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| No áudio, o servidor da Funai diz "não vai desarmar ninguém" e que não vai desencorajar indígenas a "fugirem da guerra" | J. Rosha/Cimi |
Em áudio, militar diz que “não vai desarmar ninguém” e nem desencorajar indígenas a “fugirem da guerra”
São Paulo – O coordenador da Funai no Vale do Javari, o tenente da reserva do Exército Henry Charlles Lima da Silva, encorajou líderes do povo marubo a “meter fogo” contra indígenas isolados, caso sejam “importunados” por eles. Os áudios de junho publicados pela Folha de S.Paulo, na última quinta-feira (22), só agravam a situação de conflito entre povos, na avaliação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
No áudio, o servidor da Funai diz que “não vai desarmar ninguém” e nem desencorajar indígenas a “fugirem da guerra”. “Eu vou entrar em contato com o pessoal da Frente (de Proteção Etnoambiental) e pressionar: ‘Vocês têm de cuidar dos índios isolados, porque senão eu vou, junto com os marubos, meter fogo nos isolados’”, disse Henry, durante reunião na aldeia Paulinho, em 23 de junho.A reunião do servidor da Funai tratava de um conflito entre os marubos e indígenas isolados que vivem na região do rio Ituí. Os não contatados teriam raptado uma mulher do povo marubo, em 2020, e repetido o ato dias antes do encontro entre lideranças e o tenente Lima da Silva.
O coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e integrante da Equipe de Povos Livres e Isolados da entidade, Gilderlan Rodrigues, afirma que as falas do tenente evidenciam seu despreparo para trabalhar na Funai, além de serem perigosas diante da tensão no território.
“Fica visível o despreparo do servidor da Funai ao dizer isso. É um completo desconhecimento da região do Vale do Javari, onde tem um grande número de povos isolados. Portanto, é óbvio que exista contato interétnico no território. Há também invasões de madeireiros, o que empurra os indígenas isolados para ficarem próximos das aldeias. É evidente que lá precisa de uma intervenção para ajudar os dois povos a se relacionarem de maneira tranquila”, afirmou, à jornalista Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual.
Em outro momento do áudio, o tenente da Funai diz que o conflito precisa ser resolvido, pois os isolados já falariam português e teriam contato direto com a Frente, recebendo inclusive cestas básicas. “O posicionamento do servidor é a prova do desconhecimento da história dos povos indígenas e daquela terra. Ao mesmo tempo, ele potencializa os conflitos entre povos. Os isolados nunca tiveram acesso à cesta básica, nem falam português. Essa fala é preocupante, porque o servidor deveria se preocupar em garantir o direito dos indígenas contatados e os isolados, discutindo uma forma para que possam conviver harmonicamente”, lamentou Gilderlan.


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