Indignação contra dinastia Sarney é justa. Mas todos os dados demonstram: São Paulo, sob os tucanos, estagnou ainda mais

Por Antonio Martins e Cauê Ameni

O Maranhão e os Sarney — pai e filha — estiveram no foco dos holofotes da mídia (e das redes sociais) esta semana. Cenas bárbaras de assassinatos, decapitações e outras crueldades circularam amplamente. Foram identificadas, corretamente, como um sinal do marasmo que o Estado amarga desde 1966, quando o José Sarney assumiu as rédeas do Estado, sendo sempre sucedido (com raras interrupções) por correligionários e parentes.

Será correto atribuir inteiramente o atraso social e econômico de um Estado a seus governantes? É questionável; mas, ao menos parcialmente, correto. Embora o poder dos dirigentes não seja absoluto, há, em todo o mundo, exemplos notáveis de nações em que os índices mudaram substancialmente, após reviravoltas políticas. Nos países nórdicos, por exemplo, a adoção de políticas de bem-estar social, desde o início do século 20, levou à construção de algumas das sociedades mais igualitárias e dignas conhecidas até hoje. Já na Rússia, sob o governo Yeltsin, que conduziu a restauração capitalista, até mesmo a expectativa de vida declinou quase dez anos.

Mas se é assim, seriam os Sarney os governantes mais atrasados do Brasil? Ou haverá interesses empenhados em demonizá-los e, principalmente, em obscurecer os resultados alcançados por dinastias ainda mais nefastas? Para tirar as dúvidas, nada melhor que recorrer aos dados estatísticos. Há inúmeros, disponíveis — e estudos de profundidade serão bem-vindos. Uma primeira abordagem é comparar um indicador que se transformou, há décadas, em referência mundial de desenvolvimento humano: o IDH, concebido pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq e adotado pela ONU desde 1990. Sua força está em ser um índice agregado. Compara, ao mesmo tempo, três dados relevantes: expectativa de vida, acesso à Educação e renda.

Que revelaria um estudo que comparasse a evolução do IDH do Maranhão com… a de São Paulo, o Estado mais rico do Brasil? Infelizmente, não é possível retroceder até 1966, quando José Sarney assumiu o governo maranhense. Mas é perfeitamente possível utilizar, por exemplo, os dados das duas últimas décadas — 1991 a 2010. Dos vinte anos compreendidos neste período, os tucanos governaram os paulistas durante quinze anos: desde 1995, sucederam-se no Palácio dos Bandeirantes Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. No Maranhão, José Sarney e seus aliados ou parentes também reinaram em todo o intervalo — à exceção dos dois anos e meio em que governou Jackson Lago (PDT).

E quais foram os resultados sociais? O IDH do Maranhão evoluiu, entre 1991 e 2010, de 0,357 para 0,639 — ou seja, 79%. Já o indicador de São Paulo passou de 0,578 para 0,783 — um avanço de 35%, duas vezes menor. Entre 27 unidades federativas, aliás, a antiga “locomotiva da nação”, foi a 25ª, no quesito evolução do IDH.

São números definitivos? Certamente não. É, sabidamente, mais difícil avançar a partir de um IDH mais alto. Seria muito interessante contar com a colaboração dos leitores para vasculhar um conjunto de indicadores capaz de compor um estudo comparativo que levasse em conta dados como Saúde, Educação, Sistema Prisional, Habitação, Longevidade e outros. Mas as primeiras análises parecem revelar que, muito provavelmente há, no Brasil, estados mais estagnados que o Maranhão…

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