Levante da Globo e da mídia liberal contra Moraes expõe as vísceras de uma guerra travada na Faria Lima - que foi levada ao STF - entre os banqueiros Daniel Vorcaro, do Master, e André Esteves, do BTG Pactual.

Após divulgar a narrativa, baseada em “fontes sigilosas”, de que Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), teria se encontrado com o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, para “fazer pressão sobre o caso Banco Master”, a jornalista Malu Gaspar, d’O Globo, divulgou um artigo nesta quinta-feira (25) comparando o ministro e seu colega, Dias Toffoli, ao ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro (União-PR), que deixou a magistratura para se tornar “super” ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL) e se elegeu senador após brigar com o ex-presidente.
Sem citar provas das tratativas entre Moraes e Galípolo, que já rebateram a narrativa, a jornalista menospreza as manifestações de ambos e diz que “o s esclarecimentos que nada esclarecem imediatamente passaram a servir de munição ao Fla-Flu das redes, dando aos “mitodependentes” combustível para recorrer ao velho argumento da perseguição e das fake news contra o herói da democracia”, ironizando o relator do julgamento sobre os atos golpistas, que colocou Bolsonaro e sua organização criminosa atrás das grades por tentativa de golpe.
“Não faltou quem argumentasse haver uma campanha de ataques contra Moraes, orquestrada pelo bolsonarismo e/ou pelo ‘lavajatismo'”, segue, ainda em tom irônico, para, em seguida, comparar a Moro, que agiu em conluio com procuradores no lawfare contra Lula.
“A Lava-Jato acabou em descrédito e foi completamente desmontada em razão das mensagens mostrando que Moro cruzou o balcão para orientar o Ministério Público nas ações contra o megaesquema de corrupção montado no governo Lula. Sob essa régua, como classificar as atitudes de Moraes e Toffoli?”, indaga Malu Gaspar, ignorando o papel da mídia liberal, especialmente da Globo, na produção das fake news vazadas por Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol (Novo-PR), que agora também se abriga nas hostes da ultradireita neoliberal.
Logo no início do texto, a jornalista faz malabarismo para atrelar o julgamento dos golpistas ao “enredo que começa no contrato da mulher de Alexandre de Moraes com o banco Master, prevendo o pagamento de R$ 3,6 milhões mensais ao longo de três anos por serviços até agora desconhecidos, e segue com a pressão do ministro sobre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, pela aprovação da venda do Master ao BRB, banco estatal de Brasília”, sobre ambas apurações feitas por ela junto a agentes da Faria Lima.
“Enquanto salvava a democracia, Moraes se movimentava no coração do poder de uma forma que não é preciso código de ética para considerar imprópria”, acusa, incitando ataques ao ministro baseada em informações não comprovadas e já negadas pelas partes.
“Uma vez que as conversas foram reveladas, Moraes disse que se reuniu, sim, com Galípolo, mas não falou sobre o Master, só sobre as sanções da Magnitsky aplicadas pelos Estados Unidos contra ele. Fez o mesmo que o colega Dias Toffoli — este viajou no jato de um empresário a Lima com o advogado de um réu do caso Master no mesmo dia em que chamou para si o controle da investigação sobre o banco e decretou sigilo máximo sobre o caso — mas garante que não conversou sobre o assunto com o vizinho de poltrona, só mesmo sobre o jogo do Palmeiras a que assistiriam”, emenda, destilando ironias.
Após os ataques aos ministros e ao presidente do BC, Malu Gaspar coloca ela própria e a Globo, grupo de comunicação historicamente ligado aos golpismos de direita no Brasil, como paladinos da democracia e da imparcialidade – algo totalmente descabido para uma empresa ligada fisiologicamente aos interesses do mercado financeiro.
“Independentemente do que aconteça, duas lições estão evidentes para quem quiser aprender. A primeira é que cada um pode acreditar no que melhor lhe aprouver, mas crenças ideológicas nunca foram capazes de apagar os fatos. A segunda: numa sociedade que idolatra heróis (ou mitos) e despreza instituições, a democracia sempre estará em xeque. Preservá-la é a missão não de falsos heróis, mas de uma sociedade inteira”, conclui.
“Colonistas” em ação
Sem conseguir provar os factoides e com a exposição de que as “fontes” da jornalista estariam ligadas ao banqueiro André Esteves em uma briga do BTG Pactual – banco fundado por Paulo Guedes – com Moraes, a Globo recrutou seus colunistas [ou como diria Paulo Henrique Amorim, seus “colonistas”] para promover um levante contra os dois ministros do Supremo.
Julia Duailibi, a quem Malu Gaspar revelou conversas com Daniel Vorcaro, do Master, escreveu artigo no jornal em que diz que “ministro do Supremo não é intocável”, ecoando a narrativa de colocar o clã Marinho como “heróis” na defesa das instituições.
“O Supremo brasileiro passa por crise parecida. A viagem de jatinho de Toffoli e o contrato da mulher de Moraes com o Master são as polêmicas mais recentes”, diz a jornalista, pedindo “prestação de contas” e atacando “o excesso de decisões monocráticas ou a mudança das regras do jogo de acordo com conveniências políticas”, alvo de críticas históricas do campo progressista no Brasil.
