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Eliara Santana
6–8 minutos
Por Eliara SantanaDesde que Donald Trump foi eleito para um segundo mandato nos EUA, Jair Bolsonaro, aqui no Brasil, ficou ouriçadíssimo, em estado contínuo de gozo e alegria.
Voltou super atuante e otimista nas redes sociais, dando novas cores a questões antigas, ressignificando o discurso, projetando futuro, fazendo planos para o Brasil.
Até aí, tudo bem – essa euforia era esperada, todos sabemos das ligações da família Bolsonaro com Trump e o significado dessa eleição para o clã.
Mas, o ponto chocante nesse contexto é o espaço qualificado que a mídia corporativa está dando a Jair Bolsonaro no cenário político brasileiro, como alguém capaz de fazer análise (!) do cenário conjuntural mundial da eleição de Donald Trump, normalizando uma figura abjeta e que não titubeia em se insurgir contra a democracia.
Jair Bolsonaro perseguiu a imprensa, foi absolutamente negacionista na gestão da pandemia, estruturou um ecossistema de desinformação potente no Brasil, deixou a boiada passar com o meio ambiente, desbaratou a economia e as políticas sociais, está sendo investigado por ligações com a articulação de um golpe para impedir a posse de Lula, o que se materializou no 8 de janeiro em Brasília, e está inelegível – apenas para lembrar alguns fatos recentes.
É esse o ator político que a mídia brasileira alça como figura relevante para falar sobre a eleição de Donald Trump e ganhar palco para defender o seu próprio retorno em 2026?
Na Presidência da República, Bolsonaro relegou a imprensa ao CERCADINHO. Batia diuturnamente, sem dó nem piedade, na Folha de São Paulo e na Globo. Retirou todos os anúncios governamentais. Fez ameaças de censura e de não renovar concessão, no caso da Globo. E agora, o que vemos?
Entrevista de página inteira em O Globo, artigo (queria saber quem escreveu) na Folha de São Paulo falando em democracia, capa bem produzida da Veja onde Jair afirma, à la Luiz XIV, o rei absolutista francês, que “O candidato sou eu”.
Contidas as inquietações do fígado após tantas manchetes, vamos refletir sobre esse abraço atual em Jair, o inelegível.
A mídia brasileira é, antes de qualquer coisa, antipetista e antilulista – alguns mais, outros menos, com realinhamentos que podem ocorrer –, o que é então o primeiro filtro para nossa reflexão.
O segundo é que esse abraço de 2024 não é exatamente um movimento novo – em 2018, a mídia também abraçou Jair Bolsonaro.
Quando falo isso em palestras ou entrevistas, as pessoas reagem surpresas dizendo enfáticas que a mídia não apoiou Bolsonaro.
Há formas e formas de simular ser contra alguma coisa. Assim como há formas e formas de fingir ser a favor e fingir alinhamento – alguém pode olhar nos seus olhos, trabalhando em projetos com você, parecendo ser leal e parceiro e puxar seu tapete com um email.
Portanto, no caso midiático, bater na tecla da polarização entre Haddad e Bolsonaro, colocar o personagem em evidência no hospital, fazer entrevista exclusiva, não deixar chamá-lo de candidato de extrema direita… tudo isso são estratégias de discurso para fingir ser contra sem ser exatamente contra.
Naquele momento, o que valia era a mobilização para apagar o PT e garantir que Lula ficasse preso e Haddad fosse varrido do mapa da eleição.
Muito bem. Em 2024, o que importa é achar elementos e personagens e mobilizar narrativas para fazer frente a Lula em 2026.
Não se enganem, apesar dos resultados das eleições municipais, Lula é um candidato muito forte: a economia vai bem, o desemprego cai ao menor nível, aeroporto virou rodoviária de novo, as vendas deste Natal vão bater recorde.
E nada disso, como sabemos, agrada a Faria Lima, o deus mercado, o capitalismo selvagem – mesmo que simulem reações de contentamento.
Portanto, não há estratégia melhor do que construir consenso em torno de algumas questões, essa maravilha que Chomsky nos mostrou lá atrás.
E quem melhor do que Jair que, embora inelegível, ainda é capaz de mobilizar corações e mentes?
Muito embora sonhe com Tarcísio – e sonha –, a mídia sabe que ele não é páreo para Lula em condições normais de temperatura e pressão. Portanto, o alinhamento com Jair, trazê-lo de volta à cena política pode ser entendida como contraponto ao favoritismo de Lula.
No entanto, sempre há brechas, furos, e o mar da história é agitado.
Primeiro, porque Lula está fortalecido e se fortalecendo, o que veremos com os eventos do G20.
Segundo, e muito importante: Bolsonaro incensado é um perigo. O ego dele é incontrolável, e os filhos não são idiotas, pelo contrário, e partem para a briga rasteira.
Jair não é um personagem político que pode ser simplesmente usado para alguns fins – e o que quero dizer com isso é que Bolsonaro com ego inflado é péssimo para Tarcísio e coloca a extrema direita Danoninho e a extrema direita raiz em rota de colisão – com todos sabendo usar muito bem o mundo digital e com expertise em construir realidade paralela.
Brincar com fogo é perigoso.
A ação calhorda da mídia pode ser, de novo, um grande tiro no pé. Aguardemos.
