do Projeto Nacional
No artigo que o Projeto Nacional reproduziu ontem, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. Ironiza o fato de não terem dado muita importância à proposta feita pelo Brasil à União Européia e diz que talvez, lugar de vez de tê-la divulgada publicamente, fosse melhor “simular um ‘vazamento’ para um ou outro jornalista competente ou fazer misteriosas declarações off the record” .
Batista tem razão. O assunto passou “batido”, com um noticiário superficial, meio na base do ser “folclórico” um país com uma história de devedor suplicante. Impressionante como tem gente que enxerga de forma primária – ou finge enxergar – estas relações financeiras, sem entender que nas relações financeiras mundiais está boa parte do jogo de dominação exercido pelas nações, em nome do capital.
O professor explica tecnicamente , no artigo, a posição brasileira.
Mas é preciso ler a imprensa estrangeira para entender a motivação política da posição brasileira, que nossos jornais nem sequer abordam.
Apenas a agência Reuters, numa boa matéria de Jeferson Ribeiro e Tiago Pariz, analisa politicamente esta situação, e não é preciso mais do que a primeira frase que escrevem para que se entenda o que está em jogo:
“A crise europeia está abrindo uma janela de oportunidade diplomática para o Brasil e o governo sabe disso.”
Os jornalistas fazem uma boa análise, que pode ser lida aqui, mas, naturalmente, não evoluem para um raciocínio estratégico.
O fato objetivo é que, embora nosso peso político e econômico tenha aumentado, estamos muito longe de ter a influência de um país que caminha para ser a quarta economia do mundo, como você vê no gráfico em projeções do FMI feitas ano passado.
Porque, à parte o estilo exuberante de Lula, que conquistou ouvidos – embora nem tanto os corações – no mundo desenvolvido, o Brasil precisa de posições formais dentro dos órgãos decisórios da comunidade internacional.
Posições que nunca são dadas, mas conquistadas.
As posições permanentes do Conselho de Segurança e os ritos de direção do FMI permanecem os mesmos desde a 2ª Guerra Mundial (China e Rússia herdaram as vagas de Taiwan e URSS) e continuam tendo poder absoluto sobre a vida mundial. O FMI, embora com mais discrição, depois da desmoralização da “perfeição” neoliberal, em 2008, segue ainda o mesmo receituário do “arrocho, recessão, endividamento” que marcou sua atuação desde sempre.
Entrar nestes organismos quer dizer conquistar posições para reformá-los.
Em 2008, o então chanceler Celso Amorim dizia:
“O Brasil e a torcida do Flamengo acham que a ONU deve ser reformada. Ela não pode ter hoje a mesma estrutura de 1945- – sobretudo seu órgão mais poderoso, que é o Conselho de Segurança. Isso não tem cabimento. A obstinação de reformar a ONU, se quiser falar assim, continua. Não é que o Brasil quer uma cadeira como se fosse ganhar a Copa do Mundo. Agora, quais são os países que podem contribuir para um Conselho de Segurança mais equilibrado? Quem são aqueles que melhor refletem as mudanças do mundo? (…) Posso dizer uma coisa clara: não haverá membros permanentes da mesma forma como foram os da carta de 1945. Membro permanente com poder de veto, isso não será mais possível. A longo prazo, não teremos países-membros com poderes tão arbitrários como os de hoje.
O mundo não pode mais ser dirigido pelo critério dos anos 50: quem tem bomba atômica tem poder.
Não mais.
Por: Fernando Brito

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