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19/11/2012, Robert Fisk [de The Independent], em Information Clearing House - Journalistic Cliches: “Surgical Air Strikes”, “Rooting Out Terror”, and “Cyber-Terrorism” Cannot Conceal Reality
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O Hezbollah anunciou várias vezes que Israel abrira “as portas do inferno” ao atacar o Líbano. Yasser Arafat, que foi super-terrorista e, depois, super-estadista – quando capitulou nos jardins da Casa Branca – e depois voltou a ser outra vez super-terrorista, quando se deu conta de que fora enganado em Camp David, Arafat também falou de “portas do inferno” em 1982.
E nós, jornalistas, estamos escrevendo como ursos de circo, repetindo todos os clichês que usamos, sem parar, há 40 anos. O assassinato do comandante Jaabari foi “assassinato predefinido”, foi “ataque aéreo cirúrgico” – como outros “ataques cirúrgicos israelenses” que mataram quase 17 mil civis no Líbano em 1982; 1.200 libaneses, a maioria dos quais civis, em 2006; ou os 1.300 palestinos, a maioria dos quais civis, em Gaza em 2008-9, ou a mulher grávida e o bebê, assassinados também por “ataque aéreo cirúrgico” em Gaza semana passada – e os 11 civis assassinados numa casa em Gaza ontem. O Hamás, pelo menos, com seus rojões Godzilla, não se pretende atacante “cirúrgico”. (...)
Os ataques israelenses também visam a matar mulher, criança, qualquer coisa viva, em Gaza. Mas não se atreva a dizer tal coisa, ou você será nazista antissemita perigoso, praticamente o demônio, o mal, a perversão, tão assassino quanto o Hamás, com o qual (mas, por favor, nem pense em dizer tal coisa) Israel negociou muito, alegremente, nos anos 80s, sim, quando Israel encorajava o Hamás e seus homens a assumir o poder em Gaza, porque esse movimento decapitaria Arafat, o super terrorista exilado. A bolsa de mortes em Gaza está hoje em 16 mortos palestinos por israelense morto. E a proporção aumentará, é claro. Em 2008-9, a cotação foi 100 palestinos, para 1 israelense.
E os jornalistas estamos também ajudando a construir mitos. A última guerra de Israel contra Gaza foi fiasco tão completo – sempre “erradicando o terror”, claro – que as afamadas unidades de elite do exército de Israel não conseguiram sequer achar um soldado, um, capturado, Gilad Shalit, cuja libertação, são e salvo, foi trabalho, ano passado, não de Israel, mas do comandante Jaabari em pessoa.
Para a Associated Press, o comandante Jaabari seria “líder No. 1 na clandestinidade” do Hamás. Mas que diabo de “líder na clandestinidade” seria alguém perfeitamente conhecido, nome, endereço, data de nascimento, detalhes da família, anos de prisão em Israel, período durante o qual mudou de lado, do Fatah, para o Hamás?! Como?! Tantos anos de prisão em Israel não converteram ao pacifismo o comandante Jaabari, certo? Nada de lágrimas: homem que viveu pela espada morreu pela espada, destino que, claro, não preocupa os guerreiros do ar de Israel, enquanto matam civis, de longe, em Gaza.
Washington apoia o direito de Israel “autodefender-se”, em seguida, fala de uma neutralidade espúria – como se as bombas que Israel lança contra Gaza não viessem dos EUA, tão certo quanto os foguetes Fajr-5 vêm do Irã.
Enquanto isso, o lastimável, lamentável William Hague decide que o Hamás seria “principal responsável” pela mais recente guerra. Mas... de onde tirou essa ideia? Segundo o The Atlantic Monthly, o assassinato, por israelenses, de um palestino “mentalmente desequilibrado” que caminhou em direção à fronteira, pode ter sido o estopim da mais recente guerra. Há também quem suspeite que tudo tenha começado com o assassinato de um menino palestino, que seria ato deliberado de provocação. E há quem diga que o menino foi morto por israelenses quando um grupo de palestinos armados tentava cruzar a fronteira e foi impedido por tanques israelenses. Nesse caso, pistoleiros palestinos – talvez não do Hamás – podem ter sido o estopim de tudo.
