do Passa Palavra
Nesta manhã de 29 de julho, uma ação inusitada aconteceu em São Paulo. Os trabalhadores da cultura que estão há cinco dias ocupando a sede da Funarte foram ao encontro de uma ocupação de sem-tetos localizada na mesma rua do centro (Alameda Nothmann) e que tinha ação de despejo marcada para hoje. O movimento dos artistas deliberou ontem à noite em assembleia que enviariam um grupo representante para solidarizar-se às cerca de 40 famílias que há nove meses ocupavam um prédio particular abandonado da região.
Por volta das 9h30, com a chegada do Corpo de Bombeiros e reforço policial, as famílias que resistiam começaram a desocupar o prédio. Logo após, com a ajuda de Juliana Avanci, também advogada do moradores, eles começavam a reorganizar o realocamento das famílias. Havia uma grande preocupação em saber o que fazer com os poucos pertences das famílias e especial cuidado com o destino das crianças. Mesmo sem ter para onde ir, a maioria das famílias não estava disposta a seguir para os abrigos, única alternativa concreta apresentada pela Prefeitura.










Os trabalhadores da cultura que estão há cinco dias ocupando a sede da Funarte foram ao encontro de uma ocupação de sem-tetos localizada na mesma rua do centro (Alameda Nothmann) e que tinha ação de despejo marcada para hoje. Por Passa Palavra
O grupo de aproximadamente 50 pessoas chegou ao local por volta das 7 horas, com batuques e palavras de ordem. Metade das famílias, amendrontadas com a ameaça da ação policial, já havia se retirado do prédio, mas as outras, sem ter para onde ir, estavam decididas a resistir. Enquanto aguardava-se uma resposta da Prefeitura e as medidas pelas quais os advogados dos sem-teto procuravam reverter a decisão judicial, o grupo de apoio se dividiu: uma parte entrou no prédio e outra engrossava a vigília do lado de fora.
Houve um tumulto quando moradores e apoiadores que estavam fora do prédio tentavam passar alimentos através de uma corda improvisada para os ocupantes que estavam dentro do prédio. Dito, advogado dos sem-teto, foi violentamente imobilizado pelos polícias quando entregava um pacote de pão às famílias resistentes. Acusado por desacato à autoridade, ele foi levado ao 77 Distrito Policial; estava ferido e iria ser encaminhado para o IML para fazer o exame de corpo e delito.
Jefferson e sua esposa Maria dos Anjos moravam no prédio desde o início da ocupação, há nove meses, que foi acontecendo de forma espontânea. Disseram que econtraram o local completamente abandonado e lamentavam-se de que, após tanto esforço, estavam sendo colocados para fora.
Um dos ocupantes da Funarte que esteve dentro do prédio contou que, internamente, o clima era tenso, pois algumas famílias acreditavam mesmo que a liminar que autorizou a reintegração de posse pudesse ser revertida. Além disso, Juliana Avanci acrescentou que a liminar pegou os moradores de surpresa, tendo sido avisada apenas na semana passada. Para a advogada, nem mesmo se pode falar em reitegração de posse, uma vez que o proprietário que abandonou o imóvel não conseguiu caracterizar a posse do prédio.
Curiosamente, todos os membros da ocupação da Funarte que estiveram no prédio foram abordados pelos policiais e tiveram seus RGs anotados.
De volta às instalações da Funarte, os ocupantes fizeram um balanço da ação procurando integrar esta experiência ao próprio processo de luta que eles estão travando.
5º dia ocupação
Hoje a ocupação do Movimento dos Trabalhadores da Cultura completa 5 dias. Internamente, o espaço parece estar bem limpo e organizado. As comissões discutem seus temas separadamente, mas todas as grandes decisões são submetidas à apreciação da assembleia.
Ontem, os ocupantes, entre outras coisas, discutiram em assembleia uma resposta à carta pública de Antônio Grassi, onde o Presidente da Fundação Nacional da Arte critica os métodos do movimento. Chegou a haver pequenos problemas na portaria da ocupação, quando a movimento recebeu a ingrata visita de uma pessoa infiltrada que, segundo acreditam, repassava informação para policiais do lado de fora. Resolvida a confusão, a noite da ocupação foi preenchida por diversas atividades. Após o debate público com Gilmar Mauro, militante do MST, aconteceram apresentações de Maracatú e um sarau com a presença do Sarau do Binho, coletivo de cultura da zona sul de São Paulo.
Para esta noite está sendo marcado um bate-papo ampliado com Cesar Vieira, do Teatro Olho Vivo, e Alexandre Mate, professor da Unesp.
Fotografias: Passa Palavra
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