O programa ‘Fantástico’ revelou gravações que indicam interlocução entre nomes de peso das Forças Armadas e agentes concentrados no QG do Exército após as eleições de 2022
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O acampamento dos extremistas permaneceu por dois meses na porta do QG do Exército - Imagem: Valter Campanato/ABR |
Áudios revelados na edição deste domingo 23 do programa “Fantástico”, da TV Globo, mostram as articulações feitas entre militares e manifestantes golpistas que se concentraram nas sedes do Exército logo após as eleições de 2022.
Os arquivos foram extraídos de celulares e computadores apreendidos pela Polícia Federal no curso da investigação da suposta ‘trama golpista’. Segundo a reportagem, membros da alta esfera militar mantinham canal aberto e contato direto com os manifestantes que se concentraram em frente aos quartéis.
Esses grupos eram compostos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e não aceitavam a derrota do ex-capitão para o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito presidencial de outubro daquele ano.
‘Tem que ir para o Congresso’
Um dos áudios mostra o tenente-coronel Guilherme Almeida incentivando os manifestantes que estavam em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília a deixarem o acampamento e seguirem rumo ao Congresso Nacional, na Praça dos Três Poderes, para invadir a sede do Legislativo. Almeida é um dos 34 denunciados pela Procuradoria-Geral da República pela ‘trama golpista’.
“Não adianta protestar na frente do QG [quartel general] do Exército, tem que ir para o Congresso. E as Forças Armadas vão agir por iniciativa de algum Poder. Porque, assim, todo mundo quer Forças Armadas. Por quê? Quer um mecanismo de pressão chamado arma, né?”, diz a gravação.
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Atos golpistas de 8 de janeiro. – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
“Acho que o pessoal poderia fazer essa descida aí, né? E ir atravancando mesmo. Porque, pô, a massa humana chegando lá, não tem PM [Polícia Militar] que segure. Porra, vai atropelar a grade e vai invadir. Depois, não tira mais, né?”, afirmou Almeida.
O tenente-coronel também sugere invalidar a eleição que deu a vitória de Lula sobre Bolsonaro. O militar chega a cogitar um novo pleito, independentemente da presença de Bolsonaro. “Para apaziguar, a gente resolve destituir, invalidar a eleição. Colocar voto impresso e fazer uma nova eleição. Com ou sem Bolsonaro”, sugere.
Almeida, que estava lotado no Comando de Operações Terrestres do Exército (COTER) chega a sugerir que a empreitada golpista seria iminente. “A gente não sai das quatro linhas e vai ter uma hora que a gente vai ter que sair. Ou então eles vão continuar dominando a gente”, diz.
Militares infiltrados entre civis
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, também surge nos áudios revelados neste domingo. Em um dos trechos, o tenente-coronel confirma a presença de militares infiltrados entre os civis. A ideia era que os militares passassem informações para ele.
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Brasília (DF) 11/07/2023 Depoimento para CPMI do golpe do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante-de-ordens do então presidente Jair Bolsonaro.Foto Lula Marques/ Agência Brasil. |
“A gente tá recebendo cara de TI, hacker. Eu não bebo cerveja, mas depois, eu te conto as coisas que a gente fez aqui. A gente tem cara infiltrado em tudo quanto é lugar. Monitorando e passando para a gente as informações. Refutando ou ajudando a instigar, digamos assim”, disse Cid.
Em um dos áudios, Cid confirma que Bolsonaro recebeu e modificou a minuta do golpe, um documento que estabelecia medidas para anular o resultado da eleição de 2022 e manter o ex-capitão no poder. Uma das versões da minuta foi encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
“Ele entende as consequências do que pode acontecer. Hoje, ele mexeu naquele decreto, ele reduziu bastante, fez algo mais direto, objetivo e curto. E limitado, né?”, declarou Cid. O ex-ajudante de ordens revela a informação ao general Freire Gomes, comandante do Exército no governo Bolsonaro.
‘Se o senhor puder intervir junto ao presidente’
Uma das gravações dá conta de pedidos feitos pelo general de brigada Mário Fernandes, preso pela PF durante a Operação Contragolpe. Segundo as investigações, ele seria um dos responsáveis por elaborar o plano que envolvia o assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
No áudio, Fernandes relata a Cid a existência de uma suposta ordem de prisão contra os manifestantes golpistas. Ele apela para que Bolsonaro ou Anderson Gomes possam intervir para que a ordem de prisão não se concretize.
“Parece que existe um mandado de busca e apreensão do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] ou do Supremo, em relação aos caminhões que estão lá. Já houve prisão realizada ali, pela Polícia Federal. Se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça, para segurar a PF. Eu tô tentando agir diretamente junto às Forças Se tu pudesse pedir pro presidente ou pro gabinete do presidente atuar. Pô, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro quanto os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG”, afirmou.
O que dizem os citados
A defesa do general Mário Fernandes afirmou que ainda não teve acesso completo ao conteúdo e que considera que a denúncia apresentada pela PGR apresenta somente “trechos desconexos”. Já os demais citados não se manifestaram sobre a revelação dos áudios.
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