Eliara Santana
6–8 minutos
Por Eliara SantanaDesde que Donald Trump foi eleito para um segundo mandato nos EUA, Jair Bolsonaro, aqui no Brasil, ficou ouriçadíssimo, em estado contínuo de gozo e alegria.
Voltou super atuante e otimista nas redes sociais, dando novas cores a questões antigas, ressignificando o discurso, projetando futuro, fazendo planos para o Brasil.
Até aí, tudo bem – essa euforia era esperada, todos sabemos das ligações da família Bolsonaro com Trump e o significado dessa eleição para o clã.
Mas, o ponto chocante nesse contexto é o espaço qualificado que a mídia corporativa está dando a Jair Bolsonaro no cenário político brasileiro, como alguém capaz de fazer análise (!) do cenário conjuntural mundial da eleição de Donald Trump, normalizando uma figura abjeta e que não titubeia em se insurgir contra a democracia.
Jair Bolsonaro perseguiu a imprensa, foi absolutamente negacionista na gestão da pandemia, estruturou um ecossistema de desinformação potente no Brasil, deixou a boiada passar com o meio ambiente, desbaratou a economia e as políticas sociais, está sendo investigado por ligações com a articulação de um golpe para impedir a posse de Lula, o que se materializou no 8 de janeiro em Brasília, e está inelegível – apenas para lembrar alguns fatos recentes.
É esse o ator político que a mídia brasileira alça como figura relevante para falar sobre a eleição de Donald Trump e ganhar palco para defender o seu próprio retorno em 2026?
Na Presidência da República, Bolsonaro relegou a imprensa ao CERCADINHO. Batia diuturnamente, sem dó nem piedade, na Folha de São Paulo e na Globo. Retirou todos os anúncios governamentais. Fez ameaças de censura e de não renovar concessão, no caso da Globo. E agora, o que vemos?
Entrevista de página inteira em O Globo, artigo (queria saber quem escreveu) na Folha de São Paulo falando em democracia, capa bem produzida da Veja onde Jair afirma, à la Luiz XIV, o rei absolutista francês, que “O candidato sou eu”.
Contidas as inquietações do fígado após tantas manchetes, vamos refletir sobre esse abraço atual em Jair, o inelegível.
A mídia brasileira é, antes de qualquer coisa, antipetista e antilulista – alguns mais, outros menos, com realinhamentos que podem ocorrer –, o que é então o primeiro filtro para nossa reflexão.
O segundo é que esse abraço de 2024 não é exatamente um movimento novo – em 2018, a mídia também abraçou Jair Bolsonaro.
Quando falo isso em palestras ou entrevistas, as pessoas reagem surpresas dizendo enfáticas que a mídia não apoiou Bolsonaro.
Há formas e formas de simular ser contra alguma coisa. Assim como há formas e formas de fingir ser a favor e fingir alinhamento – alguém pode olhar nos seus olhos, trabalhando em projetos com você, parecendo ser leal e parceiro e puxar seu tapete com um email.
Portanto, no caso midiático, bater na tecla da polarização entre Haddad e Bolsonaro, colocar o personagem em evidência no hospital, fazer entrevista exclusiva, não deixar chamá-lo de candidato de extrema direita… tudo isso são estratégias de discurso para fingir ser contra sem ser exatamente contra.
Naquele momento, o que valia era a mobilização para apagar o PT e garantir que Lula ficasse preso e Haddad fosse varrido do mapa da eleição.
Muito bem. Em 2024, o que importa é achar elementos e personagens e mobilizar narrativas para fazer frente a Lula em 2026.
Não se enganem, apesar dos resultados das eleições municipais, Lula é um candidato muito forte: a economia vai bem, o desemprego cai ao menor nível, aeroporto virou rodoviária de novo, as vendas deste Natal vão bater recorde.
E nada disso, como sabemos, agrada a Faria Lima, o deus mercado, o capitalismo selvagem – mesmo que simulem reações de contentamento.
Portanto, não há estratégia melhor do que construir consenso em torno de algumas questões, essa maravilha que Chomsky nos mostrou lá atrás.
E quem melhor do que Jair que, embora inelegível, ainda é capaz de mobilizar corações e mentes?
Muito embora sonhe com Tarcísio – e sonha –, a mídia sabe que ele não é páreo para Lula em condições normais de temperatura e pressão. Portanto, o alinhamento com Jair, trazê-lo de volta à cena política pode ser entendida como contraponto ao favoritismo de Lula.
No entanto, sempre há brechas, furos, e o mar da história é agitado.
Primeiro, porque Lula está fortalecido e se fortalecendo, o que veremos com os eventos do G20.
Segundo, e muito importante: Bolsonaro incensado é um perigo. O ego dele é incontrolável, e os filhos não são idiotas, pelo contrário, e partem para a briga rasteira.
Jair não é um personagem político que pode ser simplesmente usado para alguns fins – e o que quero dizer com isso é que Bolsonaro com ego inflado é péssimo para Tarcísio e coloca a extrema direita Danoninho e a extrema direita raiz em rota de colisão – com todos sabendo usar muito bem o mundo digital e com expertise em construir realidade paralela.
Brincar com fogo é perigoso.
A ação calhorda da mídia pode ser, de novo, um grande tiro no pé. Aguardemos.
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