Jornal Correio de Santa Maria
Insatisfeita com as críticas divulgadas por integrantes da reserva, presidente acionou o ministro Celso Amorim para dar um puxão de orelhas no grupo. Ação produziu o efeito esperado: entidade retirou o texto polêmico da internet
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Amorim se reuniu com a cúpula das Forças
Armadas para expressar a contrariedade da presidente
A presidente Dilma Rousseff, irritada com os militares da reserva pelas críticas polêmicas publicadas em nota contra o governo, acionou o ministro da Defesa, Celso Amorim, para que enquadrasse o grupo. Em plena quarta-feira de cinzas, Amorim convocou uma reunião com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, mais o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos de Nardi, e expressou sua contrariedade com o manifesto do Clube dos Militares, divulgado na semana passada.
A forte reação da presidente Dilma, materializada no puxão de orelha que Amorim deu nos oficiais, surtiu efeitos rápidos. Ontem, o site do Clube Militar publicou nota em que os presidentes da entidade “desautorizam” o texto anterior, que havia sido assinado por eles próprios.
Segundo um integrante da cúpula do Ministério da Defesa, durante a reunião, que levou à publicação da retratação, Amorim teria dito aos comandantes que o Clube Militar extrapolou no direito à manifestação ao fazer referência a uma atitude da presidente Dilma Rousseff, já que ela é a comandante suprema das Forças Armadas. “A crítica à presidente é inaceitável. Foi um erro grave do Clube Militar”, apontou o interlocutor do ministro.
Na nota, os presidentes dos clubes Naval, Militar e de Aeronáutica, todos oficiais da reserva, afirmam que a “preocupação” da presidente Dilma “em governar para uma parcela da população sobrepuja-se ao desejo de atender aos interesses de todos os brasileiros”. O texto cita as declarações da ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, ao Correio, em que ela afirma a possibilidade de condenações criminais contra torturadores a partir de informações coletadas pela Comissão da Verdade. Os militares atacam a presidente por não ter vindo a público “contradizer a subordinada”.
No entanto, o remendo foi considerado “lacônico” e, portanto, insuficiente. Horas mais tarde, após o Correio procurar porta-vozes do Clube Militar em busca de justificativa para o recuo, ambas as notas tinham sido retiradas do ar. Para pessoas próximas ao ministro da Defesa, a suspensão de qualquer menção ao tema no site teria deixado o chefe da pasta satisfeito. Punição Ontem, interlocutores palacianos afirmaram ao Correio que a presidente Dilma Rousseff ficou “extremamente contrariada” com a nota dos militares e telefonou para o ministro Celso Amorim para que tomasse providências. Na conversa, eles comentaram a “insubordinação” dos militares da reserva. O estorvo alcançou proporções tão grandes que, no governo, chegou-se a buscar a possibilidade de punição para os oficiais da reserva na legislação.
Ao final, ficou acertado que o Palácio do Planalto não se manifestaria oficialmente sobre o assunto e que a iniciativa de repreender os comandantes seria creditada ao ministro. A autonomia de Amorim em tomar esse tipo de atitude decorre de uma alteração na lei que rege a organização das Forças Armadas, de 2010. Desde então, o ministro da Defesa passou a exercer, legalmente, a direção superior das Forças Armadas. Como resultado da mudança, Celso Amorim não precisaria pedir permissão à presidente Dilma para atuar em situações de crise. Mas interlocutores da presidente asseguram que a iniciativa partiu dela: “O Celso Amorim fez isso a mando dela. Essa reação tem tudo a ver com o jeito Dilma de agir”, declarou uma fonte palaciana.
A estratégia seria uma forma de evitar mais atritos com as Forças Armadas, especialmente pela proximidade da instalação da Comissão da Verdade, que irá investigar, por um período de dois anos, violações dos direitos humanos cometidas durante a ditadura militar. A aprovação do projeto ganhou forte resistência de setores militares, que acusam a iniciativa de “revanchista”. Dilma Rousseff está analisando os nomes que irão compor a comissão, que deve começar os trabalhos de apuração em menos de três meses.
A avaliação dos próprios comandantes das Forças Armadas também é de que os oficiais do Clube Militar, apesar de não representarem os da ativa, exageraram. Pesou também, para a decisão de recuar, a possibilidade de embates com o governo prejudicarem a negociação de reajustes salariais da categoria.
Porta-voz O Clube Militar é uma instituição centenária, com sede no Rio de Janeiro, que congrega oficiais da ativa, da reserva remunerada ou reformados, com o intuito de estreitar os laços entre os integrantes das Forças Armadas. A entidade tem atuação em todo o país e são os oficiais da reserva que presidem os clubes. Essas associações costumam ser porta-vozes de manifestações políticas da categoria, já que os oficiais da ativa são proibidos de emitir declarações com teor político. Com extensa representatividade até o regime militar, após a democratização os clubes militares começaram a ter uma atuação esvaziada.
PARA SABER MAIS »Sanção em novembroPublicação: 24/02/2012 02:00
A presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que cria a Comissão da Verdade em 18 de novembro do ano passado, após uma longa negociação no Congresso. A maior dificuldade do Planalto foi driblar a oposição, que cobrava mais discussão e a inclusão de emendas ao projeto. Para aprovar o texto, uma força-tarefa formada pelos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e de Direitos Humanos, Maria do Rosário, atuou para convencer os líderes partidários.
A previsão é que a comissão seja instalada seis meses após a sanção da lei. Para isso ocorrer, a presidente Dilma precisa indicar os integrantes do grupo. A escolha dos nomes vem sendo discutida a portas fechadas com pessoas próximas à presidente. A tendência é de uma composição meio técnica e meio política. Historiadores, sociólogos e defensores de direitos humanos estão sendo avaliados, enquanto militares estão excluídos do rol de alternativas de Dilma Rousseff.
Pela lei, a Comissão da Verdade irá investigar violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. O foco, no entanto, será o regime militar, já que o período de pesquisas foi estendido devido a uma exigência dos setores militares. A partir da instalação, que deve ocorrer em menos de três meses, a comissão terá dois anos para investigar arquivos, coletar depoimentos e apresentar resultados.
MEMÓRIA »Uma relação turbulentaPublicação: 24/02/2012 02:00
Em agosto do ano passado, as Forças Armadas reagiram mal quando a presidente Dilma Rousseff indicou Celso Amorim para o Ministério da Defesa, no lugar de Nelson Jobim, demitido após um conjunto de declarações polêmicas. A pior reação veio do Exército, que já havia experimentado uma relação conflituosa com um ministro da Defesa escolhido entre os integrantes da diplomacia, o embaixador José Viegas, que ocupou a pasta no primeiro mandato de Lula.
Além disso, contribuiu para azedar a relação um histórico de desavenças entre Amorim e os militares, iniciado ainda durante a ditadura. Em 1982, Amorim foi demitido da direção geral da Embrafilme por causa de um filme que retratava a tortura no regime militar.
Em 2006, quando o presidente da Bolívia, Evo Morales, ordenou a invasão das refinarias de gás da Petrobras e a nacionalização da operação, a atuação de Amorim, então ministro das Relações Exteriores, foi considerada “entreguista” pelos militares brasileiros. Em 2009, a decisão do MRE de dar abrigo a Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, causou reação no Exército. Por fim, no episódio do terremoto no Haiti, em 2010, o pedido de Amorim ao Congresso para que fosse aumentado o número de militares brasileiros contrariou a cúpula das Forças Armadas.
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