Auto-estima é riqueza:
O Brasil está na moda. Você tem lido e ouvido esta frase com muita frequência nos meios de comunicação.
Com as crises nos EUA e na Europa, não só a condição econômica, mas também nossa cultura, o nosso jeito de viver fica cada vez mais atraente para o resto do mundo.
Produtos que expressam “brasilidade” fazem sucesso entre os estrangeiros. É o caso das sandálias Havaianas, da moda praia, dos restaurantes de carne “a rodízio” e de outros produtos brasileiros desejados em diferentes países pelo mundo.
Do ponto de vista do empreendedor, isso significa que produtos, ingredientes e o jeito brasileiro de fazer negócios podem servir de inspiração para novas iniciativas.
Por muito tempo, quando os brasileiros pretendiam abrir um negócio procuravam inspiração em outros países, algo que existisse lá fora e que pudesse ser “tropicalizado”, adaptado ao nosso gosto.
Com as mudanças no contexto mundial a inspiração está agora na nossa própria cultura. O engenheiro químico Hervé Rogez é professor da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Chegou ao Brasil em 1994 vindo da Bélgica para fazer o doutorado sobre a riqueza nutricional do Açaí. Suas pesquisas demonstravam as excelentes propriedades, entre outras, da fruta na prevenção de doenças cardiovasculares.
Atualmente, o açaí é comparado ao azeite de oliva pela sua riqueza nutricional.
No início dos anos 2000, o sucesso das pesquisas estimulou a exportação da fruta amazonense para outros países e se tornou um produto rentável para empresas americanas.
Foi por tristeza em ver que os brasileiros não se apropriavam empresarialmente do conhecimento científico sobre o açaí que Hervé identificou sua oportunidade de negócio.
O olhar que antes estava voltado para fora das fronteiras nacionais, agora deve buscar as oportunidades dentro do país. O Brasil, neste aspecto, ainda está por ser descoberto.
Nossa diversidade ambiental, social e cultural pode ser uma fonte de criação de empreendimentos inovadores e atraente para o mercado mundial.
Em 2002, Hervé criou a Amazon Dreams em Belém (PA), uma empresa de tecnologia de química fina de produtos naturais capaz de extrair antioxidantes de frutas amazônicas e fornecer para indústria de alimentos funcionais, cosmética e farmacêutica.
Para viabilizar a empresa Hervé investiu em inovação. Junto com mais cinco pesquisadores brasileiros desenvolveu tecnologia capaz de extrair 70% de pureza de antioxidante no açaí.
Por cinco anos investiu no processo de patente antes de ir ao mercado. Seus parceiros foram: a UFPA, principal titular das patentes, e o BNDES através do Fundo Criatec. O investimento foi fundamental para sair do campo das ideias.
Hervé acredita que focar na inovação e estar conectado à realidade local é seu diferencial como empreendedor.
O interesse dele sempre foi romper com a condição de exportador de matéria-prima e fazer o processamento da fruta aqui mesmo no país para agregar valor ao produto.
Brasileiro de coração e alma, o seu compromisso com a região amazônica o estimulou a criar um produto rentável sem prejudicar a floresta e beneficiar o pequeno produtor.
A empresa possui 130 fornecedores de frutas vindos agricultura familiar. Podemos aproveitar esta onda de valorização do Brasil para transformar a forma de empreender no país. Agora, é a hora de criarmos nossa própria cultura empreendedora.
* Mara Sampaio é psicóloga e especialista em cultura empreendedora. Publicado originalmente no Brasil Econômico.
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