por André Singer, na Folha de S. Paulo
Ao fazer o gesto de entregar os cargos federais na quota do PSB, Eduardo Campos abriu, na quarta-feira passada, uma quinzena de definições sobre a sucessão presidencial de 2014.
Nos próximos dias, duas outras importantes balizas serão conhecidas: a opção de José Serra, que só poderá concorrer pela legenda a que estiver filiado no sábado, 5 de outubro, e se Marina Silva conseguirá, até a mesma data, registrar a Rede ou vai se matricular em outra agremiação. Joaquim Barbosa, por ser magistrado, pode se filiar até abril do ano que vem.
Com tais dados, começa a se delinear o panorama dos nomes na disputa e também o tabuleiro partidário em que irão se mover.
A decisão de devolver os postos indica que, na avaliação do governador de Pernambuco, a recuperação da popularidade presidencial não irá muito longe, prenunciando um cenário em que conviria guardar distância do atual governo. Optou por diferençar-se à direita, estabelecendo programa de corte liberal contra as opções desenvolvimentistas de Dilma. Não sei se Arraes aprovaria.
Ao mesmo tempo, o neto do velho líder populista afirma manter o apoio parlamentar a Rousseff, pois não pode afastar-se a ponto de inviabilizar aquele que é o fulcro de seu projeto.
Com 6% das intenções de voto, sabe que, sustentado unicamente pelo PSB (e talvez pelo PPS, a depender da decisão de Serra), não irá muito longe agora. Por isso, está, na realidade, construindo o caminho para 2018 e quer ficar em uma situação que lhe permita pular em qualquer das canoas no provável segundo turno de 2014.
Em condições normais, a presidente já está no segundo turno. Mas aí a peleja pode ficar apertada. Por exemplo, uma eventual unidade oposicionista do PSDB e da Rede em torno de Aécio ou Marina deixaria Campos na invejável condição de fiel da balança.
Com esse trunfo na mão, poderia barganhar com qualquer dos concorrentes uma posição interessante para a eleição seguinte.
O pacto pré-eleitoral com Aécio e, ao mesmo tempo, a relação privilegiada que mantém com Lula indicam que o seu apoio a qualquer dos blocos não será automático.
Penso que o verdadeiro sonho de consumo do pernambucano é tornar-se herdeiro do lulismo. Mas para tal, precisa fazer esse arriscado jogo duplo. De um lado, ameaçar bastante os gigantes PT e PMDB, obrigando-os a lhe abrir espaço. De outro, manter-se sempre de bem com Lula.
Muitíssima água ainda vai correr por baixo das pontes de Recife, mas quem sabe, várias jogadas adiante, Campos possa, por exemplo, se tornar vice do criador do lulismo. Tendo apenas 48 anos, bem pode esperar dez para chegar à Presidência.
André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
Viomundo
Ao fazer o gesto de entregar os cargos federais na quota do PSB, Eduardo Campos abriu, na quarta-feira passada, uma quinzena de definições sobre a sucessão presidencial de 2014.
Nos próximos dias, duas outras importantes balizas serão conhecidas: a opção de José Serra, que só poderá concorrer pela legenda a que estiver filiado no sábado, 5 de outubro, e se Marina Silva conseguirá, até a mesma data, registrar a Rede ou vai se matricular em outra agremiação. Joaquim Barbosa, por ser magistrado, pode se filiar até abril do ano que vem.
Com tais dados, começa a se delinear o panorama dos nomes na disputa e também o tabuleiro partidário em que irão se mover.
A decisão de devolver os postos indica que, na avaliação do governador de Pernambuco, a recuperação da popularidade presidencial não irá muito longe, prenunciando um cenário em que conviria guardar distância do atual governo. Optou por diferençar-se à direita, estabelecendo programa de corte liberal contra as opções desenvolvimentistas de Dilma. Não sei se Arraes aprovaria.
Ao mesmo tempo, o neto do velho líder populista afirma manter o apoio parlamentar a Rousseff, pois não pode afastar-se a ponto de inviabilizar aquele que é o fulcro de seu projeto.
Com 6% das intenções de voto, sabe que, sustentado unicamente pelo PSB (e talvez pelo PPS, a depender da decisão de Serra), não irá muito longe agora. Por isso, está, na realidade, construindo o caminho para 2018 e quer ficar em uma situação que lhe permita pular em qualquer das canoas no provável segundo turno de 2014.
Em condições normais, a presidente já está no segundo turno. Mas aí a peleja pode ficar apertada. Por exemplo, uma eventual unidade oposicionista do PSDB e da Rede em torno de Aécio ou Marina deixaria Campos na invejável condição de fiel da balança.
Com esse trunfo na mão, poderia barganhar com qualquer dos concorrentes uma posição interessante para a eleição seguinte.
O pacto pré-eleitoral com Aécio e, ao mesmo tempo, a relação privilegiada que mantém com Lula indicam que o seu apoio a qualquer dos blocos não será automático.
Penso que o verdadeiro sonho de consumo do pernambucano é tornar-se herdeiro do lulismo. Mas para tal, precisa fazer esse arriscado jogo duplo. De um lado, ameaçar bastante os gigantes PT e PMDB, obrigando-os a lhe abrir espaço. De outro, manter-se sempre de bem com Lula.
Muitíssima água ainda vai correr por baixo das pontes de Recife, mas quem sabe, várias jogadas adiante, Campos possa, por exemplo, se tornar vice do criador do lulismo. Tendo apenas 48 anos, bem pode esperar dez para chegar à Presidência.
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