“No Brasil, estamos sempre em busca de um herói. Fora dos quadrinhos, pessoas são de carne e osso. O vilão de ontem vira herói hoje, para logo virar vilão novamente. Preservar as instituições é o maior ato de heroísmo”, conclui Julia, ecoando a colega de Globo.
Cora Rónai, também em artigo no folhetim do clã Marinho, fala do “preço da decepção” ao ecoar a narrativa de Malu Gaspar dizendo que “ninguém precisa ter doutorado em tabelas de honorários para saber que R$ 129 milhões ultrapassam, com folga, os limites do decoro e do bom senso”, sobre o contrato do escritório de Viviane Barci de Moraes com Daniel Vorcaro.
Após elogiar Moraes por ser salva “desse abismo institucional pelo ministro”, a jornalista veterana diz que “agora estou indo atrás de todas as estátuas imaginárias que ergui para ele, decidida a derrubá-las uma por uma”.
“Quando a mulher de um ministro do STF fecha um contrato de prestação de serviços com um banco encalacrado, isso não tem cara de pagamento por serviço jurídico; tem cara de pagamento por proximidade de poder. Sobretudo quando os poderosos em tela se aproximam mais do que a prudência e a ética recomendariam”, diz.
Além delas, Merval Pereira – que atua como espécie de porta-voz político dos irmãos Marinho – diz em texto que “comedimento não tem sido característica do Supremo”, em ataque direto à corte.
“Os ministros, no entanto, podem tomar decisões que os coloquem momentaneamente num lado ou noutro do espectro político, quando é a Constituição que deveria situá-los ao lado da lei. É a constatação explicita de que perdemos o respeito institucional pelos juízes e os colocamos no mesmo balaio dos políticos com mandato popular, eleitos defendendo ideologias ou programas de governos que os distinguem entre si. Medir juízes pela mesma régua com que medimos políticos mostra que eles, os julgadores, não se impõem pela imparcialidade, mas por suas preferências pessoais”, diz Merval.
O “colonista”, obviamente, aproveita a deixa para atacar o alvo favorito do clã Marinho. “Na eleição de 2022, Lula foi eleito sem programa de governo, e pelo jeito continuará sendo assim ano que vem”.
Em coro com Merval, Miriam Leitão levanta a bandeira por “Código de ética e a democracia”.
“Mesmo que as conversas entre Alexandre de Moraes e o presidente do Banco Central, reveladas por Malu Gaspar, tenham sido basicamente sobre a aplicação e o alcance da Lei Magnitsky, como sustentam as notas do ministro e do BC, o tema Banco Master não poderia ter sido tratado nem lateralmente. Primeiro, porque o ministro não é o relator. Segundo, e mais importante, pelo contrato que sua mulher e seus filhos mantinham com o banco liquidado”, diz sobre o banco liquidado pelo BC que pertence a Daniel Vorcaro, que chegou a ser preso pela Polícia Federal.
Vísceras da Faria Lima
O levante da Globo contra o ministro Alexandre de Moraes expõe as vísceras de uma batalha travada na Faria Lima por Daniel Vorcaro, do Master, e André Esteves, do BTG Pactual, ex-sócio de Paulo Guedes e um dos mais influentes atores políticos do sistema financeiro.
Como revelou Renato Rovai em seu blog nesta Fórum, “André Esteves, do BTG, é a fonte das matérias contra Alexandre de Moraes”.
“O banco Master, de Daniel Vorcaro, concorria com o BTG no mercado de aplicações e estava pagando taxas absurdas, de até 140% do CDI. Com isso ampliava seu número de correntistas e fazia o BTG perder. André Esteves passou então a pressionar o Banco Central e a Fazenda para que o Master sofresse intervenção. Havia, de fato, algo muito suspeito e perigoso naquelas operações. Foi quando Vorcaro, em 2024, contratou o escritório de Viviane Barci, a esposa de Alexandre de Moraes”, conta Rovai.
Segundo o jornalista da Fórum, André Esteves passa a ver então os dedos de Xandão na sua disputa contra o Master. E começa a operar na surdina a disseminação dos tais boatos da Faria Lima contra o ministro. O Master sofre a intervenção do Banco Central e em tese tudo estaria resolvido. Mas não.
“André Esteves começa a achar que Alexandre de Moraes iria se vingar dele. É aí que entra a divulgação do contrato do banco de Vorcaro no blog de O Globo. Como o ataque não teria surtido o efeito desejado, veio a tal pressão a Galipolo na sequência”, diz Rovai.
Segundo o editor da Fórum, os próximos rounds devem ser sangrentos.
“O andar de cima decidiu rifar Alexandre de Moraes, como fez com Eduardo Cunha depois do impeachment de Dilma. É preciso saber se ele está preparado para essa guerra ou se acabou se locupletando e ficará isolado. Mas depois disso, se Xandão sair da frente a caravana da “moralidade” provavelmente vai para cima de Flávio Dino, por conta do orçamento secreto, e de Lula. Que segundo matérias com base em ouvi dizer, sabia de tudo. O mesmo método da Lava Jato e do Mensalão está em curso no jornalismo desses dias”.
Publicado originalmente por: Revista Fórum
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