E não há meio para deter essa loucura, esse lixo de guerra? É verdade que centenas de foguetes são lançados contra Israel. É verdade também que milhares de acres de terra são roubadas dos árabes, por Israel – para judeus e só para judeus – na Cisjordânia. Hoje, já não resta terra suficiente, sequer, para um Estado palestino.
Apaguem o parágrafo acima, por favor. Só há os mocinhos e os bandidos nesse conflito horrendo, no qual os israelenses dizem que são os mocinhos, para os aplausos dos países ocidentais (os quais, imediatamente, passam a perguntar-se por que tantos muçulmanos não gostam muito de ocidentais).
O problema, por estranho que pareça, é que as ações de Israel na Cisjordânia e o sítio de Gaza trazem cada dia para mais perto o evento que Israel diz temer todos os dias: Israel talvez se veja face à face com a própria destruição.
Na batalha dos foguetes – com os Fajr-5 iranianos e os drones do Hezbollah – os dois lados avançam por uma nova trilha de guerra.
Já não se trata de tanques israelenses que cruzam a fronteira do Líbano ou a fronteira de Gaza. Começamos a falar de foguetes e drones de alta tecnologia e de ataques cibernéticos – ou, “ciberterrorismo” quando a iniciativa é dos muçulmanos – e, cada dia que passa, a escória humana deixada aos pedaços à margem do caminho será ainda mais irrelevante do que é hoje e ao longo dos últimos três dias.
O despertar árabe começa a trilhar caminho próprio: os líderes terão de ouvir a voz das ruas. Desconfio que acontecerá também ao pobre velho rei Abdullah da Jordânia. A papagaiada dos EUA sobre “paz” ao lado de Israel, já não vale uma vela queimada, entre os árabes. E se Benjamin Netanyahu crê que a chegada dos primeiros foguetes Fajr do Irã exigirá um Big Bang israelense contra o Irã, e depois o Irã devolve os tiros – e, talvez, também os norte-americanos – e, no pacote, logo virá também o Hezbollah – e Obama acaba engolido em mais uma guerra ocidente-muçulmanos... Sim, mas... então... o que acontecerá?
Ora... Israel pedirá um cessar-fogo, o que Israel sempre pede, contra o Hezbollah. E pedirá outra vez o imorredouro apoio do ocidente em sua luta contra o mal do mundo, o Irã incluído.
E o assassinato do comandante Jaabari? Por favor, esqueçam que os israelenses estavam negociando com o próprio Jaabari, usando como intermediário o serviço secreto alemão, há menos de um ano. Não se negocia com terroristas, certo? Israel negocia.
Israel batizou o mais recente banho de sangue que promove em Gaza, de Operação Pilar da Defesa. Está mais para Pilar da Hipocrisia.
19/11/2012, Robert Fisk [de The Independent], em Information Clearing House - Journalistic Cliches: “Surgical Air Strikes”, “Rooting Out Terror”, and “Cyber-Terrorism” Cannot Conceal Reality
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Robert Fisk
Terror, terror, terror, terror, terror. Lá nos vamos, outra vez. Israel vai “extirpar o terror palestino” – o que, vale lembrar, Israel tenta, sem sucesso, há 64 anos – e o Hamás (...) anuncia que Israel “abriu as portas do inferno”, quando assassinou seu comandante militar, Ahmed al-Jaabari.
O Hezbollah anunciou várias vezes que Israel abrira “as portas do inferno” ao atacar o Líbano. Yasser Arafat, que foi super-terrorista e, depois, super-estadista – quando capitulou nos jardins da Casa Branca – e depois voltou a ser outra vez super-terrorista, quando se deu conta de que fora enganado em Camp David, Arafat também falou de “portas do inferno” em 1982.
