| Foto: EVARISTO SA/AFP |
De acordo com a postagem do ex-capitão, com o conflito entre os dois países, em breve, faltará potássio para o agronegócio brasileiro
Getulio Xavier Repórter do site de CartaCapital
4-5 minutos
O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem evitado se posicionar em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia, usou nesta quarta-feira 2 a recente escalada da violência internacional para defender a grilagem e a mineração em terras indígenas, práticas hoje proibidas por lei.
De acordo com a postagem do ex-capitão, com o conflito entre os dois países, em breve, faltará potássio para o agronegócio brasileiro, fornecido em grande parte pela Rússia. Para ‘resolver o problema’, Bolsonaro então defende seu projeto de lei 191/2020, que permitiria ‘a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas’. A liberação, no entanto, é vista como um retrocesso por especialistas que acompanham o tema.
Um relatório recente da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e da Amazon Watch revela que, se aprovado, o projeto de lei defendido por Bolsonaro poderá levar à perda de 160 km² na Amazônia. O documento ainda ressalta que, com Bolsonaro no poder, o avanço do desmatamento tem registrado recordes históricos, tendo crescido 65% em 2021 na comparação com 2018. A medida também contribuiria para o genocídio dos povos originários brasileiros.
“A entrada da mineração nesses territórios resulta em rupturas e fragmentações que nunca mais voltam a ser como antes. Podemos estar diante de mais uma etapa do genocídio indígena pela indústria extrativista”, afirmou a assessora de campanhas da Amazon Watch no Brasil, Rosana Miranda, em entrevista recente a CartaCapital.
Bolsonaro, no entanto, omite os malefícios do projeto em suas publicações. Ele tem evitado se posicionar enfaticamente em relação ao conflito na Ucrânia justamente pela atual relação comercial que mantém com a Rússia. Pouco antes da guerra, Bolsonaro esteve com Vladimir Putin para tratar da ampliação do comércio de potássio entre os dois países. Na ocasião disse, vagamente, ser ‘solidário à Rússia’, declaração condenada por diversos países.
Já em solo brasileiro, adotou um discurso de ‘neutralidade’, usando também o termo ‘equilíbrio’. Na prática, porém, não condenou as ações militares das tropas de Putin e chegou a criticar a eleição de Volodymyr Zelensky, a quem chamou de ‘comediante’. O Brasil também não participou dos boicotes aos discursos da Rússia na ONU. Adversários na corrida eleitoral têm pressionado Bolsonaro para adotar uma posição de apoio à Ucrânia.
As publicações desta quarta feitas por Bolsonaro reforçam a política do atual governo contra os povos indígenas. Desde antes de vencer as eleições, o ex-capitão prometia não demarcar novas terras indígenas no Brasil, a promessa vem sendo cumprida. O presidente também atua para ampliar a entrada de garimpeiros e ruralistas em territórios protegidos. Sob sua gestão, grileiros passaram a circular livremente em Brasília e ampliaram o lobby pela exploração. O garimpo ilegal também avançou nos últimos anos com a pouca fiscalização e novos regramentos, mais frouxos, criados por Bolsonaro.
Recentemente, o ex-capitão publicou em Diário Oficial uma tentativa de ‘rebatizar’ o garimpo como ‘mineração artesanal’. A portaria também afrouxou regras para autorização de exploração de minerais no Brasil. Seu atual ministro de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, também aprovou medidas para facilitar a entrada de garimpeiros em terras indígenas altamente preservadas. As medidas foram duramente criticadas e podem causar um verdadeiro desastre ambiental na Amazônia.
cartacapital.com.br
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