Jornais europeus mostram a União Europeia preocupada com a nova administração Trump, enquanto os líderes de extrema direita da região comemoram


Simone Mateos
operamundi.uol.com.br
8–11 minutos

O jornal britânico The Guardian, assim como o francês Le Monde destacaram nesta segunda-feira (20/01) o comício que Trump fez domingo, véspera de sua posse, em Washington. Falando para milhares de apoiadores numa arena esportiva, ele prometeu que no primeiro dia de seu mandato haveria uma enxurrada de ordens executivas para atacar temas como à imigração ilegal, direitos transgêneros e outras prioridades da direita.

Ele repetiu a promessa de campanha de lançar o maior esforço de deportação da história dos EUA, expulsando milhões de imigrantes. “As medidas de segurança que delinearei em meu discurso inaugural serão o esforço mais agressivo e abrangente que o mundo já viu para restaurar nossas fronteiras. Quando o sol se puser amanhã, a invasão do nosso país terá parado”, disse Trump

“A partir de amanhã resolverei todas as crises que nosso país enfrenta”, disse, prometendo revogar também, “horas depois de fazer o juramento” toda ordem executiva radical e tola do governo Biden.

‘Manteremos os homens fora dos esportes femininos’

The Guardian destacou que o comício de pré-posse foi fato inédito, diferente de tudo o que já foi feito por outros presidentes eleitos e destacou as promessas trompistas de combater as ideologias woke. “Vamos tirar a teoria crítica da raça e a insanidade transgênero das escolas amanhã mesmo. Manteremos os homens fora dos esportes femininos”.

Le Monde disse que ,“numa mistura clássica de improvisações, piadas e interações com os fãs somando-se ao esqueleto de discursos preparados, Donald Trump multiplicou as promessas de ruptura”. O jornal francês disse que, além de atacar os imigrantes, o magnata prometeu acabar com o “wokismo” (combate à discriminações contra minorias) nas fileiras do Exército, com os programas de diversidade, equidade e inclusão nas administrações, restaurar o patriotismo nas escolas e construir um escudo antimíssil.

Por outro lado, lembrou o Le Monde,  Trump quase não abordou no discurso suas promessas de rápida redução do custo de vida e mencionou rapidamente o aumento das tarifas alfandegárias, que causam verdadeiro pânico nos europeus.

Em alusão à maioria obtida pelos republicanos no Senado e na Câmara, o presidente eleito disse: “Não só ganhamos um mandato, como construímos uma nova maioria americana que levará o nosso país a um sucesso sem paralelo para as gerações futuras”.

RS/Fotos Públicas | Trump discursa para milhares de pessoas na véspera da sua posse
RS/Fotos Públicas | Trump discursa para milhares de pessoas na véspera da sua posse

‘Devemos rejeitar a agenda dos globalistas’

A reportagem do jornal francês ouviu alguns dos que participaram do comício. Uma aposentada de 66 anos tinha claras suas prioridades: “Que fechem as fronteiras, rastreiem a lavagem de dinheiro e acabem com o desperdício no governo federal. (…)Devemos retomar o país e unificá-lo, rejeitado a agenda dos globalistas. Estamos em guerra. Em guerra contra os banqueiros, os iluminati, os controladores psicopatas”.

Outro artigo do Le Monde destaca as convergências ideológicas de Trump com sua “nova amiga” europeia, a ultradireitista presidente do Conselho italiano, Giorgia Meloni. O jornal especula sobre o papel que ela poderia desempenhar na relação entre os Estados Unidos e a Europa, lembrando que Meloni já se encontrou com Trump duas vezes depois da sua eleição.

O espanhol El País destacou como os “pupilos” de Trump – os líderes de governos e políticos europeus de ultradireita – estão eufóricos com a chegada de Trump a Casa Branca. Por outro lado, mostra como “Paris, Berlim e Bruxelas”, ou seja a União Europeia e os estados não governados pela extrema direita, vêm com temor as ameaças expansionistas, o aumento de tarifas alfandegárias e a redução da participação de seu país na OTAN. prometidos por Trump, entre outras coisas.