E nós, jornalistas, estamos escrevendo como ursos de circo, repetindo todos os clichês que usamos, sem parar, há 40 anos. O assassinato do comandante Jaabari foi “assassinato predefinido”, foi “ataque aéreo cirúrgico” – como outros “ataques cirúrgicos israelenses” que mataram quase 17 mil civis no Líbano em 1982; 1.200 libaneses, a maioria dos quais civis, em 2006; ou os 1.300 palestinos, a maioria dos quais civis, em Gaza em 2008-9, ou a mulher grávida e o bebê, assassinados também por “ataque aéreo cirúrgico” em Gaza semana passada – e os 11 civis assassinados numa casa em Gaza ontem. O Hamás, pelo menos, com seus rojões Godzilla, não se pretende atacante “cirúrgico”. (...)
Os ataques israelenses também visam a matar mulher, criança, qualquer coisa viva, em Gaza. Mas não se atreva a dizer tal coisa, ou você será nazista antissemita perigoso, praticamente o demônio, o mal, a perversão, tão assassino quanto o Hamás, com o qual (mas, por favor, nem pense em dizer tal coisa) Israel negociou muito, alegremente, nos anos 80s, sim, quando Israel encorajava o Hamás e seus homens a assumir o poder em Gaza, porque esse movimento decapitaria Arafat, o super terrorista exilado. A bolsa de mortes em Gaza está hoje em 16 mortos palestinos por israelense morto. E a proporção aumentará, é claro. Em 2008-9, a cotação foi 100 palestinos, para 1 israelense.
E os jornalistas estamos também ajudando a construir mitos. A última guerra de Israel contra Gaza foi fiasco tão completo – sempre “erradicando o terror”, claro – que as afamadas unidades de elite do exército de Israel não conseguiram sequer achar um soldado, um, capturado, Gilad Shalit, cuja libertação, são e salvo, foi trabalho, ano passado, não de Israel, mas do comandante Jaabari em pessoa.

Ahmed al-Jaabari
Washington apoia o direito de Israel “autodefender-se”, em seguida, fala de uma neutralidade espúria – como se as bombas que Israel lança contra Gaza não viessem dos EUA, tão certo quanto os foguetes Fajr-5 vêm do Irã.

William Hague
E não há meio para deter essa loucura, esse lixo de guerra? É verdade que centenas de foguetes são lançados contra Israel. É verdade também que milhares de acres de terra são roubadas dos árabes, por Israel – para judeus e só para judeus – na Cisjordânia. Hoje, já não resta terra suficiente, sequer, para um Estado palestino.
Apaguem o parágrafo acima, por favor. Só há os mocinhos e os bandidos nesse conflito horrendo, no qual os israelenses dizem que são os mocinhos, para os aplausos dos países ocidentais (os quais, imediatamente, passam a perguntar-se por que tantos muçulmanos não gostam muito de ocidentais).
O problema, por estranho que pareça, é que as ações de Israel na Cisjordânia e o sítio de Gaza trazem cada dia para mais perto o evento que Israel diz temer todos os dias: Israel talvez se veja face à face com a própria destruição.
Na batalha dos foguetes – com os Fajr-5 iranianos e os drones do Hezbollah – os dois lados avançam por uma nova trilha de guerra.
Já não se trata de tanques israelenses que cruzam a fronteira do Líbano ou a fronteira de Gaza. Começamos a falar de foguetes e drones de alta tecnologia e de ataques cibernéticos – ou, “ciberterrorismo” quando a iniciativa é dos muçulmanos – e, cada dia que passa, a escória humana deixada aos pedaços à margem do caminho será ainda mais irrelevante do que é hoje e ao longo dos últimos três dias.

Praça Tahrir e o Despertar Árabe
Ora... Israel pedirá um cessar-fogo, o que Israel sempre pede, contra o Hezbollah. E pedirá outra vez o imorredouro apoio do ocidente em sua luta contra o mal do mundo, o Irã incluído.
E o assassinato do comandante Jaabari? Por favor, esqueçam que os israelenses estavam negociando com o próprio Jaabari, usando como intermediário o serviço secreto alemão, há menos de um ano. Não se negocia com terroristas, certo? Israel negocia.
Israel batizou o mais recente banho de sangue que promove em Gaza, de Operação Pilar da Defesa. Está mais para Pilar da Hipocrisia.
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