveu alinhavar um discurso mais palatável, centrado na reação da economia e na oferta de vacinas. Só que ninguém acredita mais, pois ele não tem equipe nem plano econômico, tampouco teria moral para falar em vacinas e combate à pandemia.
______________________

Postar um comentário
-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;