Ambições imperialistas e guerra comercial preocupam

O jornal espanhol destaca que “alguns observam com preocupação” as ameaças de uma guerra comercial, suas ambições imperialistas de anexar a Groenlândia, assim como suas ameaças de abandonar os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que gastam menos em defesa. El País lembra que a preocupação é justificada, uma vez que a União Europeia (UE) demorou quase três anos em implementar as medidas que visam melhorar sua “dilacerante perda de competitividade face a Washington e Pequim”.

Mas enquanto alguns prendem a respiração, outros comemoram a vitória de Trump e seu regresso triunfante à Casa Branca. El País lembra que Trump tem, na Europa, “aliados poderosos numa extrema-direita que defende e partilha suas ideias e posições radicais sobre a migração, ambiente, questões sociais como igualdade e uma visão mais reducionista do conselho geopolítico global, com menos aliados com ideias e políticas semelhantes e mais parceiros comerciais e interesses transnacionais.”

O trumpismo estimula a divisão dentro da União Europeia, o que se alinha com o nacionalismo da ultradireita do velho continente e suas posições contra a UE. Esses radicais crescem a cada eleição na Alemanha, França, Áustria, Itália, Espanha e Romênia.

Extrema direita europeia ganhará novo impulso

Também conquistam setores da direita liberal tradicional e, nas eleições de 2024, conseguiram produzir o Parlamento Europeu mais direitista em décadas. Importante aliado para Trump, essa direita radical deve receber novo impulso com a sua volta à Casa Branca, temem os setores liberais.

“Não é só que Trump tenha aliados na extrema direita ou que toda essa corrente, muito diversa, apoie ou seja semelhante à norte-americana, mas seu regresso os normaliza e pode levar a um ‘efeito imitação’”, disse a El País uma fonte comunitária de alto escalão. “Os republicanos e seus aliados vão tentar definir agendas europeias e promover a divisão, a fim de alinhar melhor suas políticas comerciais e tecnológicas”, acrescenta.

É o que ocorre com o trabalho de agitação que está fazendo o oligarca tecnológico Elon Musk, o maior apoiador da campanha de Trump que ocupará papel de destaque na sua administração. Além de apoiar abertamente partidos de ultradireita europeus, como a Alternativa para a Alemanha, Musk critica a regulamentação excessiva da União Europeia.

O jornal espanhol destaca que a volta de Trump terá um forte impacto na UE e que não serão poucos os desafios que o bloco terá de enfrentar. Os Estados Unidos contribuirão menos para a segurança da Europa, o que significa que os países do bloco terão que gastar mais não só em defesa como na reconstrução da Ucrânia.

Europa pode ser marginalizada na negociação de paz na Ucrânia

Além do aumento das taxas alfandegárias e da pressão por ampliar seus aportes à OTAN, o bloco terá de lutar até para ter um lugar nas negociações de um acordo de paz para a Ucrânia. “Trump pode ter interesse em que Bruxelas não participe”, aventa o jornal. Afinal, Trump já anunciou que se reunirá com Putin em breve e este tentará excluir a UE.

Outro artigo de El País lembra que Trump chegou a sugerir que os membros da OTAN deveriam investir 5% do PIB em defesa e alguns parlamentares de direita já defendem isso no Parlamento Europeu. Isso representaria um enorme esforço para países que já enfrentam dificuldades econômicas, muitos dos quais com altas dívidas. Para fazer isso, forçosamente, teriam que cortar verbas de outros itens orçamentários.

O jornal português O Público destaca basicamente os mesmos pontos, mas acrescenta a quase certeza de que os Estados Unidos sairão do Acordo de Paris, que estabelece compromissos com medidas de combate ao aquecimento global. A expectativa é de que Trump reverá o legado da administração democrata e que cumpra a promessa de concretizar algumas das suas mais controversas promessas de campanha.



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